terça-feira, 19 de julho de 2016

A entradinha não segue os pragmáticos

Seria bom contar como foi a recepção de dona Maria José à equipe do Fórum Carajás (Edmilson Pinheiro, Mayron Régis e Vicente de Paula) no dia oito de julho de 2016. A equipe desceu a Chapada do povoado Brejão, municipio de Buriti,  por uma ladeira, que um carr baixo podia encarar, vindo pelo povoado Capão. Nem se compara à ladeira do povoado Brejinho, que de tão ingreme quem desce quase fica por lá mesmo. 
Os membros da equipe pegaram a estrada direto, mas duvidaram um pouco de si mesmos tendo em vista a presença de uma entradinha à esquerda. Bem provável que fosse aquela entradinha. Decidiram continuar em frente. Qualquer coisa, retornariam na mesma batida e retornaram. A estrada se contorcia e Vicente de Paula não reconhecia a casa do seu Ferreira. Esqueceu rápido, o Vicente. Pelo visto, fora num pé e voltara no outro sem memorizar direito. Um tio de casa, e eles perguntaram a um morador. Onde se enganaram ? A entradinha despretensiosa que ficara para trás. Obedeceu-se a uma lógica pragmática e a entradinha não segue os pragmáticos. 
O seu Ferreira e dona Maria José se recolheram para uma parte afastada do Baixão. Em Brejão, o babaçual completa o cenário por todos os lados. A dona Rita, esposa de Vicente de Paula, no auge de sua juventude quebrou muito coco babaçu no Brejão. Os proprietários de terra em Buriti, nessa época, tributavam qualquer produção dos agricultores. Um proprietário, geralmente dono de comércio, pagava um real quando o certo era pagar dois reais por um quilo de amêndoa de coco babaçu. Segundo Vicente de Paula, bate uma saudade de tempo de escravidão no peito dos proprietários.
Antes, descia-se ao Brejão pelo povoado Belém. Sai quase na porteira do seu Ferreira. Mayron e Vicente se aproximaram e chamaram os moradores da casa. Não houve resposta. Edmilson ficara atrás e fotografava o babaçual.  Maria José apareceu. O ferreirinha, esposo dela, procurava a mula da familia que escapulira. Ela abriu a porteira assim que notou o Vicente. Os três aguardaram um pouco enquanto ela trazia cadeiras e varria  varanda. A presença dos homens modificaria a sua rotina por alguns minutos. Pode-se dizer que Vicente era de casa, visto que conversara com o casal a respeito do grupo João Santos dias atrás.
Nessa conversa, o casal contara tudo que sabia sobre a questão fundiária da Chapada e do Baixão e os interesses econômicos do grupo João Santos no Brejão.
Sem o marido se fazer presente, dona Maria Hosé repisou os fatos. Os herdeiros do grupo planejam se desfazer de vários ativos. Vender a quem e dispor pagar. A empresa comprou o Brejão nos anos 90 das mãos do Pedro Novaes, ex-deputado federal do Maranhão. Não fez nenhum uso produtivo da área  a não ser desmatar as espécie nativas do Cerrado cujo destino era o forno de sua fábrica de açucar em Coelho Neto e a não ser impedir que os agricultores plantassem suas roças. O seu Ferreira roçou a Chapada por três vezes sob "fogo cerrado" da empresa. 
"Fogo Cerrado" oferece uma bela ironia. O grupo João Santos corta as espécies do Cerrado e chama a policia na hora em que se vê "ameaçada" pelos agricultores que roçam e queimam a Chapada para plantarem suas mandiocas. O Vicente de Paula, durante o bate papo com dona Maria José na varanda, elegeu a mandioca como  principal cultura produtiva para os moradores do Brejão e adjacências. 
A Chapada do Brejão compreende quase três mil hectares que não interessam mais ao João Santos, mas interessam ao André Introvini, plantador de soja. Caso compre a área baixa do Brejão, o André engole a Chapada num documento só e, detentor de três mil hectares, desmata áreas de maior potencial potencial para plantios de soja como a Chapada da Cacimba. Só que o moradores do Brejão não querem nem saber de sair dos seus terreiros.   

Mayron Régis

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