segunda-feira, 11 de abril de 2016

Visita a Buriti





                  Agradeço ao convite de Mayron Régis para que eu pudesse conhecer in loco a comunidade Carrancas, em Buriti, e especificamente, a família do Vicente que nos recepcionou com maestria, não deixando que algo escapasse ao conforto do visitante. Foram quase dois dias de especiais convivências que valeram ao somatório das viagens realizadas por mim. Destaco a simpatia e generosidade de Rita, e a alegria e esperanças das crianças Arthur e Fernanda.
                       Ao chegar naquela casa, conhecer a propriedade da família, deparei-me com tantas frutíferas, dentre estas posso destacar as centenas de bacurizeiros. Além dos alimentos produzidos como farinha d’água, farinha seca; os cultivados, como arroz, feijão, mandioca; e também a criação de aves, e suínos, em uma produção integrada que se autogeri e se mantém. Chamou-me a atenção as possibilidades de projetos e sonhos naquelas veias que não desistem frente a todos os desafios postos. A área do Vicente me fez pensar o quanto a comunidade tem disponível a terra fértil, água, e mata abundante. Assim representou minha primeira percepção.
                Porém, o segundo olhar me fez parar, travar, e reiterar o título “De tudo quase nada”, definido por Mayron em seu último livro para representar a real situação daqueles moradores, nativos da região do Baixo Parnaíba.  Refiro-me aos desafios que os tornam ilhados, cercados pela monocultura da soja, ou como diz pe. Humberto “a sujeira da soja” associada aos interesses escusos inerentes a selvageria do capital e suas relações de poder vigentes. O descaso intencional do poder público local e a invasão de produtores sulistas empurram a comunidade a duas situações: a expulsão legalizada, quer seja pela venda irrisória de suas áreas, pela grilagem, ou pela violência; ou ao enfrentamento, de quem se sente pertencer àquele lugar e acredita que o ‘quase nada’ ou ‘o que resta’ insiste mostrar que nesta guerra não vence somente os que têm barris de pólvora, mas os que lutam utilizando as armas da sua dignidade, coragem, fé, com a demonstração do que é possível ser feito.
              Como uma injeção de ânimo, destravo, e sigo em frente ao observar que existem nas microrrelações e/ou pequenas relações comunitárias forças, e que as pessoas se animam para continuar suas vidas e experimentarem novos ensaios. Salvar a grota, recuperar e permitir que os bacuris se reproduzam, criar catraios (galinha d’angola), e possivelmente bodes, encontrar novos apoiadores, e reconstituir-se o corpo são o marco para que o ‘quase nada’ torne-se o tudo para muitos.

Denise Privado

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