Bem antes do meio dia. Baixinho,
ou melhor, Antonilson, mecânico de
Anapurus, sentencia: “Em terra alheia, não se reclama de nada.” Ele se referia
a uma sequencia de musicas que a dona da casa não cansava de escutar. Música
sertaneja. Zeze di Camargo e Luciano. E outros mais que ninguém se deu ao
trabalho de guardar os nomes. O Baixinho gostava de tecno brega. Paraense. De Rondon
do Pará. Enquanto olhava o problema do carro, Baixinho perguntava: “Quem compra
um cd desses ?” A Doura, dona da residência de onde vinha a musica, aproximou-se
e ele renovou a pergunta. Ela sorriu meio sem-graça e perguntou para o rapaz ao
lado do Baixnho: “Você está gostando?” Não teve coragem de responder. Não
queria desafortuna-la. Tão prestativa. Permitiu que estacionassem o carro, que
quebrara a correia dentada na noite anterior, à porta de sua casa. No dia
seguinte, eles retornaram com o Baixinho. Ela brincou : “Vão levar meu carro
que ganhei de presente?”. De cinco em cinco minutos, ela e sua prima queriam
saber se eles desejavam algo ou então queriam saber simplesmente “ Isso que é
um macaco de um carro?” Por fim, a Doura anunciou que o almoço ficara pronto e
que eles estavam convidados para comer uma galinha caipira. A principio, o dono
do carro se mostrou pouco receptivo. O Baixinho recomendou que ele comesse,
pois o serviço ainda demoraria uma hora. A Doura convidou mais uma vez e ele cedeu.
A sua resistência se devia aquela lenga lenga tradicional: “Não quero dá
trabalho”. Ele não expôs o que pensava. Seria deselegante. Ele queria mais era
ver o serviço terminado e raciocinar como faria para comprar as peças e
retornar a Agua Rica, povoado de Anapurus. A galinha caipira serviu como
relaxante para todos. Doura e sua prima não precisavam relaxar mais nada de
tanto escutarem sertanejo e brega. Logo depois do almoço, Baixinho voltou ao
batente e um deles procurou a Doura se ela, porventura, fora à ou passara pela
comunidade de Areias. “Sim, conheço lá. É município de Buriti. Por que você
quer saber?” “ Tenho um conhecido que
mora lá.” Na verdade, não era bem um conhecido. Só o vira uma vez. Na casa de Vicente de Paula. Povoado Carrancas. Durante uma reunião, na qual se decidiria pela criação ou não da Associação dos Moradores das Nascentes do Rio Preto. As comunidades da Matinha, do Araça, do Marajá, do Capão, das Carrancas e da Cacimba se fizeram presentes desde o inicio. O seu Ataliba chegou bem no final da reunião. O Vicente de Paula topara com ele em Buriti semanas atrás quando fora apresentar sua demanda de regularização fundiária ao Iterma. O Ataliba pleiteava a mesma coisa. Falaram-se por alguns minutos e Ataliba comentou sobre sua Chapada, seus bacurizeiros e sobre um mel que as abelhas fabricam a partir do pólen do bacurizeiro. Ele herdou 200 hectares do seu pai. Desde 1998, o Ataliba resiste às investidas do Andre Introvini, plantador de soja, que pretende tomar a sua Chapada.
Mayron Régis
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