“O
assassinato de Antônio Isídio é revoltante. Foi uma tragédia anunciada.
Nos últimos três anos denunciamos diversas vezes as ameaças sofridas
por ele e a violência decorrente de conflitos agrários na região de
Codó, no Maranhão. E as autoridades – em todos os níveis – não tomaram
nenhuma medida para garantir a segurança dessas pessoas. O preço da
inação do estado, como em tantos outros casos, foi a morte anunciada de
Antônio Isídio. Isso é inadmissível”, afirmou Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil.
Assim como
muitos casos de assassinatos de lideranças rurais mortas em
consequência do conflito por terras e recursos naturais, este caso corre
o risco de permanecer impune. Não houve instauração de inquérito
policial sobre o caso e a morte de Antônio Isídio não está sendo
investigada. O registro de óbito não foi feito e não foi realizada
qualquer perícia sobre o corpo, que foi enterrado em uma “cova rasa”
envolto em uma rede e um saco plástico.
“Não
podemos deixar que este caso fique impune. A não responsabilização dos
casos de assassinatos de lideranças rurais alimenta o ciclo de violência
no campo. As autoridades do estado do Maranhão devem garantir uma
investigação imediata do caso. O Maranhão é um dos estados que apresenta
maior número de pessoas mortas em decorrência de conflitos no campo e
quase nunca há justiça para as lideranças assassinadas”, afirmou Roque.
Em
parceria com a Comissão Pastoral da Terra no Maranhão, a Anistia
Internacional acompanha este caso há cerca de três anos. Em 2013, a
Anistia Internacional já havia denunciado as ameaças sistemáticas que
Antônio Isídio e outras famílias da comunidade de Vergel vinham
sofrendo. Em dezembro de 2012, um homem armado fez disparos perto da
casa de Antônio Isídio matando os animais. Em Janeiro de 2013, a capela
local foi queimada, impedindo que a comunidade fizesse as homenagens ao
líder comunitário Raimundo Pereira da Silva, que foi assassinado em
2010. Desde então, várias ameaças de morte foram feitas à Antônio Isídio
e à comunidade de Vergel.
O Programa
Nacional de Proteção a Defensores de Direitos Humanos chegou a visitar a
comunidade de Vergel em 2013 e a entrevistar Antônio Isídio. No
entanto, nenhuma medida foi adotada para garantir a sua segurança.
As
ameaças, ataques e assassinatos de trabalhadores rurais e lideranças
comunitárias no campo é consequência do histórico conflito por terra e
recursos naturais que assola o estado do Maranhão. À medida que a
fronteira agrícola avançou para o interior, povos indígenas, quilombolas
e comunidades rurais de pequenos agricultores no estado ficaram sob
pressão crescente de grileiros de terra, fazendeiros e madeireiros
ilegais. O conflito violento tem sido endêmico na região por muitos
anos.
O
assassinato de Antônio Isídio revela uma falha sistêmica das autoridades
no enfrentamento dos conflitos no campo e na garantia de proteção às
comunidades rurais e quilombolas no país. Apenas em 2014, 36 pessoas
foram assassinadas em decorrência de conflitos no campo, segundo os
dados da Comissão Pastoral da Terra.
A Anistia
Internacional reitera sua demanda às autoridades estaduais e federais
para que garantam uma investigação adequada da morte de Antônio Isídio
Pereira da Silva, garantam a proteção imediata de seus familiares e da
comunidade de Vergel e adotem medidas de longo prazo para acabar com a
grilagem de terras, a extração ilegal de madeira e a violência
decorrente dos conflitos agrários na região de Codó.
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