terça-feira, 6 de abril de 2010

As Chapadas e os bacuris

O homem vê a arvore e só vê a madeira e seus potenciais supra-econômicos como o carvão vegetal e a celulose. Um homem só representando uma empresa. O nome desse homem será varrido da memória assim como o nome da empresa. Ela compra terras com inumeráveis promessas, para que as pessoas a reconheçam em qualquer esquina. Só que a esquina muda, as pessoas mudam e o clima muda. Com a compra efetuada, obter-se-ão as licenças para desmatar a Chapada e seus portentosos bacurizeiros. Um documento assinado por um funcionário da secretaria de meio ambiente pouco afeito ao contato e pouco afeito a distâncias. A sua assinatura vale milhares de hectares de Cerrado ainda em pé. Os pés balançando seus frutos. Os pés que os modificam. O homem que vê a árvore e os frutos. Ele recolhe os frutos do chão. O chão onde seus familiares moram. O chão que ele pisa. O chão, que sem bacuris, o expulsará mais cedo ou mais tarde.

Quando o homem caminhar pela Chapada em qual árvore ele se encostará? Qual árvore estenderá sua sombra sobre seu corpo o protegendo do sol? Quem o alimentará em sua caminhada, afinal os bacuris que caiam no chão ano após ano simplesmente não caem mais por mais que chova bem? O que salva da expansão da fronteira agrícola sobre as áreas de Cerrado do Baixo Parnaiba? Talvez, a memória do sabor dos bacuris em cima de um caminhão para vender em algum centro urbano ou as jornadas por sobre as Chapadas antes que elas virassem carvão.

Para Alberto Manguel de "Os Livros e os Dias".

Mayron Régis

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