domingo, 17 de novembro de 2024

Os ensaios

Como não se tocara para isso ? Machado de Assis era romancista contista cronista e também era ensaísta. Por um mero acaso descobrirá essa habilidade. Um amigo trouxe uma edição capa dura constando várias crônicas de Machado com a intenção de lhe vender. "Ah, pensou, tenho tantos livros de Machado...". O amigo tanto insistiu que lhe convenceu. Folheou o livro despretensiosamente. Nada em Machado e despretensioso. Tudo tem uma razão. Quem sabe algum dia alguém crave determinado ano como o ponto de partida da carreira de Machado. Com certeza, essas crônicas da década de 60 do século XIX, ele tinha um pouco mais de vinte anos, podem ser analisados enquanto um dos pontos de partida. Tem tudo lá do que se habituou a ler em sua obra madura: o cinismo, a ironia, a dissimulacao, a caricatura, a hipocrisia, a análise política, a visão universal e etc. O que e bom na leitura dessas crônicas e observar algo que ele perdera com o tempo, o caráter ensaísta resultado do contato com autores gregos romanos e franceses e ingleses dos séculos XVII e XVIII tipo o ensaísta frances Montaigne. Ensaio e como se fosse iniciasse uma jornada por um caminho que se multiplicará por cem durante a narrativa sem ter que chegar a uma conclusão. Em muitos casos, a conclusão e o que menos importa no ensaio. Duas grandes obras literárias brasileiras são ensaios disfarçados de jornalismo ou romance: os sertões de Euclides da cunha e grande sertão veredas de Guimarães rosa.

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