domingo, 17 de novembro de 2024

As palavras certas na Amazônia

O que as pessoas querem? O que as pessoas mais querem? Ele queria a sensibilidade de presenciar o rio negro e suas margens na cidade de Manaus e poder dizer algumas palavras. Queria a sensibilidade de se mortificar pelos bancos de areia que apareceram devido a intensa estiagem que a região amazônica enfrentava. A sensibilidade para ser bem transmitida requer as palavras certas que podem ser lidas em um livro ou podem ser ouvidas das bocas de homens e mulheres simples. As palavras certas não ficam na superfície da terra e das águas. Elas se agarram a terra e as águas para de lá não saírem mais. As palavras certas que procurava estavam nos sebos e nas livrarias. Um amigo lhe informara de uma banca de livros do lado direito do principal teatro de Manaus. Não tinha errada. O único erro foi que a banca só abria quatro da tarde. Enquanto aguardavam a abertura encaminharam se para o mercado municipal. Rio e mercado na maioria das cidades são umbilicais. Chegaram tarde e não puderam provar o açaí amazonense. Ouvira diversas vezes que o açaí de uma comunidade se diferencia de uma outra comunidade por mais próximas que fossem. Enfim, não pode sentir a singularidade do açaí fabricado e comercializado no mercado. Fizeram o caminho de volta e viram a banca de livros aberta. Passou a vista e os dedos pelas prateleiras e pelos livros. Constatou o nome Milton Hatoum. Lera um único livro dele. Sentiu se pequeno perante a enormidade do autor. Precisaria ler mais Milton Hatoum e outros escritores do estado do Amazonas para quem sabe ter liberdade na hora de escrever sobre os rios os barcos os peixes os agricultores os indígenas as chuvas a pupunha o tucumã os acaizais os bejus os pirarucus os tambaquis os pássaros as pimentas as roças os cordões sem parecer um impostor.

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