terça-feira, 16 de junho de 2020

Veludo Azul e o cinismo das aparencias


Seria muito exagero eleger a década de 80 como a década em que o cinismo prevaleceu em todas as esferas publicas e privadas da vida humana? O cinismo pode não ter prevalecido, mas estava presente em politicas implantadas por vários governos em seus respectivos países. O caso Irã Contras é bem representativo do cinismo que campeou para quem quisesse experimentar. O governo do republicano Ronald Reagan fez uma operação que financiava de maneira ilícita as ações de grupos de direita que tramavam derrubar o governo sandinista da Nicaragua. As investigações do congresso americano pararam na figura do coronel Oliver North que assumiu a culpa pela transação que financiava a compra de armas para os contra revolucionários nicaraguenses numa operação que envolvia os Estados Unidos republicano e o Irã dos Aiatolás. O cinismo das elites politicas americanas se estende para a produção artística. O filme Veludo Azul de David Lynch, produzido em 1986, usa a estética do filme noir, característico dos anos 50, para analisar a sociedade americana dos anos 80. As aparências enganam ou querem enganar, mas o filme é um pastiche de vários gêneros cinematográficos que vigoraram por décadas. Veludo Azul vive de aparências ou seja ele pega as características do cinema clássico e transforma em suas. Nada mais cínico que isso. Vender algo que é fora de sua essência. Veludo Azul é uma investigação estética do rigor das aparências em uma sociedade que se habituou a viver por essas e viver dessas aparências.  

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