terça-feira, 14 de abril de 2020

o que se sabia

O que se sabia e o que não se sabia. Caira muita chuva no inverno de 2020 no nordeste maranhense. Os córregos, de uma hora para outra, enchiam-se de tal forma que chegavam devagarzinho a cobrir o que viam pela frente. As águas dos córregos viam galhos, troncos de arvores, folhas, sementes, plantios de arroz e feijão, capim, animais amarrados ou soltos, moradas simples ou casarões, pontes, estradas, bares, pessoas cavalgando, pessoas pescando, pessoas em pé perscrutando o tempo e etc.  Sob o efeito das chuvas, as águas dos córregos enxergavam o que viam pela frente como se deixassem tudo para trás. Elas cobriram as pontes que ligam povoado a povoado e município a município. O que fazer nesses casos?  O Raimundo, morador de Juçaral e presidente da associação do povoado, município de Urbano Santos, atravessava as pontes com a certeza que não despencaria no córrego ou no rio. Ou o corrego não o queria ou ele não queria o córrego. Os moradores que vivem a beira de rio ou percorrem as longas estradas que cortam os corregos e os rios nos municipios de Chapadinha, Mata Roma e Urbano Santos celebram acordos diários com a força da natureza. O rio Preto nesse cenário de muita chuva tanto transmite o esplendor dessa força como gera dúvidas quanto a sair ou não sair de casa. As casas, na zona rural do Maranhão, ainda são construídas com sapé ou adobe e palhas de babaçu para cobri-las. O Babaçu alimentou e cobriu muita gente por vários anos quando não havia o que comer. O caso de uma família do povoado Fernandes, município de Urbano Santos, é revelador do quanto se passou fome no Maranhão entre as décadas de setenta e oitenta. A família, amiga do Raimundo e parente da mulher deste, assim que chegou a região, e criou laços, quebrou coco babaçu a fim de se alimentar do mesocarpo pois não havia comida em canto algum. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário