sexta-feira, 5 de maio de 2017

Bacabal


O Viajante atravessava as chapadas do Bacabal no Baixo Parnaíba maranhense, em direção às comunidades tradicionais das margens do Rio Preto, o rio que pede socorro! Ele parava perto do Riacho Seco nas imediações da grota da Bicuíba -, escutava o som dos pássaros... O som do vento! Ele dobrava sua velha motocicleta para as bandas da comunidade Bacabal - a vista do eucalipto e do cerrado todo verde contradizia em paradoxo a realidade de duas faces totalmente diferentes, uma com gente, animais e toda biodiversidade crescente e a outra sem gente, com veneno e agrotóxicos. Em 2013 o conflito se arrastara por lá, as chapadas foram provas da luta que se transformaram num sonho. A terra ainda está em processo de desapropriação pelo INCRA – umas 1.500 hectares e também uma sobra de terras devolutas do estado que deve ser incluída no projeto. O objetivo é distribuir a terra para as famílias de agricultores que trabalham e produzirem seus alimentos, por isso foi realizado na comunidade um seminário com assuntos relacionados a reforma agrária.
O medo ainda mora nas veredas do Bacabal e nos caminhos de Santa Rosa, a lembrança dos desacatos naquela época que tentou amedrontar os trabalhadores rurais, não conseguiu seus objetivos. A família dominante se diz dona, venderam parte da terra para interesse próprio, pois as leis mudaram de curso e quem? A legislação fundiária diz que quem “mora um ano e um dia numa determinada terra” – já tem direito a ela. A legitimação de posse de terras sempre foi uma questão polêmica desde séculos remotos e ainda nos dias de hoje continua sendo; as “práticas de lutas conceituam serviços de instrumentos para a efetivação de direito a moradia e sobretudo a produção na agricultura familiar”. A realidade agrária em nosso país nunca foi resolvida e a cada dia tem uma coisa diferente. Com essas transformações de reformas e PECs, as questões só pioraram para os homens e mulheres do campo, povos e comunidades tradicionais.
A luta de 2013 em Bacabal foi uma prova de demonstração de forças medida entre a associação de moradores e os latifundiários que se dizem donos da área. A Constituição de 1988, deixa claro sobre a função social da terra; se ela não está cumprindo sua função social, deve portanto ser ocupada e desapropriada para fins de reforma agrária.
Questões inerentes a terra tem sido tratada com atenção pelas esferas de governos, sem resolverem nada, infelizmente! Vista pelos setores capitalistas como forma de expropriação e lucros; o capitalismo no campo tenta passar por cima de tudo, inclusive das comunidades tradicionais para atingir seus objetivos econômicos. Muitas são as grandes áreas de terra em nossa região que foram tomadas e arrecadadas para o bem pessoal de empresas e grupos de latifundiários; as famílias influentes. O Baixo Parnaíba passa por uma crise de terras, as comunidades lutam pelos seus direitos sociais de acesso a terra, mas ainda falta muita informação e organização para se avançar, pois o agronegócio é muito forte e tem o apoio dos governos.
A luta do Bacabal tem se constituído para o reconhecimento de posse que tramita no INCRA, acompanhado pela FETAEMA, “Fórum Carajás” e por outros órgãos competentes, a associação aguarda respostas. As chapadas da região são grandes produtoras de bacuris e outros frutos do cerrado, apesar dos problemas socioambientais da capitação de madeira ilegal e de queimadas constantes na época do verão.
O Viajante concretizaria sua tarefa naquele dia, ele ficaria mais um tempo por lá, adentrava na aldeia Bacabal, as casas de palha ao redor do campo, sob o fundo as margens do rio, muitos animais: porcos, galinha, cabras e gado. Os moradores vivem felizes em seu lugar de origem, muitos não sabem dos seus direitos sociais, nem todos sabem ler... A maioria são analfabetos, mas são personagens de nossas histórias e projetos na luta pelo desenvolvimento social. As crianças brincam felizes debaixo do pé de jatobá – a árvore que chama a atenção de quem o visita, as crianças sonham com um mundo melhor, sem exploradores e explorados – precisam reconhecer a história de seu povo e da importância da terra. O Viajante passara alguns dias sem voltar para a cidade. Pois era tempo de arroz novo nas roças e ele foi convocado pelos camponeses para o trabalho coletivo da colheita.


José Antonio Basto

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