A estrada era
paralela ao nível do Rio Mocambo. O Viajante se juntava a um grupo de amigos
sindicalistas e militantes voluntários do MSTTR que se dirigiam à comunidade
Sapucaia para uma ação social destinada à família do José. O lugar fica
exatamente no encontro do Rio Preto com o Rio Mocambo.
A velha toyota bandeirantes
daquelas que não se fabricam mais, cortava a areia alinhando geograficamente
nove léguas de distância, os babaçuais apareciam logo na frente – os entraves
dos caminhos também. Praticaria os trajetos pelos antigos caminhos dos Povoados
Porto Velho, Escuta e Pequi. Este último, a terra donde o Viajante nascera e
foi criado – tornara-se repórter por necessidade de escrever e registrar sua
saga pelo leste maranhense, pulando grotas, dirigindo, pilotando motocicleta,
cavalgando e pegando, caronas e até a pé; aventurando-se pelas matas, rios e
chapadões. Chegava-se no Boqueirão dos dois rios; a casa simples do Zé
relembrara outros artigos e o alto grau de desigualdade social presente em
nossa sociedade. O capitalismo abusa de tal forma que muitos nem conseguem
enxergar seus próprios erros. Deve-se entender o que é direita e esquerda;
alguém certa vez disse que quando a esquerda vai para o poder, as vezes deixa
seus princípios. O ato dos companheiros foi de pura caridade àquela família
necessitada; não tinham o mínimo para sobreviver: uma mãe de cinco filhos
pequenos que sofre de uma doença crônica e se encontra hospitalizada na capital
sem recursos financeiros; o pai doente não pode trabalhar para sustentar sua
família, caia em depressão, mas os suprimentos e as palavras de conforto
chegaram na hora certa. Recebia dali das mãos dos companheiros do Sindicato, arroz,
biscoitos, bananas - mercearia completa e uma pequena quantia em dinheiro para
os gastos básicos. Era o que tinham para oferecer. O Zé se emocionara, não
esperava tamanho ato dos amigos que reconheciam sua bondade. Com poucas
palavras agradeceu aos amigos com gesto de generosidade. A casa da família fica
exatamente na cacuruta de um morro – um lugar estratégico, próprio para a
criação de animais, donde a vista é formidável. De lá se enxerga as copas das
árvores que guardam o encontro dos dois rios. Segundo os mais antigos;
funcionava naquele lugar um antigo porto que recebia pequenas embarcações –
canoas para o transporte de materiais vindo do interior da região e também para
o descarregamento de suprimentos na época da Balaiada. Se percebe os vestígios e
elevações do solo na beira do rio (trincheiras). Voltava-se para casa por
outras veredas. O Viajante ficara por lá mesmo – com o intuito de atravessar
para as outras bandas do “Rio dos Pretos”; pisando e adentrando em lamas,
lagoas e alagadiços rumando para o oeste. Dever cumprido! Família agradecida;
acenava com as mãos! Boas lembranças.
A ótica corria
sobre a densa mata verde e as águas pretas e barrentas do Mocambo e Rio Preto.
Era o início de outra aventura, desta vez o Viajante seguia sozinho, com seu
bornal e surrão a tiracolo. Aceitara mais um desafio como andarilho e repórter
das comunidades tradicionais. O “Boqueirão” falava em metáfora – sob o silêncio
do vento, a pena escrevia.
José Antonio Basto
31/07/2018.
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