Ela prepararia uma galinha
caipira com muito gosto para o Viajante almoçar e também para os que
participariam da reunião. Almoço de galinha caipira é uma coisa especial das
comunidades rurais do Baixo Parnaíba maranhense. O Viajante exercia como sempre
o papel de repórter popular, narrando com seu romantismo particular os fatos
simples da vida e do dia-a-dia dos povos e comunidades tradicionais de sua
região, pois parte dessa literatura e de seus vocábulos deve-se a esse tema.
Apesar de poeta, título esse preferido
em seu mundo das letras. A tarefa do dia envolvia uma programação que trataria
do problema da terra dos posseiros no do Baixo Parnaíba maranhense. Enquanto
acontecia a reunião a panela chiava na cozinha coberta de palha e, o cheiro
entrelaçava sobre a abóbada da humilde moradia. Era o começo das atividades
daquele dia de trabalho.
Dona Maria além de excelente
cozinheira é também uma grande liderança que não perdia tempo para falar em
defesa de sua terra, uma área cercada de monocultura do eucalipto – programa
esse devastador das chapadas e um dos responsáveis pela violência no campo brasileiro;
especialmente falando do cerrado, onde está sendo implantado o macabro plano de
desenvolvimento do cerrado – (Matopiba). As comunidades do Baixo Parnaíba estão
inclusas dentro desse espaço. Urbano Santos fica dentro do Matopiba -, um dos
municípios que apresenta um dos maiores índices de problemas socioambientais,
principalmente quando se trata da disputa por terra e por água. Fenômenos como
o avanço dos monocultivos que se reaparecem e que vem destruído e transformando
os modos de vida nos povoados e vilarejos.
A reunião começava, Dona Maria
falava e a galinha cozinhava na panela, no velho fogareiro de carvão. Não deu
tempo para a mestra Maria temperar a galinha, alguém fez por ela; pois aquela
ocasião não deixara. Dava-se início as falas, eles passaram horas e horas
conversando e debatendo sobre as questões de seu território que vem sendo ameaçado
a cada momento que passa, a água foi um dos pontos fundamentais das discussões;
os rios que estão secando por causa de impactos diretos dos programas
capitalistas de expropriação de terras -
(eucalipto). A defesa das áreas de pesca também foi lembrada... Além de muitos
outros assuntos que voaram. O Viajante estava ali escutando e anotando em seu
caderno. Esperava-se que a reunião pudesse terminar ao meio dia, mas o assunto
não deixara... Todos falavam que quase se esqueciam de almoçar. Quando lembraram
e a barriga avisava; então depois de quatro horas de reunião de falas e todo
serviço burocrático de atas e assinaturas dos presentes, ouvia-se da cozinha o
convite para todos seguirem para o almoço.
Um silêncio! Quando Dona Maria –
a anfitriã surpreendeu a todos com algo que não queria calar, mas só ela podia
dizer: “Minha filha a galinha está salgada de mais”! - A moça olhou
ligeiramente para sua mãe, mas não disse nada, talvez ficara envergonhada! De
fato ficou mesmo! Mas a fome e o sabor não deixara estragar o momento principal
da degustação. Pois Dona Maria não tinha condições de ir para o fogão.
Precisava participar da reunião, onde muito contribuiu.
José Antonio Basto
E-mail: bastosandero65@gmail.com
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