segunda-feira, 10 de julho de 2017

Um canto na chapada



Alguma coisa cantava para as bandas do leste -, a chapada estava densa e triste porque sua fauna cansada se acabava aos poucos de forma violenta. O artista pregava em seu álbum o ultimo retrato da chapada, mas onde ela ficava localizada geograficamente? Porque haveria de alguém cantar na chapada a não ser os pássaros e suas árvores “unha-de-gato” ou sapucaia ringindo uma nas outras? Na chapada se ouve muitos cantos nos recantos dos ouvidos afinados das coisas que por lá acontecem.
A chapada roncava com um sono profundo que jamais acordara. Certa vez, há milhões de anos o cerrado nascia junto aos vários fenômenos da natureza, todavia aquele tempo tudo era diferente. Existia as mesmas coisas, outras se extinguiram com o passar dos anos e das reviravoltas. A chapada que nascera ali e que foi ocasionada há milênios de anos atrás por conta das águas e do vento que continua lá com seus prantos de outrora. O canto era triste e clamava por justiça - os viventes que habitavam os lugarejos tinham um habitat vivo na comunhão da própria consciência. Um velho sábio dizia com sua voz trêmula que seu mundo de criança não era aquele que via agora - os olhos enchiam de lágrimas que corria para os rios e lagoas. O Rio que nascera por lá secou por causa da ganância, eles ainda sonham com um mundo melhor para todos e todas.
O que é uma chapada? Pode ser descrita como uma forma de relevo que possui superfícies planas, onde são comuns vales e cabeceiras de rios. Muitos são os tipos de chapadas, cada uma com suas próprias características de fauna e flora. O Viajante fala das chapadas do leste – as únicas que cantam sua própria composição, são elementos de desenvolvimento da cultura, da geografia e da educação. Conhecer uma chapada é conhecer um vasto jardim que ao mesmo tempo é um pomar natural criado pela natureza, este pomar fornece frutos silvestres, caça e água para as comunidades que em troca lhe protege do mal, do veneno e da grilagem. O chão das chapadas foram também regados de sangue de companheiros que tombaram na luta em defesa da vida e dos direitos humanos, que lutaram pela liberdade – foram eles nossos irmãos “Balaios”, nossa luta vem desde as florestas de Chico Mendes ao cerrado do Pe. Josimo – foram espelhos que refletiram novos sonhos de ver um outro mundo possível.
Muito antes de batalhas, os nativos já se orgulhavam em tirar da terra seu sustento. “A terra é de quem mora nela”, dizia um velho sábio. “O sol, a lua, as nuvens e o vento não pertencem a ninguém porque atendem todo mundo – por isso a terra é de todos nós - nela moramos, pisamos... Trabalhamos”, disse o ancião. O Viajante aprendera lições de vida, ouvia o som de uma flauta que vinha de lugares distantes, das nascentes longínquas, percebia que o eco anunciava uma nova era, mas pregava dizendo que muitos tinham que sair de suas casas para juntos construir um novo tempo sem exploradores e explorados.

José Antonio Basto

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