quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Dupla identidade

Na segunda semana de setembro de 2021, a comunidade quilombola de Tanque da Rodagem fechou a rodovia que liga a cidade de Matões ao restante do estado e que passa pelo seu território. Os quilombolas respondiam, dessa forma, a presença de jagunços armados e tratores que derrubavam casas tudo a mando de fazendeiros/plantadores de soja paranaenses que planejam expulsar os quilombolas e despeja-los em algum pedaço de terra qualquer. Os quilombolas de Tanque da Rodagem não reconhecem o acordo aceito pela direção da associação que aceitou uma área de 120 hectares doado pelos fazendeiros enquanto abrem mão de uma área de mais de dez mil hectares. Algumas famílias aceitaram o acordo em que não só abriam mão de suas posses no território quilombola como também assumiam que invadiram a terra a partir de 2010. O agronegócio para desmobilizar as comunidades tradicionais defende e apregoa a tese que essas comunidades invadem terras que se destinam ao plantio de monoculturas como soja e eucalipto. Quem primeiro chegou com essa conversa em Tanque da Rodagem foi a Suzano papel e Celulose que entrou com uma ação de reintegração de posse. Uma empresa que sai sabe Deus de onde ameaça a comunidade de remanejamento para se apossar de seu território e plantar milhares de eucalipto para sua fábrica de celulose planejada em Palmeirais do Piaui. O planejamento da empresa desprovia a comunidade de seu território e comunidade tradicional sem seu território ancestral não se configura como comunidade tradicional porque uma não vive sem a outra. É justo perguntar as famílias que assinaram o acordo: que identidade repousa na terra que os plantadores de soja lhes doaram? Ela equivale a mesma identidade construída por décadas em Tanque da Rodagem? Ou ela terá que se reconstruída com bases sociais vinculadas ao agronegócio?

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