terça-feira, 3 de setembro de 2024

buriti dos boi

José Orlando, morador da comunidade quilombola de barro vermelho município de Chapadinha constatou o seguinte fato : "o componente étnico e latente aqui em buriti dos boi". Essa constatação decorria tanto daquele momento em que se esperava a chegada da juíza da vara agrária vinda de São Luís que realizaria uma perícia como também decorria de outros momentos nos quais se mobilizaram reuniões para combater a expansão da soja naquela chapada. A comunidade Buriti dos Boi e uma comunidade tradicional assim como milhares de comunidades pelo interior do Maranhão. E isso quer dizer que ainda mantém aspectos culturais sociais ambientais econômicos e linguísticos provenientes de seus antepassados. Como quando alguém fala "pelaqui" em vez de por aqui. Por aqui e o sensato, o correto, o culto. "Pelaqui" e o impulso, apressado, o incorreto, o inculto. "Pelaqui" e a aglutinação de por aqui. Quantas vezes as pessoas falaram ou escreveram palavras de maneira errada pela pressa ou pela falta de reflexão. Os moradores de buriti dos boi não tinham tempo para estudar ou para brincar. O tempo era para atender aquele que se dizia proprietário e sua família. O por aqui e o correto dentro das normas do português. O "pelaqui" e o correto dentro da realidade que a comunidade vivia. Os moradores de buriti dos boi em sua totalidade apresentam características da mistura de índio com negro e por isso o componente étnico história fica mais latente. Eles eram vistos como propriedade daquele que se apossava da terra para seus projetos. Essa visão ainda se mantém como pode ser visto nessa fala da advogada das herdeiras do antigo proprietário que venderam a chapada para o plantador de soja que está em conflito com a comunidade: "eles eram moradores do seu Raimundo Boi". Quer dizer, a comunidade de buriti dos boi além de lutar contra a soja tem que lutar contra toda uma estrutura agrária arcaica.

posse da terra

A posse da terra é exercida. Ela não é herdada. Isso implica em dizer que o posseiro nem poderia vender a sua posse já que a terra definitivamente não lhe pertence. Essa constatação levaria a uma discussão extensa sobre o caráter da terra e da propriedade no Brasil e no Maranhão, porque no final das contas não existem legítimos proprietários e sim posseiros em exercício. A advogada das senhoras Joana dos Santos e Aldenoura dos Santos pensa o contrário. Elas são filhas do senhor Raimundo Boi, morto em 2004, e que muitos pensavam ser proprietário do Buriti dos Boi. É aquela velha história. Você age como um latifundiário e todo mundo acaba pensando que você é um latifundiário. No início da perícia realizada pela vara agrária para conferir quem realmente detém o exercício da posse na chapada de Buriti dos Boi, município de Chapadinha, a advogada rotulava as senhoras Joana e Aldenoura como herdeiras do senhor Raimundo Boi. Claro que a fala da advogada se direcionava para a chapada em disputa, de um lado plantador de soja/proprietário tradicional e extrativistas do bacuri do outro. Só que a perícia pedida pela promotoria agrária queria dirimir dúvidas sobre quem exercia a posse na chapada. Como foi escrito, posse se exerce. O senhor Raimundo Boi, falecido em 2004, não podia exercer a posse. As suas filhas que se transferiram da casa em Buriti dos Boi, há mais de 50 anos, para Chapadinha também não. O plantador de soja que chegara recentemente na região muito menos. Quem exerce a posse é a comunidade de Buriti dos Boi que coleta bacuri de janeiro a maio, todos os anos e que tem várias casas construídas sobre a chapada.

maranhao rico

De tanto ler e ouvir que o Maranhão um dia fora rico, chegou a acreditar. Uma vez, na casa dos seus bisavós, ainda criança, pusera os olhos num pé de algodão. Olha aí a prova da riqueza do Maranhão. No século XIX, o Maranhão liderara a produção de algodão por um curto espaço de tempo. Tempo suficiente para ficar na memória. Assim como ficara na memória a Praia Grande, os seus casarões e seus comércios, onde era comercializada toda a produção vinda de parte do interior. Grande venda de arroz, babaçu, azeite de babaçu, algodão, pescado, carne e etc . A Praia Grande se modernizou e vem se modernizando desde os anos 80, e o que se vê mais, é a venda de artesanato, obedecendo a uma visão de que o Maranhão é e um estado pré industrial. E como tal, o Maranhão tem que aderir incondicionalmente, as forças produtivas mais modernas como a soja. Uma das provas dessa adesão incondicional foi a substituição do azeite de babaçu pelo óleo de soja no começo dos anos 80. A propaganda da indústria de soja induzia as pessoas a consumirem o óleo, porque era um produto que modernizava a cozinha. Um argumento é pouco. Passado um tempo, a indústria da soja veio com o argumento que a soja levava saúde para casa toda. Investir em produtos derivados da soja, equivalia a investir em saúde, boa alimentação, qualidade de vida e economia. Interessante como vai se montando todo um discurso que fundamentara a apropriação dos recursos naturais pela cadeia produtiva da soja. Quem não planta e não beneficia soja, não move economia e nem movimenta a cultura. A reação dos plantadores de soja é de depreciar as atividades produtivas e as manifestações culturais das comunidades quilombolas e tradicionais do Baixo Parnaíba, que lutam contra seu avanço. Depreciam com auxílio da tecnologia. Um funcionário do banco do nordeste em Chapadinha, em recente vistoria realizada pela vara agrária na comunidade Buriti dos Boi, anunciou que filmara a chapada onde a comunidade coletava bacuri e não idêntificara nenhuma moradia. Quase que perguntou "porque o senhor fizera a filmagem e o senhor é funcionário do banco do nordeste ou agente do agronegócio?".

candido mendes

Os olhos os ouvidos e a mente se destorneiam a medida que perguntam seguidas vezes qual e a distância para a comunidade quilombola de bom jesus município de cândido Mendes. Eles se entristeceram logo na primeira inquirição: "ichi. Faltam uns 50 quilômetros". Um motoqueiro atarefado com sua moto respondeu mais para criar pânico. 50 quilômetros num calor de agreste e em estrada empicarrada, o cara esmorece, reflete, esvanece entontece, endoidece. Voltaram com a inquirição numa comunidade. Um dono de caminhonete vendia uns peixes na porta de uma casa. " Deve dar uma hora e meia e a estrada está razoável por causa do período eleitoral". Uma hora e meia e eles temiam a quantidade de combustível com o qual abasteceram o carro em Bequimão. O importante é que eles estavam a caminho e no caminho certo por mais dúvidas fossem geradas pelas respostas duvidosas de moradores. "Vocês tem que ir mesmo para Bom Jesus?". " Tem uma meia hora". " Tem uns quinze minutos". Por mais dúvidas houvessem o percurso por Turiaçu se provou mais rápido porque o percurso por cândido Mendes daria uma volta tremenda. Afinal de contas, eles combinaram uma visita a comunidade quilombola de bom jesus e essa visita fora remarcada várias vezes. O motivo da visita era um debate sobre os impactos da criação de búfalo no campo natural da comunidade. Contaminação das águas pelas vezes do búfalo e a perda de oxigênio ocasionada pelo revolver do leito o que faz a matéria orgânica subir e asfixiar os peixes. Os quilombolas de bom jesus descendem de negros indígenas e brancos que viviam na região desde o final do século XIX. Negros indígenas e brancos escravizados semi escravizados pequenos proprietários e totalmente excluídos da vida política social e econômica do Maranhão.

estrada urbano santos a barreirinhas

Não resta dúvida que o asfaltamento da estrada que liga Urbano Santos a Barreirinhas visa disseminar o agronegócio pela região, mais do que está disseminado. E a disseminação do agronegócio implica em grilagem de terra. As comunidades de Barreirinhas como Anajás dos Garcês, Tabocas, Buritizinho em várias ocasiões expuseram suas divergências perante os plantios de eucalipto que se alastram nos limites entre os municípios. O que impede a entrada do agronegócio em Barreirinhas, além das comunidades, é uma lei municipal que proíbe o plantio de monoculturas. Gonçalo dos Moura, povoado de Urbano Santos, fica a cinco minutos de Anajás dos Garcês. Os moradores são aparentados. Gonçalo dos Moura está totalmente cercado pelos plantios de eucalipto. Os eucaliptos formam verdadeiras muralhas. O seu Ribamar, marca o ano de 2009 como o ano em que a empresa chegou devastando o cerrado. " É doloroso escutar os paus chorando, gemendo, lamentando, quebrando...". Para a família do seu Ribamar, deixaram uma área de 300 hectares em que fazem a roça e constroem suas moradias. Eles são nascidos e criados ali. Era uma área enorme com muito bacuri e pequi. Ainda se vê bacurizeiros pelos terrenos. Essa área foi grilada e vendida por parentes do seu Ribamar para gaúchos que venderam para o atual proprietário. Os mesmos parentes querem grilar e vender os 300 hectares que sobraram. Umas vez, um dos parentes, tudo idoso que nem moram perto, chegou ameaçando o seu Ribamar. "Vou construir uma moradia quer tu goste ou não. Se não gostar vai procurar teus direitos na justiça". Seu Ribamar derrubou o que haviam erguido. Na tentativa mais recente, os parentes foram ao cartório de Urbano Santos procurar documento da área. O cartório que sofreu intervenção por suspeita em fraudes de documentos de terra e outras coisas. Não encontraram nenhum documento. É terra do estado. Então foram ao STTR pedir uma declaração de posse. Como seriam posseiros se nem moram lá? O certo é que os parentes já usurparam os direitos da família do seu Ribamar diversas vezes e querem usurpar de novo.

viajar sem se perder

Viajar sem se perder. A grande maioria dos viajantes tem essa meta como princípio. Desembarca na cidade e a primeira incumbência e comprar um mapa. Compra o mapa e abre mais por dever de ofício. Tornou se um fetiche comprar um mapa. A cada cidade, um mapa. Ainda se fazem mapas em São Luís como se fazia antigamente? Teve uma onda de mapas pela cidade e e claro que essa onda foi embora. As ondas (modas) vem e vão que nem se concebe tenham se derramado pelas praias. O maranhense também é dado a mapas imaginários. Tudo e bem ali. Tudo e muito perto. Da para se alimentar pela imaginação. Mulheres vendeiras de comida altas horas da noite a beira da estrada que surgem a medida que a fome aperta. Galinha ao molho pardo fria que você não quer saber a que horas foi feita. Só dá uma esquentada que resolve.