sábado, 22 de dezembro de 2012

A narrativa e os quilombolas de São pedro



As narrativas surgem e ressurgem como algo inesperado, sem sala de espera e sem pedir licença. Elas partem com urgência como uma noticia partida na noite. Vá. Não descanse. Parece sussurrar a narrativa no ouvido do seu mensageiro. Não duvide do conteúdo. Às vezes, o conteúdo se compõe de imperfeições. Uma palavra ou uma letra falta. Uma palavra se afasta da outra. Mesmo assim, ela prossegue próximo ao leito do rio. Havia um carro obstruindo o caminho, ela nem deu trela. Ela mapeou o espaço noturno. A narrativa não se agastou pela noite sem luar. Fica difícil transitar em uma noite dessas. As pessoas acenam para a narrativa sem saber o que exatamente viram. Alguém sair uma noite assim, só pode ser algo sério. A narrativa se apressa. Algo ou alguém a fustiga. Quer impedir que ela tenha sucesso. Ela retoma o folego na encruzilhada. As últimas horas a extenuaram. Como percorrer distâncias homéricas sem descansar um minuto? Em algumas passagens, ela estanca para não se confundir com o começo, com o meio e com o fim. A noite amedronta. Alguém reza sozinho em seu quarto. Homens armados cercam as casas. A luz da vela se esvai. Ninguém assoprou. A narrativa ultrapassa essa comunidade a toda. Basta o que presenciou em poucos minutos. Ela se arrepiou com a sensação de violência iminente. A violência dos homens a tirou do sério. Quem usa da violência, escarnece das pessoas. Diogo Cabral, advogado da Fetaema, esteve no quilombo de São Pedro, município de São Luiz Gonzaga. O fazendeiro botou capangas e policiais militares para intimidar os quilombolas. Através do seu celular, ele enviou uma mensagem que despertou essa narrativa.
Mayron Régis

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