sábado, 25 de agosto de 2018

Admiravel Mundo Novo

Ele conversara com Alex Motta em frente ao fórum de Buriti. Um dia em que, junto com o senhor Ferreira do povoado Brejão, aguardava uma audiência que rolaria no fórum da cidade. Alex Motta o informara que o Pedão, plantador de soja, frequentava em surdina o povoado Mundo Novo. Por certo, o Pedão não morria de amores pelos moradores do Mundo Novo e nem por suas historias que não se diferenciavam em nada de historias narradas por agricultores de outras regiões do município de Buriti ao longo de muitos anos. Essas histórias não o comoveram na época de sua chegada tanto que, a primeira chance, ordenara o desmatamento de uma Chapada próxima a sede do município sem dar a mínima para quem coletava pequi nela. A presença massiva de pequizeiros em boa parte de Buriti indica que o seu bioma característico é o Cerrado e o que seu clima característico é o tropical úmido seco. (Esses conceitos só não se sustentam nas Chapadas dos povoados Carrancas, Araça, Cacimba, Baixão e Bacaba, onde os bacurizeiros se concentram em grande quantidade). Porque, então, o Pedão se destacou tão longe de Buriti? Mundo Novo fica atrás dos povoados mais conhecidos de Buriti. Converge com os povoados das Bicas e da Macajuba. A resposta para a pergunta é que Pedão, além de empresário da soja, grila terras e nas proximidades do Mundo Novo existem Chapadas sem documentação e sem posseiros prontas para entrarem no circuito do agronegócio.  

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A TRILHA




Viajaria pelas velhas trilhas e veredas dos antigos e valentes guerreiros insurretos, por estreitos caminhos, subindo serra e descendo ladeira – a comunidade era o “Bebedouro” – à margem esquerda do Rio dos Pretos, município de Urbano Santos. O Baixo Parnaíba é um território diferenciado que liga de norte a sul a chapada (cerrado) ao Oceano Atlântico – de leste a oeste o Rio Parnaíba ao Portal dos Lençóis maranhense. O Viajante trilhava pelas comunidades tradicionais da região –, aventurando-se, dirigindo, cavalgando, pilotando e até a pé. O tempo estava seco – o sol escaldante, muito fogo nas chapadas; a chuva suspendera o ciclo. As chapadas estão verdes e os bacurizeiros floridos – sinal de uma boa safra mais na frente. Acampava-se o “Viajante do Leste”, sobre as margens do Rio Preto e/ou “Rio dos Pretos”, assim melhor chamado. Em algum lugar exatamente na fronteira de Urbano Santos com Chapadinha. Terra donde seus irmãos Balaios possivelmente passaram em suas empreitadas contra as tropas legalistas; próximo aos quilombos de Bom Sucesso dos Pretos (Mata Roma) e Lagoa Amarela (Chapadinha). Décadas se passaram, séculos... O registro ficara e a prosa também. A história testemunhara a geografia, relações sociais e modos de vida deste povo, enxergados de longe a cada momento em que se passa por dentro ou perto de suas palhoças. Seguia caminho, rumo a um destino reservado de acontecimentos, experiências de ensino-aprendizagem... Composição... Leitura... Vivências.

José Antonio Basto

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Terra de Indio


Quem sabe um dia alguém se digne a e indigne-se ao pesquisar os povos indígenas que habitavam o nordeste maranhense. Não se está falando de povos que viveram em épocas remotas e que desapareceram por razões inexplicáveis. Quer-se crê na falta de solução de um mistério. Por acaso, alguém se declara indígena no nordeste maranhense? Como não se tem noticia de indígenas, por certo não os haverá. Ou se houve, não deixaram noticias dos seus feitos para os que vieram depois. Talvez seus feitos indignassem quem tomasse conhecimento deles. Talvez seus feitos carregassem a marca da inaptidão, decorrido certo tempo. A dona Maria, moradora de Brejão, município de Buriti, provavelmente, sabe da sua ascendência e sabe como seus pais e avôs se vestiam, sabe do que eles falavam, sabe o que comiam mais e o que comiam menos, sabe os nomes deles, o quanto são inesquecíveis, sabe se rezavam ou não sabe e sabe quem quebrava coco babaçu para tirar o azeite. Ela se recorda de um avô ou de um parente indígena? Ninguém perguntou a respeito. As vezes em que escutou algo sobre o assunto a depreciaram de tal forma que caíram no esquecimento rapidamente. O modo mais respeitoso com que tratavam lugares distantes como Brejão era “terra de índio”. Como se só vivessem índios nesses lugares. O meu marido é negro e eu sou branca. Apresentarmo-nos como índios passa atestado de indigência. O meu marido é orgulhoso por viver dos seus próprios recursos. Isso que importa. 
Mayron Régis