quarta-feira, 29 de setembro de 2021

A carta escondida

Quase não dava pra ler as imagens que o seu amigo enviara pelo celular. O amigo vasculhara os arquivos da família e topara com aquelas folhas esmaecidas. Passados mais de cem anos, as folhas se mantinham intactas se bem que ofereciam uma certa dificuldade para quem as quisesse ler. No teor da mensagem, beves palavras explicativas. Tratava-se de uma reza que a bisavó passara para avó e que por fim fora entregue a mãe daquele seu amigo. Ora, aquilo era um documento histórico. As mulheres da família dele transmitiam através de uma carta palavras que procuravam curar os doentes, as grávidas e etc. Carecia de conhecimento cientifico? Pode até se, mas transbordava de conhecimentos e sentimentos humanos. A carta também era uma prova de que a comunidade quilombola de Peixe residia naquela terra há mais de cem anos. O conhecimento histórico é uma das vertentes do conhecimento humano e quanto mais historias como essa forem restituídas as populações quilombolas mais elas se fortalecem no seu dia a dia.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

A cobiça pela florestada dos quilombolas

A cobiça pela floresta dos quilombolas Ela pediu o direito a fala. Sentia-se tocada pelas falas anteriores. Moradora do povoado Centro da Floresta, munciipio de Colinas, se ressentia do individualismo que seus vizinhos experimentavam. “ A pessoa se tranca em casa e sai de moto. É assim o dia todo”. Quase dá pra dizer que ninguém põe freio no fenômeno das motos pelo interior. Quem adquiri uma moto quer ficar por dentro das novidades e por dentro da velocidade, essa é a verdade. O dinheiro que se compra uma moto vem de onde? No caso da comunidade dessa senhora pode ser que venha da venda de lotes no território quilombola de Centro da Floresta que faz parte de um assentamento da reforma agrária Jaguarana de responsabilidade do Incra. O incra desapropriou a fazenda da Jaguarana como uma forma de garantir o modo de vida de três comunidades negras que residiam no território. A discussão a respeito do que vinha a ser quilombola mal começava. Não resta dúvida que muitos evitam se identificar como quilombolas. alguns elementos que subjazem a identidade quilombola são aa sensações de pertencimento a um grupo familiar e a um território físico. Ela se recordava das matas que circundavam o território quilombola de Peixe e que os fazenderios desmataram quase tudo para criar gado e plantar soja. Anos antes desses desmatamentos, montada num jumento e acompanhada de um pequeno grupo, ela pegou chuva forte na estrada vicinal que a levava de volta a sua comunidade. A mata sombreava o caminho e esse fato certamente atraiu tamanha chuva. Uma floresta em pé desperta a cobiça de desmatadores. A fazenda Colina Verde, que planta soja, comprou a posse de vários moradores do Centro da Floresta e pretende desmatar a área conhecida por Perdido que é justamente a reserva legal da comunidade.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Empresa EDP ameaça comunidades quilombolas em Itapecuru Mirim

A experiência ensina que a humildade nunca foi um item em que as empresas se apegassem com o devido cuidado. Em compensação, arrogância e desprezo afloram com facilidade assim que a empresa se encontra num beco sem saída ou numa grande enrascada. A empresa de energia EDP se encontra numa enrascada daquelas. Ela comprou os direitos da implantação de uma linha de transmissão cujo trajeto vem desde um complexo eólico no Piaui até a região projetada como portuária na baia de São Marcos. O cronograma de entrega da linha de transmissão se atrasou nos últimos dias em função dos inúmeros problemas que a instalação dessa linha de transmissão ocasioou e ainda ocasiona na vida de milhares de famílias que retiram seu sustento dos campos naturais que interligam o rio Mearim as áreas de terra firme onde residem diversas comunidades de Santa Rita, Anajatuba e Itapécuru Mirim. O impacto mais direto diz respeito ao fato que os cardumes de peixes que subiam o rio para chegarem a aos campos naturais onde procriavam com tranquilidade desapareceram dos campos e dos tanques abertos pelos moradores locais porque a EDP com pressa de ganhar dinheiro na bolsa de valores meteu suas maquinas em pleno inverno e em plena época de piracema. Quem não sabe que a piracema é um momento crucial para a reprodução dos peixes e que deve ser respeitada de acordo com as normas interpostas pelos órgãos ambientais ? Os funcionários da EDP desfizeram a lição de casa no quesito biologia e provocaram barulho e poluição nos campos em plena piracema. Os peixes simplesmente sumiram e nenhum recado de quando retornam foi deixado. A empresa argumenta que os impactos se restringiram a região do Sitio do Meio, município de Santa Rita. As comunidades da região do Papagaio, mais abaixo, contestam essa argumentação e exigem que a empresa indenize os prejuízos que tiveram ao não pescarem nos seus tanques. Os advogados da comunidade de Papagaio apresentaram representações em todos os órgãos que porventura tenham alguma ligação com a obra e com os impactos que ela causou. A empresa procura nos últimos dias terminar a obra na região da comunidade quilombola Monge Belo, município de Itapecuru Mirim , onde faltam poucos detalhes. Como das vezes anteriores, a empresa entra nos campos naturais com desrespeito, um desrespeito ao mesmo tempo social, ambiental, econômico e cultural. Por conta desse desrespeito, as máquinas da EDP atolaram diversas vezes e a empresa continua muda em relação as cobranças das comunidades que resolveram interditar por completo o canteiro de obras da empresa. Com mais de três dias de ocupação, finalmente a EDP se pronuncia em tom de ameaça. Ou as comunidades aceitam um acordo em que a empresa se compromete a doar cestas báscias referentes aos prejuízos causados pela obra ou a empresa retira a doação e entra com uma ação na justiça para a desintrusão.

A secretaria de meio ambiente que atende o agronegocio

A comunidade quilombola de Peixe, município de Colinas, tem a maior parte do seu território devastado pelo agronegócio comandado pelos políticos da região. Os quilombolas para retomarem seu território tradicional ocupado por monoculturas insistem em fazer suas roças de mandioca e arroz ( o que inclui destocar queimar plantar e etc) porque sem plantar as suas resistências diminuiriam a cada dia o que seria indesejável para aqueles que acreditam no direito da comunidade a seu território. A decisão de manter a roça representa um desafio perante as forças politico econômicas de Colinas já que essas forças sustentam o avanço do agronegócio no município e nos territórios quilombolas e nas áreas de reforma agrária. A secretaria de meio ambiente do município cobrou explicações da associação de Peixe porque os quilombolas roçaram uma pequena área do seu território. A mesma secretaria não cobra explicações dos fazendeiros e plantadores de soja que desmatam centenas de hectares de Cerrado e mata de babaçuais. Caso alguém pergunte porque essa diferenciação, a secretaria certamente responderia que quem licencia desmatamentos com vistas a plantio de monoculturas atende pelo nome de Secretaria Estadual de Meio Ambiente. O órgão responsável pelo licenciamento atende por esse nome, mas o órgão se nega a atender as solicitações/pedidos de comunidades tradicionais, associações e organizações da sociedade civil que denunciam desmatamentos irregulares. As comunidades esperam que suas solicitações sejam atendidas ou pelo menos que o órgão responda alguma coisa. O que se vê é o contrario. O órgão ambiental do município atendeu uma solicitação do fazendeiro que disputa com a comunidade quilombola de Peixe parte dos mais de mil hectares do território.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

o plano da imaginação infantil

Ele crê que o melhor aniversario ainda está por vir. Os adultos parabenizavam pela sua data festiva. E o presente? Se todos os convidados de seus pais além de parabéns lhe dessem presentes, com certeza, o seu dia ficaria mais reluzente. Pode um dia superar os demais dias do ano só pelo simples fato de comemorar o nascimento de uma pessoa? Ele comemorava o aniversario mais pelos outros do que por si mesmo. A sua única felicidade transparecia na hora que ganhava presente de alguém. Um presente inesperado era fatal para sua sensibilidade de criança suburbana. Um tio trouxera uma revista do Fantasma para ele ler. Não fazia a menor ideia do que representava o Fantasma para a historia dos quadrinhos. Deu de ombros e leu rapidamente. Contou com um pouco de sorte. O tio militar veio de férias; por um acaso, entrou numa banca de revista, lembrou dele e comprou a revista. Comprar uma revista em quadrinhos para uns pode sugerir pouco. Para ele, cujo arsenal literário se resumia a uma ou outra revista, não. Adoraria chegar em sua casa ou na casa de sua avó e encontrar um tio ou tia vindos de férias com uma dúzia de revistas que lhe presenteariam. Todos os dias, se fosse possível. Imaginem um quarto tomado de revistas em quadrinhos. Amontoados e espalhados que nem a cara do seu dono. Infelizmente, a injustiça literária prevaleceu e as revistas que ansiava ficaram para trás em segundo plano. O plano dos presentes guardados no mapa da imaginação infantil.

Vitória histórica da agricultura familiar em Buriti

Um conflito socioambiental se iniciou em 2016 no município de Buriti, baixo parnaiba maranhense. Um conflito a mais ou a menos não faria a menor diferença para a região, pois o baixo parnaiba se configura como uma das regiões do estado do Maranhão com mais conflitos socioambientais. No entanto, o conflito ganhou uma dimensão regional visto que ele afetava comunidades tradicionais que fincaram suas raízes nas Chapadas e Baixões de Buriti há quase cem anos. As comunidades tradicionais do Araça e do Brejão brigaram por quase cinco anos com a empresa João Santos e a família Introvini para que reconhecessem os direitos das comunidades a Chapada do Brejão, uma área de mais de cinco hectares. O grupo João Santos vendeu a Chapada para os Introvini num processo de liquidação de propriedades e ativos com vistas a arrecadar recursos para os herdeiros antes que a justiça decretasse falecnia da empresa e as propriedades fossem hipotecadas. Os dois grupos econômicos negociairam a Chapada mas esqueceram de incluir as comunidades que usufruíam da Chapada e do Baixão. As comunidades se rebelaram contra os propósitos das empresas de fecharem negocio o que acarretaria a expulsão da comunidade do Brejão e o desmatamento do Cerrado com consequências terríveis para o meio ambiente e para a vida das pessoas. As comunidades questionaram a negociação pois duvidavam que o grupo João Santos era realmente proprietário de cinco mil hectares. Em seguida, questionaram o processo de licenciamento aberto pela família Introvini e confirmado pela Secretria do Meio Ambiente do Maranhão. Os questionamentos do licenciamento sugeriam que o estudo de impacto ambiental omitia diversas informações sobre o meio físico e o meio social. As omissões de praxe que a SEMA não investiga. A secretaria licenciou o empree3ndimento que desmatou mais de dois mil hectares sem responder os questionamentos das comunidades e da sociedade civil. Os recentes fatos relacionados com o conflito foram o despejo de agrotóxico sobre a comunidade do Araça e os moradores desta comunidade terem impedido os trabalhos dos funcionários dos Introvini na Chapada. O conflito parou na Vara Agrária porque os Introvini entraram com um interdito proibirotio contra a comunidade do Araça e os caos de conflito agrário não fica mais na comarca e sobem para São Luis. No dia 14 de setembro de 2021 a vara agraria vistoriou a área em conflito e constatou que as comunidades residem do lado desta área o que indica a posse dessa terra e constatou crimes ambientais cometidos pelos Introvini. Para cessar o conflito entre as partes, a vara agraria perguntou se haveria possibilidade de acordo. As partes concordaram. Os introvini continuam com o empreendimento mas abrem mão de várias áreas de Chapada ricas em bacuri que foram desmatadas mas não foram plantadas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Dupla identidade

Na segunda semana de setembro de 2021, a comunidade quilombola de Tanque da Rodagem fechou a rodovia que liga a cidade de Matões ao restante do estado e que passa pelo seu território. Os quilombolas respondiam, dessa forma, a presença de jagunços armados e tratores que derrubavam casas tudo a mando de fazendeiros/plantadores de soja paranaenses que planejam expulsar os quilombolas e despeja-los em algum pedaço de terra qualquer. Os quilombolas de Tanque da Rodagem não reconhecem o acordo aceito pela direção da associação que aceitou uma área de 120 hectares doado pelos fazendeiros enquanto abrem mão de uma área de mais de dez mil hectares. Algumas famílias aceitaram o acordo em que não só abriam mão de suas posses no território quilombola como também assumiam que invadiram a terra a partir de 2010. O agronegócio para desmobilizar as comunidades tradicionais defende e apregoa a tese que essas comunidades invadem terras que se destinam ao plantio de monoculturas como soja e eucalipto. Quem primeiro chegou com essa conversa em Tanque da Rodagem foi a Suzano papel e Celulose que entrou com uma ação de reintegração de posse. Uma empresa que sai sabe Deus de onde ameaça a comunidade de remanejamento para se apossar de seu território e plantar milhares de eucalipto para sua fábrica de celulose planejada em Palmeirais do Piaui. O planejamento da empresa desprovia a comunidade de seu território e comunidade tradicional sem seu território ancestral não se configura como comunidade tradicional porque uma não vive sem a outra. É justo perguntar as famílias que assinaram o acordo: que identidade repousa na terra que os plantadores de soja lhes doaram? Ela equivale a mesma identidade construída por décadas em Tanque da Rodagem? Ou ela terá que se reconstruída com bases sociais vinculadas ao agronegócio?

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Os agregados de Buriti do Boi

Os agregados de Buriti do Boi Em que momento a classe de proprietários do Baixo Parnaiba maranhense passou a negar suas relações historicas com os agricultores familiares que para sobreviverem se agregaram como tábua de salvação as suas propriedades? Essa é uma pergunta recorrente com relação ao Baixo Parnaiba tendo em vista o papel que cabe aos proprietários tradicionais no tocante a expansão da fronteira agrícola. O papel dos proprietários tradicionais foi o de facilitar a entrada dos plantadores de soja no Baixo Parnaiba maranhense a partir do final dos anos 90. A característica dessa região nunca foi de grandes propriedades a não ser as clássicas famílias despudoramente latifunidarias como os Lyra, os Leite e os Barcelar. Os pequenos e médios proprietários se atinham a terrenos que começavam no Baixo, perto de cursos de água, e terminavam no topo da Chapada. A propriedade é sempre uma extensão do seu proprietário e de seus projetos econômico e sociais. No máximo, um proprietário anseia com uma casa grande um curral, algumas cabeças de gado e moradores para vigiar a criação. O tamanho médio de uma propriedade dava conta desse anseio. Entretanto, em qualquer conta, entra um senão. No caso das propriedades em questão, o senão é relacionado com o fornecimento de alimento para o gado. A chapada analisando a mentalidade dos proprietários, seria esse ativo econômico ambiental capaz de gerar e fornecer alimentos (capim) as suas criações. E os agregados funcionariam como seus empregados/vigias informais. Esse é o panorama da formação de parte da classe proprietária do Baixo Parnaiba maranhense no século XX. No avançar do século, os proprietários ou envelheceram ou morreram. Em qualquer um dos casos, quem herdou a administração da propriedade não tem os mesmos vínculos nem com a terra e nem com os agregados. No Maranhão, a figura do agregado ainda é uma figura que persiste e essa persistência dificulta o avanço do agronegócio sobre o Cerrado do Baixo Parnaiba porque o agregado é visto como alguém da família do proprietário e assim por diante. Quando o proprietário ou alguém ligado a ele decide vender a propriedade tem que observar os direitos do agregado. Muito difícil isso acontecer. As filhas do proprietário de Buriti do Boi, comunidade tradicional de Chapadinha, vendeu quinhentos hectares de Chapada para um gaúcho chamado Mirto. O documento oirignal da propriedade se refere a uma área de 200 hectares no Baixo e não na Chapada. O Mirto foi fazer os marcos na Chapada referente a sua pretensa propriedade. Os agregados de Buriti do Boi não permitiram porque o gaucho quer desmatar a Chapada para plantar soja e é a área rica em Bacuri. È uma área riquíssima em bacuri e da qual os agregados coletam o fruto e vendem para compradores de Chapadinha e Teresina. Na hora de vender a Chapada para o gaúcho, as herdeiras de Buriti do Boi não pensaram por esse prisma e sim pelo prisma de lucrar em cima de algo que nem é delas.

domingo, 5 de setembro de 2021

Um nome negro/indigena para um igarapé

O jornalista perguntou ao Valber o nome que ele e sua mulher davam ao igarapé que escorria pela sua propriedade de cinco hectares. Valber respondeu uma vez. E mais uma vez. O jornalista desconfiava se mais tarde se lembraria do nome certo. Pediu papel e caneta. O nome soava diferente. A mulher de Valber se sentara a sua frente para conversar e direcionar as pessoas que giravam a sua volta. “Quero lhe fazer uma pergunta”. “Se eu puder responder...”. “ Fora dos limites da nossa propriedade cresceram um bacurizeiro e um pequizeiro. Tenho medo que alguém os derrube para pranchar”. “ Tem alguma forma de impedir que isso aconteça? Quero ir a secrearia de meio ambiente de Santa Rita para que eles me orientem”. O jornalista explicou que não há uma legislação especifica que proteja nem o bacurizeiro e nem o pequizeiro da mata. Para quem não sabe há o pequizeiro da mata e o pequizeiro da Chapada. Este sim é protegido. A inexistência de uma legislação que proteja essas espécies não quer dizer que o cidadão esteja de mãos amarradas. Os bacurizeiros e os pequizeiros são espécies de vital importância para as populações pobres do Maranhão que vendem os frutos em natura ou as polpas de fruta. Os seus frutos carreiam dividendos para a população pobre de Santa Rita ou de qualquer município maranhense. Os frutos dão lucros sem cobrar nada em troca. Assim como o bacuri e o pequi, é a juçara. O Valber e dona Josely, mulher dele, são proprietários de um terreno de cinco hectares, o que daria um certificado de proprietários para eles, mas no fundo, no fundo os dois pertencem ao reino dos extrativistas, pois as juçareiras se encarregam de vicejar por todo o ambiente. Sem o extrativismo da juçara, a renda de Valber e sua mulher despencaria nos primeiros meses do ano. O jornalista insistiu em perguntar o nome dado ao rigarapé para que anotasse no papel e não pudesse esquecer. Valber respondeu: “Nambuquim”. “O que significa?”. “Não sei. O nome vem desde os tempos do avô da minha esposa”. O avô morrera com quase cem anos portanto o nome vinha de muito antes deles chegarem ali. Com quase 1005 de certeza, afirmar-se-ia que o nome possuía raízes indígenas e negras.

sábado, 4 de setembro de 2021

O turismo redutor

O ludovicense bem ou mal sabe direitinho o nome da sua rua e se por acaso alguém perguntar ele responderá com o maior gosto como se fosse a questão de prova que lhe dará um dez graúdo que nem um outro aluno conseguirá. Agora, pergunte se ele conhece rua tal, perpendicular a sua. Nunca ouviu falar. “è por aqui ?”. Constatar esse fato é curioso visto que sendo São Luis uma cidade reconhecida como patrimônio da humanidade pela Unesco os seus moradores deveriam se esmerar em aprender tudo em quanto sobre sua cidade. Não é o que se vê e não é o que se ouve. O ludovicense organiza seu interesse e seu conhecimento de acordo com os pontos turísticos. Antes do turismo virar moda e virar uma indústria em São Luis, o máximo de conhecimento histórico-artistico que um cidadão apresentava a um turista se resumia ao teatro Arthur Azevedo. Para a grande maioria da população fazer turismo combinava com praia e as praias de Sao Luis, pelo menos no quesito visual, conquistavam a atenção de qualquer um que pusesse os pés nela. Com os devidos investimentos em infra estrutura e recursos humanos , passou a se vislumbrar um turismo em que se disponibilizavam riquezas arquitetônicas urbanísticas e sociais através de grandes investimentos nas reformas de espaços públicos e construções historicas e na promoção de grandes eventos artísticos. Em alguns (a)casos, grandes mais na auto promoção do que outra coisa. O turismo, repetindo a mesma experiência de muitas cidades do nordeste, tornou-se a maior indústria da economia ludovicense. Ainda assim, cometendo os mesmos equívocos do turismo praieiro que privilegiava uma visão meramente degustativa da realidade e desinvestindo em setores econômicos capazes de alavancar o próprio turismo. Não se investe em educação voltada para a preservação do patrimônio histórico, não se investe em arqueologia, não se investe em cursos com foco em ecologia, produção de alimentos agroecoloicos e etc. A aplicação dos preceitos do turismo em São Luis reduz os potenciais da cidade a uns meros espaços físicos e umas meras narrativas que os turistas esquecem rapidamente. Como o discurso do turismo seja ele qual for foi montado para atender um publico especifico, a maior parte da população de São Luis o vislumbra em situações especiais. No restante do ano a rotina do empobrecimento intelectual prevalece

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Máquinas pesadas atolam nos campos naturais de Anajatuba

Depois de muito tempo que ele entendeu para onde aqueles dois homens, uma mulher e uma criança se dirigiam. Aquela pequena comitiva tinha por direção as ilhas que se formavam nos campos naturais de Anajatuba quando as águas do rio Mearim subiam. Um dos homens retornava as ilhas para conferir a situação dos seus porcos que soltava no começo do inverno e que buscaria quando o rio baixasse. Programara-se para permanecer longe de casa por dois ou três dias no máximo. Sobre os ocupantes do outro barco (um homem, uma mulher e duas crianças) não prestou muita atenção. Dali onde partiam, podia-se navegar para Arari, Santa Rita, Bacabeira ou quem sabe São Luis. Nas ilhas dos Campos naturais, residem várias comunidades quilombolas que para se deslocarem em tempos de rio cheio navegam em pequenas embarcações a motor e em tempos de rio baixo se deslocam a cavalo ou a pé. Caminhar pelos campos naturais requer uma certa dose de experiência; por mais seco que os campos estejam quem anda pela primeira vez é capaz de atolar com bota e tudo. Os quilombolas que fugiam para essas ilhas pelas razões de sempre (escravidão, briga por terras, ameaças de morte e etc) nos séculos passados deviam passar por sérios apertos ao andarem pelos campos descalços. Eles andavam com pressa e descalços agilizavam os passos para que os seus perseguidores não os alcançassem no meio do caminho. Na pressa, os quilombolas largavam tudo que juntaram na antiga moradia, onde cresceram e formaram família. Os fugitivos escolheram as ilhas como refugio pelos fazendeiros ignorarem esses ambientes. Estes tambem podem ter concluído que os negros não dariam mais trabalho indo para lá. Provável que a ignorância/preguiça dos fazendeiros prevalecera porque difícil enumerar o tanto de ilhas que despontam nos campos e os quilombolas se espalharam por todas elas fundando núcleos. Praticamente impensável para os ignorantes/preguiçosos proprietários devassarem os campos atrás de quilombolas. Os fazendeiros/escravocratas foram espertos em deixar os quilombolas em paz nas ilhas pois temiam ou se perderem ou afundarem nos campos. A historia e a arqueologia dos campos naturais de Anajatuba, Santa Rita e Bacabeira é pouco estudada porque se fosse bem estudada a empresa EDP empresa sino portuguesa de energia tinha aprendido alguma lição com seus antecessores fazendeiros/escravocratas e evitado enviar suas maquinas pesadas revolverem os campos numa época em que ainda há bastante água por debaixo do solo. Deu no que deu, as máquinas atolaram, vazou óleo e peixes morreram.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Os embusteiros

Uma vez ele perguntou o que caracterizava os argentinos. Quem se dispôs a responder, não entendeu a brincadeira. Os argentinos eram exímios embusteiros porque vendiam uma imagem que não condizia com a realidade. Articulava essa ideia em torno da literatura argentina pela qual passara a ter um apreço. Até brincava que Jorge Luis Borges era um tio seu. Se quisesse, podia citar vários parentes seus perdidos pela literatura e pelas ruas de São Luis, cidade onde nascera em 1973. Pois bem, a literatura argentina permite que se brinque com as suas pretensões. A literatura brasileira, ao contrario, é mais séria. Essa vaga ideia de que os escritores argentino tendem ao embuste se alicerça na leitura de vários escritos de Borges em que se depreende um escritor cuja originalidade se baseia nos comentários das obras alheias. Diferente de outros casos, Borges escreve comentários não como critica literária e sim como ficção literária.