domingo, 5 de setembro de 2021

Um nome negro/indigena para um igarapé

O jornalista perguntou ao Valber o nome que ele e sua mulher davam ao igarapé que escorria pela sua propriedade de cinco hectares. Valber respondeu uma vez. E mais uma vez. O jornalista desconfiava se mais tarde se lembraria do nome certo. Pediu papel e caneta. O nome soava diferente. A mulher de Valber se sentara a sua frente para conversar e direcionar as pessoas que giravam a sua volta. “Quero lhe fazer uma pergunta”. “Se eu puder responder...”. “ Fora dos limites da nossa propriedade cresceram um bacurizeiro e um pequizeiro. Tenho medo que alguém os derrube para pranchar”. “ Tem alguma forma de impedir que isso aconteça? Quero ir a secrearia de meio ambiente de Santa Rita para que eles me orientem”. O jornalista explicou que não há uma legislação especifica que proteja nem o bacurizeiro e nem o pequizeiro da mata. Para quem não sabe há o pequizeiro da mata e o pequizeiro da Chapada. Este sim é protegido. A inexistência de uma legislação que proteja essas espécies não quer dizer que o cidadão esteja de mãos amarradas. Os bacurizeiros e os pequizeiros são espécies de vital importância para as populações pobres do Maranhão que vendem os frutos em natura ou as polpas de fruta. Os seus frutos carreiam dividendos para a população pobre de Santa Rita ou de qualquer município maranhense. Os frutos dão lucros sem cobrar nada em troca. Assim como o bacuri e o pequi, é a juçara. O Valber e dona Josely, mulher dele, são proprietários de um terreno de cinco hectares, o que daria um certificado de proprietários para eles, mas no fundo, no fundo os dois pertencem ao reino dos extrativistas, pois as juçareiras se encarregam de vicejar por todo o ambiente. Sem o extrativismo da juçara, a renda de Valber e sua mulher despencaria nos primeiros meses do ano. O jornalista insistiu em perguntar o nome dado ao rigarapé para que anotasse no papel e não pudesse esquecer. Valber respondeu: “Nambuquim”. “O que significa?”. “Não sei. O nome vem desde os tempos do avô da minha esposa”. O avô morrera com quase cem anos portanto o nome vinha de muito antes deles chegarem ali. Com quase 1005 de certeza, afirmar-se-ia que o nome possuía raízes indígenas e negras.

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