quarta-feira, 31 de julho de 2013

ITERMA visita área em São Raimundo das Mangabeiras suspeita de grilagem


O ITERMA (Instituto de Colonização e Terra do Maranhão) está em São Raimundo das Mangabeiras nesta terça feira, 30, para coletar dados sobre a área de terra denominada “Data Ipoeira”, que envolve diversas comunidades do município e onde moram cerca 300 famílias, que lutam para ter a posse das terras reconhecidas pelo estado e para não perderem o que construíram ao longo da vida. Os moradores passaram a enfrentar o conflito de posse quando títulos da terra surgiram em nome de pessoas que não residem na região. Os técnicos do ITERMA estiveram reunidos com moradores na região na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de São Raimundo das Mangabeiras, bem como com o promotor da comarca de São Raimundo das Mangabeiras, Renato Igor Viturino Aragão.

A área, de 9.470 hectares, é “Terra de Ausentes”, sendo que o estado deveria ter titulado os moradores da área fazendo a reforma agrária. No entanto, pessoas de outras regiões do país apareceram com títulos da área. O ITERMA deve apresentar parecer sobre o caso “até o dia 31 de agosto”, segundo informou Luis Augusto Martins, Diretor Fundiário do órgão. Ele disse também que a visita à região tem por objetivo “identificar as pessoas que estão [residindo] na área”.

A presidenta do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de São Raimundo das Mangabeiras, Sonia Maria Vieira da Silva Miranda, disse que o sindicato está ao lado dos trabalhadores e espera que o estado “olhe com carinho e veja a situação das famílias”. Ela disse também que o sindicato defende “terra para quem mora, trabalha e sobrevive dela”, e que acredita que a atitude do ITERMA em visitar a região é fruto da mobilização dos trabalhadores, que chegaram a ocupar o INCRA, em São Luís, durante o Grito da Terra do Maranhão 2013, realizado em junho.

O promotor de Justiça Renato Igor Vitorino Aragão disse que após uma audiência pública realizada em maio começou a acompanhar o caso.

“Depois da audiência pública, o Ministério Público requisitou alguns materiais do fórum, sentenças de juízes que já passaram por Mangabeiras, dizendo que essas terras são terras consideradas como terra de ausentes e que deveriam ser repassadas para o estado para fazer a reforma agrária. Se realmente foi feita essa transferência do estado para essas pessoas de fora, que, pelo que se está constatando, são pessoas que nunca nem pisaram aqui no Maranhão, a reforma agrária não está acontecendo”, disse o promotor, que informou também que o ministério público abriu processo administrativo e está colhendo as informações do caso.

O senhor Gabriel de Carvalho, morador da localidade Sambaibinha, área que faz parte da Data Ipoeira, diz que a situação é complexa e que não sabe ainda qual vai ser o rumo da questão. “A gente não sabe nem explicar direito, porque uma hora a gente se anima, outra hora a gente ver a coisa assim meio devagar”, diz.

O caso ganhou força este ano, depois de uma audiência pública realizada em maio, na Câmara de São Raimundo das Mangabeiras, embora as famílias da região e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais venham reivindicando uma solução para o problema há vários anos. A audiência contou com a presença do Mistério Público Estadual, representado pelo promotor Renato Igor Vitorino Aragão; da Assembleia Legislativa do Maranhão, representada pelo deputado Bira do Pindaré (PT); da Fetaema (Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Maranhão), representada pelo Senhor Joaquim Alves de Sousa, secretário de politicas agrícolas e meio ambiente e do assessor jurídico, Dr. Diogo Cabral; da direção do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de São Raimundo das Mangabeiras (STTR) e com a participação de representantes de entidades da sociedade civil, vereadores e vários trabalhadores rurais.

Após a reunião em “Mangabeiras” a Assembleia Legislativa do Maranhão promoveu uma audiência pública, atendendo um requerimento do deputado estadual Bira do Pindaré (PT), na tarde de quarta-feira, 19 de junho, no auditório Fernando Falcão. A realização do evento foi uma solicitação da FETAEMA, dentro do agendamento de lutas proposto pelo movimento “Grito da Terra do Maranhão” 2013. Aproximadamente 500 trabalhadores e trabalhadoras rurais do Maranhão participaram da audiência. Durante o Grito da Terra do Maranhão 2013 os trabalhadores fizeram também a ocupação do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), de onde partiram os encaminhamentos, incluindo o de resolver a questão da “Data Ipoeira”.
memóriasdemangabeiras

OS MONSTROS VERDES DO BAIXO PARNAIBA


Bastosandero65@gmail.com

          Viajando certo dia com a Antropóloga Professora Drª Maristela da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), alguns de seus colegas de profissão e alunos, em direção aos povoados: São Raimundo município de Urbano Santos e Baixão da Coceira município de Santa Quitéria do Maranhão, Saímos da sede de Urbano Santos passando por dentro do Povoado Custódio, ao chegarmos próximo deste humilde povoado nos deparamos com um enorme portão que dava acesso à uma imensa plantação de eucalipto da Empresa Suzano Papel e Celulose, como pode? Uma tradicional comunidade pedir licença a Suzano para entrar em seu próprio território, os visitantes ficaram assombrados com tamanho desacato. Seguimos viagem e mais na frente encontramos um cemitério na beira do caminho, dentro desse mesmo campo de eucalipto, quando a Professora Maristela comentou o fato dos cemitérios desta região serem quase sempre localizados nas chapadas – áreas especiais onde a empresa é atuante, esses  monumentos culturais dos povos camponeses também são vítimas de desacato patrimonial aos direitos humanos. Pois nem mesmo os restos mortais dos ancestrais o projeto de agronegócio da empresa respeita.
          O carro em que eu estava era conduzido pela Professora Maristela, então íamos comentando a realidade das relações sociais das comunidades do Baixo Parnaíba no que se diz respeito a resistência contra o eucalipto e a soja, quando um ex-aluno seu que também viajava conosco, o professor Rafael (Rafa), doutorando no Rio de Janeiro – RJ, comentou que já tinha andado por áreas de soja em outros lugares, mas nunca tinha percorrido um campo de eucalipto e visto essa realidade tão de perto da degradação ambiental e violações dos direitos humanos e da vida. Já quase chegando no Povoado Canzilo um assentamento do INCRA, Rafa comparou os gigantescos eucaliptos como se fossem “MONSTROS VERDES” fato que diferencia essas espécies estrangeiras das árvores naturais de nossas florestas e, ideia do título acima. Os monstros sempre altos e agressivos com seus produtos tóxicos que nem mesmo os passarinhos e insetos andam por dentro dessas matas assombrosas e esquisitas, uma supremacia em meio às pequenas roças de mandioca dos nossos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Brincando, eu disse ao Rafa e a Professora Maristela que iria escrever algo sobre esses tais “MONSTROS VERDES” responsáveis pelo grande impacto ambiental e atraso fundiário em nossa região. Os MONSTROS VERDES são os verdadeiros culpados pelas secas de nossos rios, lagoas e riachos, extinção de inúmeras espécies da fauna e flora. Nós sabemos que a plantação de eucalipto em nossa região em especial Urbano Santos sempre foi uma peste para a agricultura familiar e, para o projeto de REFORMA AGRÁRIA de tantas comunidades atingidas diretamente. O sonho utópico progressista e econômico de DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL COM BASE NA AGRICULTURA FAMILIAR, debatido sempre em todos os encontros, congressos e seminários sobre direitos humanos, meio ambiente e Reforma Agrária... infelizmente ainda esperamos por esse tal projeto com muito otimismo e esperanças. O sistema capitalista exacerbado abusa das comunidades tradicionais. Pois não fazem nada além de algumas placas de cor lilás orientando os destinos das estradas que dão acesso aos outros povoados circunvizinhos, enquanto pode-se sentir na pele e nos olhares das crianças desnutridas em volta de um todo sistema. Uma paisagem que seus avós e pais viram no passado... essas crianças não terão mais o privilégio de vê-la: rios perenes, lagos e brejais repletos de peixes e buriti, fartura de legumes, caça a vontade, muito pequi e bacuri nas chapadas, além de mangaba, pitomba de leite... em fim, o manejo secular do extrativismo vegetal. Tudo isso foi antes, tudo isso desapareceu completamente e está a cada dia desaparecendo. A zona rural de Urbano Santos foi modificada, está perdendo suas verdadeiras raízes culturais, o êxodo rural avançando e tomando conta de nossa rica região mudando as maneiras das pessoas pensarem e agirem. Essas terras foram invadidas e usadas por uma empresa multinacional e grupos dos chamados gaúchos, não estou inventando nada disso... foi a ciência que detectou através de pesquisas e confirma com ênfase: um grande exemplo é a questão da chocante cena de DESAPARECIMENTO TOTAL DO RIACHO CHIBEU, no Povoado Todos os Santos – Urbano Santos.
          Os MONSTROS VERDES não trazem nenhum beneficio às comunidades tradicionais, ficamos de olhos abertos para fiscalizar nossa terra, para defender com unhas e dentes o cerrado, defender os animais, a natureza... a vida. Como é bonito apreciar a paisagem dos bacuris, candeias tortas, capinzais, pequis, bacuris, o pasto verde e natural. Nossas chapadas estão em perigo e a cada momento ameaçadas por esses monstros horríveis que são os verdadeiros fantasmas de nossa tão querida e amada REGIÃO DO BAIXO PARNAIBA MARANHENSE – Maranhão – Brasil.


JOSÉ ANTONIO BASTO
Urbano Santos-MA, Julho de 2013
*escritor, poeta e militante das caravanas de direitos humanos na Região do Baixo Parnaíba Maranhense.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Juíza concede reintegração de posse à empresa do tio

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A questão fundiária vem atingindo proporções e contornos insuportáveis no Brasil e no Maranhão, exigindo que a população se posicione firmemente contra a expulsão de comunidades para dar lugar ao latifúndio, à soja e ao eucalipto, bem como para a especulação imobiliária, como vem acontecendo nas zonas urbanas e no campo, atingindo também populações tradicionais, indígenas e quilombolas.
A Quarta Assembleia Popular da Ilha de São Luís, realizada sábado passado (dia 27 de julho) em Paço do Lumiar, testemunhou a gravidade dessa questão naquele município. Políticos dirigem-se de forma constante para as comunidades ameaçadas, prometem resolver a questão, mas não passa disso: promessas sem efetividade. O secretário-candidato ao governo do estado, Luís Fernando, foi um dos que prometeu, segundo conta a comunidade, e depois de um encontro em que disse que iria apoiar e "resolver a questão", não mais apareceu nas áreas atingidas. O prefeito de Paço do Lumiar, Josemar, durante a campanha, chegou a afirmar que na cidade nenhuma comunidade sofreria ameaça de ser expulsa de suas terras. Após eleito, mudou o discurso, limitando-se a dizer que as famílias serão inscritas no Programa Minha Casa Minha Vida. "Não é isso que queremos", disseram os habitantes durante a Assembleia Popular. "Casa já temos, o que queremos é o direito de permanecer nas nossas casas! De que adianta nos tirar do local onde moramos e tiramos nosso sustento [várias famílias são de agricultores] e nos colocar em prédios onde nada poderemos fazer? Vamos viver de quê?", questionam.
A questão é tão grave que consta como ponto de pauta emergencial, apresentada e defendida pelo movimento que ocupou a Câmara de São Luís por sete dias, na maior ocupação já realizada na história da Casa. Os vereadores, pressionados, incluíram esse item na pauta da Sessão Aberta que foi exigida pelos ocupantes e que acontecerá dia 7 de agosto, às 10h da manhã, no Plenário da Casa. É exigido que eles envidem esforços para abrir diálogo com os gestores competentes para resolver a questão, que atinge toda a Ilha de São Luís (veja aqui).
Além de não contar com o apoio dos agentes públicos, os bairros atingidos na Ilha, em especial no caso de Paço do Lumiar, ainda têm que ao contrário, enfrentar o poder público, aliado dos especuladores imobiliários que tentam tomar as terras para vender loteamentos. É o caso da empresa GDR, de propriedade do ex-dono da finada rede de lojas Gabryella (vendida para um grande grupo varejista), cujo parentesco com a juíza da Comarca de Paço do Lumiar é suficiente para que ela se desse por suspeita e abandonasse as ações em que o empresário figura como parte. Ao contrário disso, as reintegrações têm sido concedidasa pela magistrada de modo sistemático. As comunidades atingidas estão buscando apoio de advogados atuantes de causas populares para coibir o abuso.
As Assembleias Populares que vêm discutindo problemas como esse, vividos pela população de São Luís, vêm sendo constantemente divulgadas pelo Sintrajufe, que chama, ainda, a categoria que representa, a se juntar a esse tipo de movimento e organização social que vem mobilizando o país para que a população encaminhe seus problemas. No caso específico dos despejos forçados das comunidades, é válido ressaltar que o tipo de atividade desenvolvida pela nossa categoria, com a proximidade com o mundo jurídico, podemos, trabalhadores do Judiciário Federal e do MPU, muito contribuir para a diminuição do drama de nossos semelhantes.
Fique atento para os próximos encontros nesse sentido, divulgados nos meios de informação do Sintrajufe, e participe!

Comunidades rurais de Barreirinhas são tituladas


30 de julho, 2013 - 11h24
A agricultora Bernarda Meneses Corte, 64 anos, e 10 filhos, chegou cedo ao largo do povoado São José dos Viúvos, zona rural de Barreirinhas, para participar do ato de entrega de Títulos de Terra. A produtora integra uma das 140 famílias de trabalhadores rurais contempladas com o Título de Domínio Comunitário, concedido pelo Governo do Maranhão à Associação Comunitária Agropecuária de São José dos Viúvos (2.134 hectares) e à Associação dos Moradores do Povoado Jacu II (1.894 hectares), no município de Barreirinhas.
“Era o que eu mais desejava: ter a segurança de que ninguém mais vai chegar aqui dizendo que a terra não é nossa. Agora vou deixar para os meus filhos continuarem plantando nosso feijão”, disse dona Bernarda Menezes, muito sorridente, em meio a dezenas de outros que, após 22 anos de espera, também concretizavam o mesmo sonho.
O ato em Barreirinhas dá continuidade ao projeto do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Agricultora Familiar (Sedes), de promover ampla regularização fundiária no Maranhão e reduzir a pobreza no campo. Além dos 2 Títulos de Domínio Comunitário, foram concedidas também 45 Declarações de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura familiar (DAPs ao Pronaf) a famílias de agricultores dos Assentamentos de Santa Rosa (24) e Jabuti (21), também em Barreirinhas.
Participaram da  solenidade de entrega dos documentos o titular da Sedes, secretário Fernando Fialho; o presidente do Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma), Luiz AlfredoFonseca; a deputada Graça Paz, o presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Barreirinhas, Francisco Farias, além de representantes da classe política local.
Em ato simbólico, os presidentes das associações comunitárias de São José dos Viúvos e do Povoado Jacu II, respectivamente, José de Ribamar Silva e Alberto Oliveira, receberam o Título em nome de todos os associados. “Estamos muito felizes, o sonho foi concretizado, e agora vamos lutar por outros benefícios para a nossa comunidade”, declarou Alberto Oliveira.
O secretário Fernando Fialho afirmou ser este um dos maiores e mais efetivos programas de regularização e distribuição de terra desenvolvido no país. “A concessão desses títulos de terra e das DAPs é o início para a conquista de novos benefícios a essas famílias, como o acesso ao crédito, a progamas habitacionais rurais, ao compra local e a aquisição de alimentos, por exemplo, que são projetos desenvolvidos dentro da nova política de incentivo à agricultura familiar”, frisou Fialho.
O presidente do Iterma, Luiz Alfredo Fonseca, explicou que o Título de Domínio Comunitário é o documento outorgado a uma associação comunitária que representa um determinado número de trabalhadores rurais, como é o caso das duas instituições beneficiadas em Barreirinhas. Ou seja, cada título comunitário concedido beneficia uma quantidade expressiva de famílias integrantes das associações agraciadas.
Ele enfatizou ainda que depois os Títulos de Domínio (tanto individual como comunitário) são quitados, levados a registro no cartório competente e liberadas suas cláusulas resolutivas, os trabalhadores outorgados passam a ser proprietários definitivos de suas respectivas parcelas/áreas, podendo fazer uso delas principalmente para acesso a créditos disponibilizados por instituições financeiras voltadas para o incremento da produção agrícola, como o Pronaf.
No Maranhão, de 2005 até julho deste ano, foram entregues 150 Títulos de Domínio Comunitário, perfazendo um total de aproximadamente 759.518,00 hectares.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Parlamentares autores do PLP 227 foram financiados por empresas beneficiadas pelo teor do projeto


29/7/2013
Brasil - Ao menos seis dos maiores grupos empresariais nacionais e estrangeiros da rede do agronegócio, mineração e da indústria de armamentos investiram R$ 1 milhão 395 mil nas campanhas eleitorais – 2010 - de nove dos 17 deputados federais que assinaram o PLP 227. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - confira abaixo a lista completa de doadores das campanhas dos 17 parlamentares autores do PLP 227Bunge, Cosan, JBS, Gerdau, Seara e Associação Nacional da Indústria de Armas são as grandes investidoras.
A reportagem é de Renato Santana e publicada pelo Cimi, 26-07-2013.

Outras dezenas de empresas e multinacionais de grãos, agrotóxicos, frigoríficos, mineradoras e construtoras estão também figuradas entre as principais doadoras dos parlamentares que assinaram o PLP 227. Em tempos onde integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária denunciam supostos interesses escusos de organizações indigenistas e ONG’s ambientais, sem nunca denominar quais, as cifras demonstram na prática quem tem que se explicar em matéria de interesses. 

PLP 227, em tramitação e gestado no ano passado, pretende criar lei complementar ao artigo 231 da Constituição Federal – “Dos Índios” – apontando exceções ao direito de uso exclusivo dos indígenas das terras tradicionais, em caso de relevante interesse público da União. Dentre as tais exceções, conforme o PLP 227, está a exploração dos territórios indígenas pela rede do agronegócio, empresas de mineração, além da construção de empreendimentos ligados aos interesses das esferas de governo – federal, estadual e municipal.

Sendo assim, a aprovação do PLP 227 interessa diretamente setores empresariais nacionais e internacionais, que vêem nas terras indígenas campo fértil e promissor para a exploração de suas áreas produtivas, atreladas massivamente às commodities. Esses grupos comerciais financiaram parte ou o total das campanhas políticas dos parlamentares que propuseram o PLP 227. Como diz o ditado, quem paga a orquestra diz qual é a música a ser tocada. A prática não prova o contrário, a observar que os 17 deputados federais são conhecidos opositores dos direitos indígenas em suas atividades parlamentares e profissionais.  

A multinacional estadunidense Cosan, produtora de biocombustíveis e que mantinha usinas de cana em terras indígenas no Mato Grosso do Sul, investiu R$ 150.000,00 nas campanhas eleitorais de Luiz Carlos Heinze (PP/RS), franco opositor das demarcações de terras indígenas, Giovanni Queiroz (PDT/PA), latifundiário paraense, Roberto Balestra (PP/GO), grande proprietário de terras no centro-oeste, e Moreira Mendes (PSD/RO), relator do PLP 227 e também latifundiário com interesses econômicos voltados ao agronegócio.

Porém, essa é apenas a ponta do iceberg. A multinacional JBS, maior frigorífico do mundo notificado em 2011 pelo Ministério Público Federal (MPF) por comercializar animais criados na Terra Indígena Marãiwatsédé, do povo Xavante, despejou nos cofres das campanhas eleitorais R$ 420.000,00. A Gerdau, cujo proprietário, Jorge Gerdau, ganhou em 2011 um gabinete bem ao lado da sala da presidente Dilma Rousseff para aconselhar o governo, investiu R$ 160.000,00.

Já a Seara, do grupo internacional Marfrig, dos mais destacados na rede do agronegócio, R$ 75.000,00. AAssociação Nacional da Indústria de Armas e Munições doou 230.000,00. A holandesa Bunge, gigante mundial do agronegócio fundada no século XIX e que chegou ao Brasil na segunda década do século XX, depositou nos deputados do setor R$ 360.000,00.

Os reais interessados             

Tornou-se comum, no Congresso Nacional, parlamentares ruralistas, ligados às redes do agronegócio e latifúndio, tomarem uso da palavra nas tribunas da Câmara e Senado federais para atacar organizações indigenistas e ONGs ambientais. As acusações são homogêneas e se concentram em supostos interesses escusos, por vezes ligados a grupos internacionais, que ameaçam a soberania nacional e o desenvolvimento do país. 

O último a vociferar tais acusações foi o deputado federal Moreira Mendes (PSD/RO), beneficiado com recursos da indústria de armas, Cosan e JBS. O parlamentar se indignou com um dia de combate ao PLP 227 nas redes sociais, afirmando que recebeu mais de 200 mensagens acusando-o de querer o fim do artigo 231 da Constituição. Chamou os manifestantes de “agourentos” e se referiu a organizações indigenistas e ONG’s como detentoras de interesses escusos. Não apontou quais interesses seriam.
A senadora Kátia Abreu (PSD/TO) também já adotou tal recurso de oratória, inúmeras vezes, relacionando organizações indigenistas, Funai e Ministério Público Federal (MPF) como símbolos dos batidos interesses ocultos.

Para os mais exaltados, é até mesmo o caso de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o que, ou quem, está por trás das demarcações de terras indígenas. Vale tudo no jogo de interesses, muito longe de ser apenas das empresas financiadoras das campanhas. Paulo César Quartiero (DEM/RR) era um dos rizicultores, os chamados arrozeiros, que detinha área dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. O parlamentar chegou a ser preso pela Polícia Federal acusado de comandar um ataque a tiros contra comunidade indígena. 

Quem financia os autores do PLP 227/2012?

Homero Pereira
Produtor Rural e Técnico em Agropecuária
PSD/MT
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária - FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 2.934.764,68
Alguns doares de sua campanha: Bedin Agropecuária, Blairo Borges Maggi, Bunge Fertilizantes, Carolina Armazens Gerais Ltda, Agrofrango Ind. e Com de Alimentos Ltda, Construções e Comércio Camargo Correa S/A, Cooperativa Agrícola de Produtos de Cana de Rio Branco Ltda, Coopersucar, Dagranja Agrindustrial Ltda, Fazenda Paiaguás S/A, Fazenda Planorte S/A, Frigorífico Mabella Ltda, MFB Marfrig Frigoríficos Brasil S/A, Nogueira Ind. Com Implementos Agrícolas S/A, O Telhar Agropecuária Ltda, Usina Barralcool S/A, Usina Itamarati S/A.

Reinaldo Azambuja
Agropecuarista
PSDB/MS
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária - FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 3.072.342,95
Alguns doadores de sua campanha: Agrícola Panorama Comércio e Representações Ltda, Agrodinamica Comercio e Representações Ltda, Boa Vista Comércio de Produtos Agropecuários Ltda, CNEC - Engenharia S.A, Coopsema Cooperativa Agrícola Mista Serra de Maracaju, Dinâmica Produtos Agrícolas Ltda, E.M.P. Construtora Ltda, Engevix Engenharia S/A, Fazenda Recreio Agro Pastoril Ltda, Klabin S.A., Sape Agropastoril Ltda.

Carlos Magno
Técnico em Agropecuária
PP/RO
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária - FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 878.603,72
Alguns doadores de sua campanha em 2010: Central Agrícola Ltda – EPP, Rical - Rack Indústria e Comercio de Arroz Ltda.

João Carlos Bacelar
Engenheiro Civil
PR/BA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 356.684,00
Alguns doadores de sua campanha em 2010: Itaú Unibanco S/A, Liderança Capitalização S/A.

Luis Carlos Heinze
Engenheiro Agrônomo e Produtor Rural
PP/RS
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 1.557.728,41
Alguns doadores de sua campanha em 2010: AB Comercio de Insumos Ltda, Agrofel Agro Comercial Ltda, Agrogen S/A – Agroindustrial, Agropecuária Pepa Ltda, Agros Assessoria Agronômica Ltda, Associação Nacional ind. Armas e Munições, Bocchi Ind. Com. Transp. Benef. Cereais Ltda, Bsbios Ind. Com. Biodiesel Sul Brasil S/A, Bunge Fertilizantes S/A, Câmera Agroalimentos S/A, Camil Alimentos S/A, Ceolin Agropecuária Ltda, Cmpe Celulose Riograndense Ltda, Coarroz Coop. Agroindustrial Rosariense Ltda, Coop. Crédito Rural dos Plantadores de Cana, Cosan S/A - Ind. Com., Coxilha Ind. Fertilizantes e Corretivos Ltda, Fertilizantes Piratini Ltda, FMW Comércio e Representações de Insumos, Gerdau Comercial de Aços S/A, Grandespe Semente e Agronegócios Ltda, JBS S/A, Klabin S/A, Maquinas Agrícolas Jacto S/A, Marasca Com. Cereais Ltda, Moinho Iguaçu Agroindustrial Ltda, Seara Alimentos S/A, SLC Agrícola S/A, Três Tentos Agroindustrial Ltda, Urbano Agroindustrial Ltda.

Giovanni Queiroz
Médico e Agropecuarista
PDT/PA
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 487.750,00
Alguns doadores de sua campanha em 2010: Agropastoril do Araguaia Ltda, Cosan S/A Açúcar e Álcool, Frigorífico Rio Maria Ltda, Mineração Buritirama S/A.

Nilson Leitão
Técnico Contabilidade, Estatística, Economia Doméstica e Administração
PSDB/MT
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 1.368.090,68
Alguns doadores de sua campanha em 2010: Agrimat Engenharia e Empreendimentos Ltda, Galvão Engenharia S/A.

Marcos Montes
Médico, Professor de Medicina, Médico do Trabalho
PSD/MG
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 2.243.153,97
Alguns doadores de sua campanha em 2010: Agroexporte Ltda, Agronelli Ind. e Com. de Insumos Agropecuários Ltda, Agropecuária Uberaba S/A, Associação Nacional de Armas e Munições, Bombril S/A, Bunge Fertilizantes S/A, Celulose Nipo Brasileira S/A, Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, Coop. Central de Prod. Rurais de Minas Gerais Ltda, Coop. de Credito Rural dos Prod. de Cana de Açúcar da Zona de Guariba, Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba, Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha – MG, Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupe Ltda, Cosan Indústria e Comércio S/A, Duratex S/A, Gerdau Comercial de Aços S/A, J . F . Citrus Agropecuária Ltda, JBS S/A, Ourofino Saúde Animal Ltda, S/A Usina Coruripe Açúcar e Álcool, Ultrafertil S/A, U.S.A Usina Santo Angelo Ltda, Usiminas Mecânica S/A, Usina Caeté S/A Unidade Delta, Usina Cerradão Ltda, Usina de Laticínios Jussara S/A.

Roberto Balestra
Agropecuarista, Técnico em Laticínios, Comerciante, Industrial e Advogado
PP/GO
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 2.398.288,50
Alguns doadores de sua campanha em 2010: Bom Sucesso Agroindustrial Ltda, Caçu Comércio e Industria de Açúcar e Álcool Ltda, Centroalcool S/A, Coopersucar - Cooperativa de Produtores de Cana de Açúcar e Álcool Est. São Paulo, Cosan Centro Oeste S/A Indústria e Comércio, Gerdau Comercial de Aços S/A, Usina Boa Vista S/A, Usina Goianésia S/A, USJ Açúcar e Álcool S/A, Vale do Verdão S/A Açúcar e Álcool.

Valdir Colatto
Engenheiro Agrônomo
PMDB/SC
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 559.238,22
Alguns doadores de sua campanha em 2010: As. Nacional de Ind. de Armas e Munições, Bunge Fertilizantes S/A, Celulose Nipo Brasileira S/A, Coopersucar de Produtores de Cana de Açúcar Ltda, Fibria Celulose S/A, Implementos Agrícolas Jan S/A, Klabin S/A, Madecal Agro Indl. Ltda, Seara Alimentos S/A, Suzano Papel e Celulose S/A.

Domingos Sávio
Médico Veterinário
PSDB/MG
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 1.673.293,26
Alguns doadores de sua campanha em 2010: Coop. Agropecuária de Divinópolis Ltda, Coop. Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais, Coop. dos Produtores Rurais do Serro Ltda, Gerdau Comercial de Aços S/A, Industria e Comercio Laticínios Maria Madalena de Souza Ltda, JF Citrus Agropecuária Ltda, Laticínio SVR Ltda, Laticínios Porto Alegre Ind. Comercio Ltda, Laticínios Tirolez Ltda, Usiminas Mecânica S/A, Usina Caeté S/A.
 
Paulo Cesar Quartiero
Engenheiro Agrônomo
DEM/RR
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 154.850,00
Alguns doadores de sua campanha em 2010: Norteagro - Norte Aeroagrícola Ltda, Camil Alimentos S/A.

Josué Bengtson
Pastor Evangélico
PTB/PA
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 629.011,50
Alguns doadores de sua campanha em 2010: JBS S/A

Oziel Oliveira
Administrador, Agricultor
PDT/BA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 186.584,96
Alguns doadores de sua campanha em 2010: Indústrias Reunidas Coringa Ltda.

Francisco Araújo
Não está em exercício
PSD/RR
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 34.576,50

Jerônimo Goergen
Advogado
PP/RS
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 793.945,40
Alguns doadores de sua campanha em 2010: A N da Ind de Armas e Munições e Seus Comp., Associação das Revendas de Agrotóxicos de Ijuí, Bocchi Ind. Com Transp. e Beneficiamento de Cereais Ltda, Bsbios Ind. e Com de Biodiesel Sul Brasil S/A, Câmera Agroalimentos S/A, CMPC Celulose do Brasil Ltda, Comercio de Cereais JRB Ltda, Comercio de Cereais Ferlin Ltda, Coxilha Ind. de Fertilizantes e Corretivos Ltda, Frigorífico Silva Ind. e Com Ltda, Gerdau Comercial de Aços S/A, Grandespe Sementes e Agronegócios Ltda, JBS s/a, Laticínios Bom Gosto S/A, Oleoplan S/A - Óleos Vegetais Planalto, Sementes Estrela Com Import. e Expot. Ltda, Três Tento Agroindustrial Ltda, Viera Afrocereais Ltda.
 
Moreira Mendes
Advogado, Agropecuarista
PSD/RO
Relator do PLP 227/2012 na Comissão de Agricultura
Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA
Total de receitas nas eleições de 2010: R$ 1.136.062,95
Alguns doadores de sua campanha em 2010: Agropecuária Itauna Ltda, Assoc. Nacional da Ind. de Armas e Munições, Big Sal Ind. e Comd. e Suprim. Animal, Bunge Fertilizantes S/A, Cosan S/A Ind. e Com, JBS S/A, Marchesan Impl. Maq. Agric. Tatu S/A, Rical Rack Ind. e Com. de Arroz Ltda.
Fonte: IHU

Quilombolas recebem título de terra do Governo do Estado


Foram contemplados os moradores do povoado de Santa Rita do Vale, que agora podem participar dos programas do Governo Federal que beneficiam agricultores familiares e comunidades quilombolas.
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As 100 famílias quilombolas do povoado Santa Rita do Vale, situado no município de Santa Rita, receberam o título de reconhecimento de domínio do secretário do Desenvolvimento Social e Agricultura Familiar (Sedes), Fernando Fialho, que no ato representou a governadora Roseana Sarney. Com o título, os moradores e integrantes da Associação de remanescentes de quilombolas São Raimundo Nonato do povoado de Santa Rita, podem participar dos programas do Governo Federal que tratam de benefícios destinados a agricultores familiares e comunidades quilombolas.
Também participaram do ato de entrega do título, ocorrido na sexta-feira (26), o presidente do Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma), Luiz Alfredo Fonseca, acompanhado dos diretores Levi Alves (de Assentamento), e Luiz Augusto Martins (Recursos Fundiários). O representante da comunidade, Henrique de Jesus Ramos Launé, diz estar recompensado pelo trabalho que teve para que recebessem o título. “É uma conquista. Agora, buscaremos outras melhorias como a construção de casas e investimento para agricultura para os moradores”, garantiu.
Ao entregar o título, Fernando Fialho destacou que se trata de mais uma ação afirmativa de Governo na regularização de terra no Estado, desempenhada de forma competente pela equipe do Iterma. Ele acrescentou que a entrega de título quilombola é uma ação específica, com atenção diferenciada dada às comunidades tradicionais, como as quilombolas.
Aos 73 anos, Teodomira Bezerra, sorria com a certeza da propriedade da terra porque, a partir de então, ela não passaria pelos sobressaltos do aparecimento de falsos donos da área. “Sempre vivi da roça, criei meus filhos com o trabalho da roça. As famílias vão trabalhar em paz e buscar melhorias para suas vidas”, falou.
O presidente do Iterma, Luiz Alfredo Fonseca, informou que no Maranhão, de 2005 até julho de 2013, foram entregues 148 títulos, num total de 759.518,00 hectares. Neste ano de 2013, a previsão é beneficiar cerca de 850 famílias com títulos comunitários, perfazendo aproximadamente 30 títulos comunitários.
INFORMAÇÕES DETALHADAS
Área: 319,4535 h, da Gleba Agrical II, estando incorporado ao patrimônio do Estado por força da matrícula nº 1.556, fls 085, livro 2- I do cartório de registro de imóveis do município de Rosário, Estado do Maranhão.
Número de famílias: 100 famílias quilombolas

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Veneno utilizado no dendê preocupa comunidades no Pará


Moradores da região nordeste do Estado, onde o plantio disparou, reclamam de problemas de saúde e da perda de pequenas criações de aves
Por Verena Glass | Categoria(s): Notícias
Nos últimos cinco anos, os dendezais tomaram conta da paisagem do nordeste paraense, apontado pelo Zoneamento Agroecológico da cultura como a região mais propícia ao seu desenvolvimento. Apoiada financeira e politicamente pelos governos estadual e federal, o dendê (ou palma), uma espécie exótica à Amazônia, ocupa, de acordo com o governo paraense, cerca de 166 mil hectares no Estado – um aumento de quase 100% em relação à área ocupada em 2008. Junto com a proliferação de grandes monocultivos de dendê , o solo da região nordeste do Estado passou a receber quantidades cada vez maiores de agrotóxicos e outros venenos, indispensáveis, segundo as normas agronômicas adotadas pelo setor, ao bom desenvolvimento e à produtividade da palmeira. O problema é um dos temas do relatório “Expansão do dendê na Amazônia brasileira: uma análise dos impactos sobre a agricultura familiar no nordeste do Pará”, produzido pelo Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis da Repórter Brasile divulgado na última quarta-feira, 12 de junho.
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Igarapés, como o Curuperê, na comunidade quilombola de mesmo nome, podem estar sofrendo contaminação fotos: Verena Glass
Não faltam relatos de indícios de contaminação entre os ribeirinhos. Na comunidade Murutinga, localizada à margem da rodovia PA-252 no município de Abaetetuba, moradores afirmam que mulheres que lavam roupa no igarapé de mesmo nome e que tangencia as plantações de dendê, têm se queixado frequentemente de coceiras e erupções na pele. “Já não da mais pra usar a água do Murutinga, tá tudo envenenado”, afirma seu Sebastião, dono de um restaurante na beira da estrada.
O problema se estende também aos moradores de comunidades vizinhas aos plantios, muitos dos quais estão vendendo suas áreas. Em Concórdia do Pará, o agricultor Antônio Ribeiro possui um pequeno lote na comunidade Castanhalzinho (próxima à comunidade quilombola Curuperé), localizado diretamente na fronteira de um grande plantio de dendê da empresa Biopalma Vale. Segundo Antônio Ribeiro, nos dias de aplicação de veneno no dendê a família tem sofrido com fortes dores de cabeça (“ontem mesmo passei 24 horas no hospital por conta da dor”), e não é possível manter nenhuma criação de aves, como galinhas e patos. “Eu até tentei, mas aí elas ficam doentes, começa a melar o bico, e elas morrem. Não sei dizer se é por causa do veneno, mas acredito que sim”, diz o agricultor. O principal problema da família, no entanto, é que a única fonte de água para consumo, um poço artesiano, está localizado a menos de 50 metros do dendezal.
O igarapé Curuperé, que passa no interior da área de dendê em questão, é um dos principais cursos d’água que alimentam a comunidade quilombola de Curuperé. Segundo José Francisco Maciel, dirigente da Associação de Remanescentes de Quilombos de Nova Esperança de Concórdia (Arquinec), a população local está apreensiva sobre a possibilidade de contaminação com agrotóxicos, principalmente sobre as crianças. “O igarapé é um dos principais locais de lazer da comunidade, há muito medo do que possa acontecer se suas águas estiverem sendo envenenadas”, explica Maciel.
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Antonio Ribeiro tira água de poço localizado a menos de 50 m de dendezal
Volume
De acordo com o técnico da Secretaria de Agricultura do Pará (Sagri), Arnaldo Martins, a média de aplicação de herbicida em um hectare de dendê é de 2 litros por ano, sendo feitas duas aplicações anuais. Tomando como base a estimativa da própria Sagri (166 mil hectares de dendezais), pode-se projetar que são ou serão aplicados todos os anos cerca de 332 mil litros/ano de herbicida na cultura, a depender de sua fase de desenvolvimento.
A isto, pode-se adicionar, na mesma lógica, outros venenos listados na tabela-referência de insumos para a dendeicultura na agricultura familiar, elaborada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). De acordo com o órgão, o dendê exige a aplicação de raticida em volume de 20kg em 10 ha, o que significa 33,2 toneladas/ano nos 166 mil ha de dendezais do nordeste paraense. A aplicação de inseticida (10 litros em 10 ha) totaliza 166 mil litros/ano; formicida isca (10 kg/10 ha), 166 toneladas/ano; e inseticida armadilha (12 cápsulas/10 ha), 19.920 cápsulas/ano.
Estes cálculos obviamente são imprecisos em função da peculiaridade de cada área produtiva e da idade dos dendezais. Além disso, as indicações da Embrapa se baseiam em unidades familiares, e estima-se que o uso de venenos nos grandes plantios seja bem maior. Fato é que a aplicação de agrotóxicos em áreas anteriormente pouco atingidas por estes produtos, com alta ocorrência de cursos d’água e altos índices de pluviosidade, pode estar se tornando um risco para comunidades na região, apontam agricultores, ribeirinhos e quilombolas.

PI – MPF reúne órgãos para debater impacto causado pela construção da Transnordestina

Por , 24/07/2013 17:59

Obra ferroviária atinge diretamente Comunidade Quilombola Contente, em Paulistana (PI)
O Ministério Público Federal (MPF), por meio da 6ª Câmara de Coordenação de Revisão (Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais), realizou reunião com objetivo de encontrar uma solução para os problemas que a Comunidade Quilombola Contente está enfrentando com construção da ferrovia Transnordestina.
A Transnordestina começou como um projeto para ser executado pelo governo federal, como uma das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e foi repassada para Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Com 1.728 km, ela passará por aproximadamente 80 cidades em três estados, ligando o Porto do Pecém, no Ceará, ao Porto de Suape, em Pernambuco.
O principal impacto causado à Comunidade Quilombola Contente é a distância que terá que ser percorrida para ter acesso à um açude e à roças que são fonte de sustento. A obra provocou a obstrução dos caminhos tradicionais, dificultando o deslocamento das pessoas, inclusive de crianças que precisam ir à escola, além de causar prejuízos econômicos, pois as indenizações pagas foram irrisórias, conforme reconheceu o secretário de Transportes do Estado do Piauí, Avelino Neiva. Algumas indenizações não passaram de R$ 5.
Deliberações:
  • Representantes da Transnordestina e da Fundação Palmares melhorarão comunicação com Comunidade Quilombola Contente com objetivo de informá-los dos passos da obra;
  • Transnordestina encaminhará ao MPF o estudo de impacto ambiental;
  • Os órgãos presentes se comprometeram a estudar mudança de parâmetros para reaver o valor da indenização às famílias quilombolas.
Participaram da reunião a subprocuradora-geral da República Maria Eliane Menezes de Farias, o procurador da República em Picos Franscisco Alexandre de Paiva Forte e representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura (DNIT), da Fundação Palmares, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), da Secretaria de Transportes do Piauí (Setrans) e da Transnordestina. O encontro foi realizado na sede da Procuradoria Geral da República, em Brasília, nesta segunda-feira, 22 de julho.

Um dia em Bom Jardim: superação de medos e a alegria do reencontro



Chegar a maioria das áreas de assentamento na Região do Munim demanda tempo, trabalho e principalmente vontade. No caso de Bom Jardim no P.A Rio Pirangi (com seus vastos e ricos 31 mil ha) localizado em Morros/MA, requer ainda mais: força, energia e superação dos próprios limites. Superação de medos e angústias e confiança nas suas habilidades como pessoa e profissional.
 
 
        
Pensar a construção de acordos ambientais e territoriais em nível comunitário, como os que tem sido motivados e realizados pela Tijupá em conjunto com as organizações locais dos agricultores/as familiares é considerar também (e sobretudo) nos acúmulos, valores e tradições expressos de geração em geração. Ou seja, o fator determinante, não é somente o cultivo e o local da sua roça, nos agroecossistemas existentes no entorno das comunidades, mas antes de tudo, a lembrança dos antepassados que o sucederam e os ensinaram a trabalhar, a olhar o dia e a noite, saber a hora e a lua adequada para cada cultivo, é andar no caminho e reconhecer os passos de quem por ali esteve, seja gente ou bicho do mato.
        
 
Neste contexto visualizamos o quão importante se faz o diálogo entre as entidades representativas dos trabalhadores, organizações da sociedade civil que atuam na assessoria à agricultura familiar, dos entes governamentais que executam (ou não) a política de reforma agrária, com as pessoas que de fato conhecem as áreas em que vivem. Porém, a regularização fundiária, que, de fato, é o que ocorre por estas bandas do Maranhão - em vez de uma reforma agrária propriamente dita (ou "política de assentamentos", como criticam os movimentos sociais) - tem implicado na criação ou acirramento de conflitos como nunca dantes vistos. 
 
A demarcação de perímetros dos assentamento deveriam necessariamente serem feitas com muita cautela não atropelando os “limites de respeito” pré-existentes (firmados ao longo de muitos anos entre povoados e famílias agricultoras) pois muitas comunidades tem resolvido de forma trágica os seus conflitos, na qual o princípio da vingança "vez por outra", como se diz na região, tem orientado a “solução” de entreveros inter ou intra familiares.
 
Não é difícil observar casos em que a intervenção da Reforma Agrária na sua institucionalidade racionalista e a mão o pesada dos seus servidores e parceiros na implementação dos créditos e "benefícios" desorganizam tudo o que já existia de acúmulo e convivência harmoniosa e respeito mútuo em diversas comunidades rurais. Relações de compadrio e parentesco são esquecidas, cuidados e zelos são vistos agora como pirraça entre pessoas que deixam de lado o dialogo fraterno e assumem posturas que chegam a chocar os ouvidos mas não chegam a calar a boca dos mais experientes e que lutam incessantemente para assegurar segurança alimentar e qualidade de vida a seus familiares, amigos e a comunidade de um modo geral.

 

É com tristeza e pesar que seu Raimundo mostra a devastação que está sendo feita as margens do Rio Buzo que nutre a mãe terra das famílias que praticam a agricultura familiar agroecológica na comunidade do Bom Jardim. Ele tenta entender o que leva uma pessoa “a cometer tal coisa. Um cara desse não vê que isso não é certo? Daqui de onde ele roçou até a beira do rio não dá mais de três metros ? E quando ele tocar fogo como fica? Vai acabar com tudo, nossa água, nosso banho, nossa vida, será que não percebe que também esta acabando é com a comida da casa dele?”.
  
Consequência da disputa de terra devido a um equívoco na demarcação da área que deixou de fora espaços importantes de capoeira que vinham sendo tratadas e cultivada há mais de 20 anos por uma família, que agora está impossibilitada de exercer seu “habitus” que a identifica e marca sua historia...
 
Conflitos gerados e acirrados... por incompetência dos gestores públicos? Insensibilidade ou o quê? O que importa saber é a diferença que poderemos estar fazendo na vida destas pessoas e as novas lutas e conquistas a serem alcançadas no processo educativo pedagógico que esta questão nos remonta.
 
É mais do que terra, do que água e identidade: é a vida brotando e se ajustando a cada instante e necessidade, é o ciclo da lua norteando os costumes, o canto dos pássaros, a batida do veado no mato, sou eu e você, somos nós a cada instante e a todo o momento fazendo a diferença e construindo um diálogo capaz de gestar mudanças e ampliar horizontes.



Tijupá

domingo, 21 de julho de 2013

Monocultivos de soja – pressão constante sobre a floresta no Baixo Amazonas


Queimada para se livrar da matéria orgânica do desmatamento
A ampliação de monocultivos de soja em Santarém e Belterra é visível e aterradora. Nos ramais que cortam a BR 163 espalham-se grandes extensões de novas terras desmatadas com plantios de grãos transgênicos para exportação com uso intensivo de insumos químicos e agrotóxicos.
 As poucas grandes árvores poupadas testemunham que ali existia uma floresta.

As estatísticas da Produção Agrícola Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam a ampliação da área plantada e quantidade produzida de soja no Pará, concentrada no Sudeste Paraense e no Baixo Amazonas.

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal 
A soja começou a se ampliar no Pará pelo Baixo Amazonas, a partir de 2002, com os municípios de Santarém e Belterra. Depois se ampliou para o Sudeste Paraense suplantando o Baixo Amazonas a partir de 2005.A partir de 2008, Ulianópolis passa a ser o principal produtor paraense, seguido por Santarém, Santana do Araguaia, Paragominas, Dom Eliseu e Belterra.

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal 
  
Paragominas tem a maior área plantada com soja no Pará
Discretamente a soja se expandiu no município de Paragominas, que recebeu o titulo de “município verde”. Em área plantada, Paragominas desponta e se diferencia dos demais municípios atingindo quase 40 mil hectares com o grão em 2011.
                   
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal 
A floresta está cada vez mais no horizonte....

Muitas áreas desertas, sem casas, sem gente, sem bicho, sem mato....

Agricultores familiares e moradores da beira da BR 163, vizinhos dos monocultivos, reclamam do agrotóxico e associam o veneno usado na soja, ao aumento de insetos, queda na produtividade da lavoura, alergias. Mas as pessoas tem medo. Na região já ocorreram muitos conflitos, ameaças e agressões contra ambientalistas e lideranças sindicais de trabalhadores e trabalhadoras rurais que criticam e denunciam a expansão destruidora das monoculturas de grãos na região.
Porto da Cargill e BR 163 - infraestrutura para o agronegócio

Para qualquer visitante fica claro que os principais investimentos produtivos na região de Santarém e BR 163 estão ligados a produção de monocultivos de grãos. Pela Rodovia BR 163 percorrem principalmente caminhões de grãos vindos do Mato Grosso para o Porto da multinacional Cargill.
A presença deste porto graneleiro da Cargill em Santarém, instalado ilegalmente em 2003, sem estudos de impacto ambiental e sem debater com a sociedade, com apoio dos governos e políticos locais, regionais e nacionais, da esquerda pra direita, representa o poder do agronegócio exportador cujo modelo concentrador, agroquímico poluente e empobrecedor da fauna, flora, numa das regiões ainda mais ricas do Pará, nunca foi contestado com firmeza. Pelo contrário, foram os governos que permitiram a instalação da multinacional de forma irregular. Apesar das diversas manifestações e denúncias dos movimentos sociais da região, de trabalhadores e trabalhadoras rurais, pescadores/as, organizações de mulheres, ambientalistas, religiosos, cientistas, a sociedade não foi ouvida.
Atualmente, apesar da queda do preço do milho e da soja, o Porto está utilizando o máximo de sua capacidade, tem soja e milho pra todo lado vindos do Mato Grosso e dos campos vazios de Santarém e Belterra. E já se discute em escoar os grãos por outras paragens....Não é novidade aqui na Amazônia o que a multinacional Cargill vai deixar pros Santarenos, solo arrasado, poluído por agrotóxicos, grãos transgênicos contaminando a produção de sementes crioulas, a insegurança alimentar com a expulsão de agricultores familiares, destruição de quintais diversificados.....
Enquanto isso, nas vilas agrícolas, projetos de assentamento, de comunidades da agricultura familiar, dificuldades de transporte, com ramais e pontes intrafegáveis, é paisagem constante.
Mas os/as agroextrativistas resistem bravamente...
Com sua forma saudável e diversificada de produzir...apesar das dificuldades...
Reflorestamento e fruticultura

Coleta da laranja 

Criação de abelha sem ferrão- aumento da produtividade das frutíferas

E mais um dia nasce na Pérola do Tapajós...

Fotos e texto: Vânia Carvalho