quarta-feira, 31 de julho de 2013

OS MONSTROS VERDES DO BAIXO PARNAIBA


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          Viajando certo dia com a Antropóloga Professora Drª Maristela da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), alguns de seus colegas de profissão e alunos, em direção aos povoados: São Raimundo município de Urbano Santos e Baixão da Coceira município de Santa Quitéria do Maranhão, Saímos da sede de Urbano Santos passando por dentro do Povoado Custódio, ao chegarmos próximo deste humilde povoado nos deparamos com um enorme portão que dava acesso à uma imensa plantação de eucalipto da Empresa Suzano Papel e Celulose, como pode? Uma tradicional comunidade pedir licença a Suzano para entrar em seu próprio território, os visitantes ficaram assombrados com tamanho desacato. Seguimos viagem e mais na frente encontramos um cemitério na beira do caminho, dentro desse mesmo campo de eucalipto, quando a Professora Maristela comentou o fato dos cemitérios desta região serem quase sempre localizados nas chapadas – áreas especiais onde a empresa é atuante, esses  monumentos culturais dos povos camponeses também são vítimas de desacato patrimonial aos direitos humanos. Pois nem mesmo os restos mortais dos ancestrais o projeto de agronegócio da empresa respeita.
          O carro em que eu estava era conduzido pela Professora Maristela, então íamos comentando a realidade das relações sociais das comunidades do Baixo Parnaíba no que se diz respeito a resistência contra o eucalipto e a soja, quando um ex-aluno seu que também viajava conosco, o professor Rafael (Rafa), doutorando no Rio de Janeiro – RJ, comentou que já tinha andado por áreas de soja em outros lugares, mas nunca tinha percorrido um campo de eucalipto e visto essa realidade tão de perto da degradação ambiental e violações dos direitos humanos e da vida. Já quase chegando no Povoado Canzilo um assentamento do INCRA, Rafa comparou os gigantescos eucaliptos como se fossem “MONSTROS VERDES” fato que diferencia essas espécies estrangeiras das árvores naturais de nossas florestas e, ideia do título acima. Os monstros sempre altos e agressivos com seus produtos tóxicos que nem mesmo os passarinhos e insetos andam por dentro dessas matas assombrosas e esquisitas, uma supremacia em meio às pequenas roças de mandioca dos nossos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Brincando, eu disse ao Rafa e a Professora Maristela que iria escrever algo sobre esses tais “MONSTROS VERDES” responsáveis pelo grande impacto ambiental e atraso fundiário em nossa região. Os MONSTROS VERDES são os verdadeiros culpados pelas secas de nossos rios, lagoas e riachos, extinção de inúmeras espécies da fauna e flora. Nós sabemos que a plantação de eucalipto em nossa região em especial Urbano Santos sempre foi uma peste para a agricultura familiar e, para o projeto de REFORMA AGRÁRIA de tantas comunidades atingidas diretamente. O sonho utópico progressista e econômico de DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL COM BASE NA AGRICULTURA FAMILIAR, debatido sempre em todos os encontros, congressos e seminários sobre direitos humanos, meio ambiente e Reforma Agrária... infelizmente ainda esperamos por esse tal projeto com muito otimismo e esperanças. O sistema capitalista exacerbado abusa das comunidades tradicionais. Pois não fazem nada além de algumas placas de cor lilás orientando os destinos das estradas que dão acesso aos outros povoados circunvizinhos, enquanto pode-se sentir na pele e nos olhares das crianças desnutridas em volta de um todo sistema. Uma paisagem que seus avós e pais viram no passado... essas crianças não terão mais o privilégio de vê-la: rios perenes, lagos e brejais repletos de peixes e buriti, fartura de legumes, caça a vontade, muito pequi e bacuri nas chapadas, além de mangaba, pitomba de leite... em fim, o manejo secular do extrativismo vegetal. Tudo isso foi antes, tudo isso desapareceu completamente e está a cada dia desaparecendo. A zona rural de Urbano Santos foi modificada, está perdendo suas verdadeiras raízes culturais, o êxodo rural avançando e tomando conta de nossa rica região mudando as maneiras das pessoas pensarem e agirem. Essas terras foram invadidas e usadas por uma empresa multinacional e grupos dos chamados gaúchos, não estou inventando nada disso... foi a ciência que detectou através de pesquisas e confirma com ênfase: um grande exemplo é a questão da chocante cena de DESAPARECIMENTO TOTAL DO RIACHO CHIBEU, no Povoado Todos os Santos – Urbano Santos.
          Os MONSTROS VERDES não trazem nenhum beneficio às comunidades tradicionais, ficamos de olhos abertos para fiscalizar nossa terra, para defender com unhas e dentes o cerrado, defender os animais, a natureza... a vida. Como é bonito apreciar a paisagem dos bacuris, candeias tortas, capinzais, pequis, bacuris, o pasto verde e natural. Nossas chapadas estão em perigo e a cada momento ameaçadas por esses monstros horríveis que são os verdadeiros fantasmas de nossa tão querida e amada REGIÃO DO BAIXO PARNAIBA MARANHENSE – Maranhão – Brasil.


JOSÉ ANTONIO BASTO
Urbano Santos-MA, Julho de 2013
*escritor, poeta e militante das caravanas de direitos humanos na Região do Baixo Parnaíba Maranhense.

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