sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Negros pobres e solitarios

A Vera, responsável pela Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, explicava a estrutura da igreja; “Antes, no século XVII, aqui era a igreja do Carmo. A frente, onde fica a calçada, era o largo, que tanto pode significar uma praça onde desembocam varias ruas ou a extensão de um espaço a que esse largo se refere.” No ano de 2010, o IPHAN reformou a igreja Nossa Senhora dos Rosários, contudo quem a mantem e quem a administra é a Associação Nossa Senhora dos Rosários que substituiu a irmandade responsável pela administração nos séculos anteriores. Quem escuta ou lê o nome irmandade pensa logo em uma instituição cuja existência se inseria na realidade dos séculos XVII e XVIII, que são séculos tipicamente reinóis de rei e tipicamente religiosos. Essa impressão é justificável pois nos séculos XIX e XX os cidadãos ou se individualizam ou se organizam em instituições sóciopoliticas. A conversa com Vera desfez essa impressão, pois ela própria fez parte da Irmandade, extinta por volta do ano de 2008. Segundo ela, quem fazia parte da Irmandade tomava conta da igreja, ou seja, varria, limpava e etc. Não tinha nada demais. Por dentro, ele discordava. As irmandades foram instituições que administraram igrejas e capelas de São Luis por séculos e se estas não foram derrubadas para em seu lugar construírem prédios modernos se deve em parte as Irmandades e pessoas negras e pessoas pobres. A igreja Nossa Senhora do Rosario quase foi derrubada e caso tivesse sido o que se ergueria em seu lugar? Sob o chão da igreja se escondia ossos e cabelos. Não de pessoas ricas, como se suporia, e sim de negros escravizados que não tinham onde serem enterrados. Os brancos ricos frequentavam a igreja e assistiam a missa sentados enquanto os negros assistiam a missa em pé na parte alta da igreja. Com a construção da igreja do Carmo, os ricos deixam de assistir missa na igreja Nossa Senhora dos Rosários e passa a ser frequentada apenas por pessoas negras, pobres e solitárias.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

As horas cegas

Moby Dick é um livro sobre a caça à uma baleia no século XIX e talvez seja o grande romance americano. Nada escrito na literatura americana se compara a esse romance que continua sendo um dos mais lidos. Um romance que trata de imperialismo, tirania, obsessão e violência contra animais. Moby Dick seria uma leitura simbólica do expansionismo do capitalismo americano. E para efetivar essa leitura Herman Melville, autor do livro, dialoga, principalmente, com Shakespeare, teatrólogo inglês do século XVI. “As peças de Shakespeare versam sobre esse mal e como o homem ao ficar “cego” pela paixão, pelo ódio, pelo poder e pelo conhecimento, enlouquece simplesmente para saborear a insanidade” (Suzano e a “cegueira” do Baixo Parnaiba maranhense). A “cegueira” que pode levar o homem a loucura também está presente em Moby Dick, onde o capitão Ahab recruta marujos para comporem a tripulação do seu navio que caçará Moby Dick a baleia branca a qual ele culpa por ter perdido a perna em um confronto. Ahab ficou “cego” pelo desejo de vingança contra a baleia branca. A “cegueira” individual que se depreende das obras de Shakespeare, de Melville e tantos outros resulta diretamente da “cegueira” coletiva que vê naquele individuo o seu modelo de liderança. Uma hora, mais cedo ou mais tarde, a natureza ou o subconsciente cobra preço por essa cegueira. “O mar nunca dorme”, escreveu Elias Canetti em Massa e Poder. Essa sensação de não poder dormir esteve presente numa viagem de barco de São José de Ribamar, região metropolitana de São Luis, ao município de Icatu, litoral leste maranhense. Só a tripulação enxergava(?) noite adentro e mar afora e os passageiros se contentavam em contar as horas cegas.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Assentamento Califórnia, no Maranhão, é ameaçado de pulverização de veneno

Suzano Papel e Celulose informou que vai expelir veneno no topo das copas de sua plantação de eucalipto com um avião Por Zé Luís Costa, da Página do MST O assentamento Califórnia existe desde 1996, especificamente no dia 26 de março. Ele tem suas raízes na luta de trabalhadores e trabalhadoras rurais, moradores das cidades de Açailândia e Imperatriz, ambas no Maranhão, bem como famílias de outras cidades da mesma região, como São Francisco do Brejão, Buriticupu, Itinga e outras que, juntas, ocuparam a fazenda Califórnia nessa data. A conquista da terra foi realizada em duas ocupações: a primeira com 250 famílias que, depois de despejados, se reorganizaram para reocuparem a fazenda com outras 850 famílias, entrando também no processo de desapropriação outras áreas das proximidades e criando assim outros projetos de assentamento. O maior deles é o PA-Açaí, que também fica na cidade de Açailândia e possui também a mesma luta e resistência. O PA-Açaí é dividido em cinco grandes agrovilas, enquanto o Califórnia tem apenas uma. O assentamento Califórnia valorizou sua base. Durante muito tempo (e ainda hoje) sempre esteve ligado à luta do MST, com organização que faz parte desde sua origem, gerando vários militantes nessa luta pela reforma agrária. Nesse período, a partir do ano de 2005, o Califórnia passou a conviver com uma realidade muito complicada: o cultivo de eucalipto nas suas proximidades. O cultivo de eucalipto nessa época era da Celmar (Celulose do Maranhão), uma empresa subsidiária da antiga Companhia Vale do Rio Doce, hoje Vale S/A. A princípio, naquele período, o plantio de eucalipto seria para produção de celulose em parceria com uma empresa japonesa. Só que esse projeto não vigorou, e a Vale partiu para utilizar o plantio de eucalipto para o fornecimento de carvão vegetal às siderúrgicas da cidade de Açailândia-MA e também às de Marabá, no estado do Pará. Uma carvoaria industrializado foi instalada nas proximidades do assentamento Califórnia e passou a incomodar toda aquela comunidade. Entretanto, alguns militantes partiram para denunciar junto ao Ministério Público por conta da grande quantidade de fumaças que eram soltas sobre o assentamento Califórnia. Isso era ano de 2004 e 2005, aproximadamente. Hoje o assentamento Califórnia se ver novamente ameaçado pelos grandes projetos do agronegócio, ainda com eucalipto, que hoje é da Suzano Papel e Celulose. Depois das dificuldades de relacionamento com a “vizinha” Vale nos anos já citado aqui, a Suzano Papel e Celulose comprou todo o plantio e as terras que estavam plantadas de eucaliptos no Sudeste do estado do Maranhão, instalando sua fábrica na cidade de Imperatriz. Recentemente, no dia 24 de setembro, a empresa procurou os representantes do assentamento Califórnia apenas para informar que vai expelir veneno no topo das copas de sua plantação de eucalipto com um avião. Isso traz uma grande preocupação para os assentados dessa comunidade, porque o assentamento vive da agropecuária e das suas hortaliças. E o que diz um olhar mais técnico? Quem opina é o engenheiro agrônomo Elias Araújo. Ele que também é assentado e integra o setor de produção do MST, no estado do Maranhão. “A lei protege e beneficia o envenenamento da natureza. As normas técnicas desta pulverização, seja pneumático, seja de outra forma, exigem distância mínima de 500m”. Ele acrescenta dizendo que, mesmo sem saber o tipo do produto, as consequências dessa pulverização serão terríveis e que todo governo inteligente precisaria proibir ações do agronegócio de pulverização aérea. “As gotas de veneno viram partículas que se espalham pela corrente de ar e vão longe. Por isso é complicado, essas partículas pegam nuvens e tem-se nuvens carregadas de partículas de substâncias químicas”, conclui Araújo. Maria Leonor Paes Cavalcanti Ferreira, em seu trabalho científico A Pulverização aérea de agrotóxicos no Brasil: cenário atual e desafios, publicado em 2014, apresenta o óbvio: essa ação traz sério danos à saúde e logicamente o veneno solto por avião. Mesmo que seja a uma distância significativa de 4 km a partir da agrovila, a ação vai, de alguma forma, impactar negativamente a produção e a saúde naquela comunidade.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Bate uma saudade

Os negros de São Luis no período colonial ou moravam no casarão dos seus proprietários ou moravam pelas ruas como seres livres. Se bem que, escravidão e liberdade se confundiam em vários momentos e várias situações ainda mais em cidades com poucos anos de existencia como era São Luis. Os negros que moravam nos casarões se submetiam as exigências dos senhores proprietários ( que os compraram de mercadores de escravos) e de seus familiares porque se não o fizessem sofreriam castigos e seriam vendidos para viverem em condições piores do que as que viviam. Os negros que moravam pelas ruas não se submetiam a esse tipo de exploração exercida pelos proprietários e seus familiares, mas, para sobreviverem, tinham que se virar como dava para conseguirem o que comer e conseguirem um lugar para dormir. Nos dois casos, a vivencia em São Luis para um negro se revestia de um pesadelo porque aquela cidade não fora aquela onde crescera, aquele casarão não fora a casa onde nascera e aquela língua que se falava pouco ou nada entendia. Se a pessoa não se sente bem em um determinado espaço, ou ela cai no desespero, e muitos negros se desesperaram de saudade, ou ela constrói ou reconstrói a sua historia nesse espaço. A igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi construída no século XVIII pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosario, irmandade formada por negros que promoviam a alforria de negros escravizados e o sepultamento deles em solo sagrado, no caso uma igreja. Para os negros, frequentar e administrar uma igreja ou uma capela construída por suas mãos dava noções de liberdade e de solidariedade numa sociedade pouco ou nada afeita a esses conceitos disseminados em vários países menos no Brasil. Quem se incumbiu de construir a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos não teve vida fácil, pois dependia de doações de negros escravizados, negros livres pobres e brancos pobres. A ideia de construir a igreja partiu de quem? Alguém concebeu um projeto no papel? Quantos negros se fizeram presentes durante a construção? Quais eram seus nomes? De que parte da África provinham? O que achava a igreja católica e a elite ludovicense da construção de uma igreja que negros administrariam depois de pronta? A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, das igrejas e capelas do centro de São Luis, é a que fica mais próxima do mar. Será que nos negros ao construírem-na vendo o mar batia um sentimento inexplicável? Um sentimento que so anos mais tarde receberia o nome de saudade.

domingo, 25 de outubro de 2020

O capote

“O Capote, de Gogol, é um pesadelo grotesco e sinistro que cria buracos negros no desenho sinistro da vida.” Vladimir Nabokov escreve empolado, contudo a sua definição sobre o conto “O Capote”, de Nicolai Gogol, escritor russo do século XIX, atinge o alvo de forma certeira. A sua definição não se limita a Gogol: ela se expande para outras tantos outros autores que vieram depois (Dostoievski e Kafka). “Todos nós saímos de “O Capote” de Gogol.” A digressão de Dostoievski esvazia qualquer distancia que exista entre a leitura de “O Capote” e o fazer do escritor ou os fazeres dos escritores. Ler e escrever se distinguem e complementam-se. Um remonta a algo e outro monta algo. O passado e o futuro se estilhaçam no presente imperfeito.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

A rua

Os registros históricos sobre a Rua Grande datam da segunda metade do século XVII, quando a Câmara de São Luís deliberou a construção de um caminho que ligaria a cidade até o Cutim – nas proximidades do atual bairro do Anil. Tal empreendimento serviria para facilitar o fluxo de viajantes entre o pequeno núcleo urbano e o interior da ilha e do Maranhão. Neste tempo a via ficou conhecida como Estrada Real e, posteriormente, como Caminho Grande. Seu calçamento ficou pronto somente na gestão de Eduardo Olímpio Machado como descreve Carlos de Lima em seu Caminhos de São Luís. Entretanto o logradouro passaria por várias outras obras de pavimentação em governos posteriores. A partir da segunda metade do Oitocentos e boa parte do século XX, a Rua Grande se caracterizou pelos ares de modernidade, comum na São Luís daquele período, com a presença das linhas do bonde, do calçamento de cimento, de lojas e comércios, além da efervescência cultural e de comportamentos, com enorme fluxo de pessoas. Josué Montello, em seu Os Tambores de São Luís, narra o ambiente deste período “(...) principiava a Rua Grande, com suas casas de modas, os seus bazares, a sua farmácia homeopática, o seu barbeiro sangrador. (...) Havia ainda um professor de dança, um afinador de pianos, dois armadores de galas e funerais, várias lojas de fazendas, um armazém de vinhos e uma chapelaria, além de um ateliê fotográfico muito bem aparelhado para tirar retratos pelo novíssimo sistema de ambrótipo, sobre cristal, malacacheta e encerado”. Domingos Vieira Filho escreveu na sua obra Breve História das Ruas e Praças de São Luís que “por ela desfilam as beldades sanluizenses exibindo suas custosas toiletes e sua graça inconfundível”. No início dos anos 1920, os casarões da Rua Grande sofreram sensíveis alterações, isto por que uma lei municipal determinou a colocação de platibandas nas edificações, danificando seriamente o padrão arquitetônico colonial. Na Rua Grande que nasceram duas das mais conhecidas figuras da cultura literária maranhense e brasileira: Manuel Odorico Mendes e Catulo da Paixão Cearense. O primeiro nasceu no pequeno sobrado de nº 133 onde funcionou as Lojas Pernambucanas, junto ao antigo Beco de Teatro, hoje Rua Godofredo Viana. Odorico Mendes veio ao mundo em 24 de janeiro de 1799 e tornou-se um dos mais respeitados intelectuais brasileiros de sua época. Já Catulo da Paixão Cearense nasceu e viveu toda infância num sobrado azulejado de nº 66 da Rua Grande. Na casa há uma placa de mármore inaugurada em 1940 em sua homenagem e traz a seguinte inscrição: “nesta casa nasceu, a 8.10.1863, Catulo da Paixão Cearense, o grande poeta que soube interpretar, em versos bem representativos da inteligência maranhense a alma popular brasileira”. Ficou imortalizado na história da música brasileira com a canção Luar do Sertão. Em um casarão de canto, situado no cruzamento da Rua Grande com a Rua Godofredo Viana está assentada a antiga residência de Ana Jansen. O sobrado é de arquitetura colonial e composto por azulejos portugueses azuis e brancos de cima a baixo. Ela dominou a cena política maranhense por várias décadas do século XIX, sendo respeitada e temida por muitos. Ana Jansen monopolizou o mercado de água potável em São Luís por anos, já que possuía sítios com fontes no Vinhas e no Apicum, dos quais extraía água para ser vendida nas residências por meio de seus escravos em carroças. Ficou impregnada no imaginário popular através da lenda que conta que nas noites de lua cheia vaga pelas ruas do centro da cidade com sua carruagem puxada por dois cavalos decapitados que expelem fogo e um coche escravo também sem cabeça, emitindo sons de martírios de escravos. À Rua Grande também pertenceu uma das mais tradicionais paróquias da cidade: a Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Mulatos. Datada do ano de 1762, transformou-se em Sede Paroquial apenas em 1805. Na terceira década do século passado houve uma tentativa de reorganização espacial na cidade. Muitos prédios antigos foram demolidos em nome de uma “modernização”. Pedro Neiva, o então prefeito de São Luís e o Interventor Federal no Maranhão na época, Paulo Ramos, decidiram demolir a igreja, que atualmente abriga o edifício Caiçara. Nos seus tempos áureos, a Rua Grande abrigou casas comerciais e de entretenimento. De armarinhos às lojas de tecidos, de farmácias à bazares, de sorveterias à restaurantes, de clubes à cinemas. Estes locais funcionavam como espaços de sociabilidade, pois a Rua Grande, apesar de extensa e diversa, possibilitava os encontros, a troca de experiências, as conversas sobre os acontecimentos cotidianos da cidade. Era um palco que concentrava atores diversificados, de madames da alta sociedade à descendentes de escravos. Constituiu-se num “centro polarizador”, que tudo atraía. O cinema Éden e o Casino Maranhense eram desses espaços de encontro que se localizaram no logradouro. O cine Éden funcionava no prédio onde hoje corresponde à Loja Marisa. Inaugurado em abril de 1919 funcionava também como teatro e era considerado por muitos como o mais importante de sua época. O cine Éden exibiu filmes e peças diversas, além de acolher, no período de momesco, pessoas da cidade para as matinês carnavalescas, sempre animadas por orquestras que ocupavam o seu salão principal. O Casino Maranhense localizava-se no casarão que pertenceu a Ana Jansen. No térreo do sobrado funcionava o Bazar Valentim Maia e no andar de cima havia o bar e o salão, que na época do carnaval eram realizados os bailes à fantasia, que à época mobilizavam pessoas de classes média e alta da sociedade. Os comércios eram um atrativo a mais no logradouro. A exemplo da Casa Ponto Chic, importante bar e restaurante, que concentrava integrantes de tradicionais famílias ludovicenses ou ainda a Mercearia Neves (prédio da atual Lojas Americanas) que vendia bebidas e produtos alimentícios de primeira qualidade. Outros estabelecimentos comerciais também se destacavam: a famosa Farmácia Garrido, a antológica Magazine 4.400, a gigante A Exposição, a tradicional Mercearia Luzitana, o ainda existente Armazém Paraíba e tantos outros que fizeram da Rua Grande o logradouro mais importante de São Luís. A Rua Grande é atualmente um local de passagem de milhares de pessoas oriundas de diferentes partes da cidade, embora tenha perdido frequentadores nos últimos anos para os shopping centers, seu comércio popular ainda ferve, camelôs e vendedores ambulantes gritam a todo instante, as lojas presentes nos casarões vendem de tudo, roupas, eletrodomésticos, eletrônicos, calçados, comida, produtos de beleza, remédios, enfim, um emaranhado de opções para consumidores sedentos. Só quando acaba o dia, na paisagem soturna, no silêncio, ecoam as seculares vozes do interior dos velhos casarões e dos paralelepípedos, testemunhos “vivos” de um importante capítulo da História ludovicense. Luis Eduardo Neves, historiador

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Os caminhos do centro de São Luis

O caminho Grande, atualmente rua Grande, era a via que ligava o centro de São Luis a zona rural. A rua Grande perdeu esse aspecto de interligação porque outras vias assumiram esse papel social e urbanístico. Outras ruas e avenidas se abriram para o passeio e para o transporte de pessoas e de cargas. A rua Grande permaneceu, entretanto, no imaginário popular como a principal via da cidade haja vista o numero de pessoas que transitam por ela sem qualquer compromisso a não ser o simples ato de olhar as vitrines. O Caminho Grande virou a rua Grande do trecho do Canto da Fabril à praça João Lisboa e do João Paulo ao Canto da Fabril homenageia o presidente Getulio Vargas e por mais que tenha alterado sua denominação nesses trechos a sua aparência mantem as características de um caminho tipo o que ainda se vê na zona rural da capital e na zona rural de cidades do interior do estado. Primeiro se constroem as casas e muito tempo depois se faz o caminho. A rua de Nazaré, no centro de São Luis, é mais ou menos assim. Ela é composta de duas ladeiras, uma descida e duas retas. Não só por esses elementos se deduz que ela aparenta ser um caminho. No final do século XVIII, Joaquim Silverio dos Reis morou num casarão na descida da rua de Nazaré. Ele se refugiou nesse casarão em São Luis depois de ter denunciado a Inconfidencia Mineira. Os comerciantes portugueses moravam nesses casarões que também serviam de armazém e comércio. Joaquim Silverio dos Reis não viajou ao Maranhão para iniciar uma vida de comerciante e sim fugir do seu passado de traidor numa terra que poucos iam. O casarão escolhido por ele foi demolido no governo Epitacio Cafeteira (1986-1990). Demoliu-se o casarão mas a historia de Silverio dos Reis não se perdeu e o feitio da rua permanece igual. Pela rua de Nazaré chegavam e saiam pessoas e suprimentos que vinham da e partiam à zona rural de São Luis pelo Caminho Grande o que levava horas pelas condições físicas precárias do caminho. Na verdade, os caminhos compridos ou curtos formataram parte do Centro de São Luis como no caso do Caminho da Boiada que levou esse nome por conta de criadores que levavam seu gado por lá.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Uma pequena Africa

O cara é católico, mas sabe nada sobre os utensílios de uma igreja. Uma peça se sobressaiu no canto da igreja de Santana. Quis matar a curiosidade. “O que é isso?”, perguntou. “Uma pia batismal”, respondeu a senhora que tomava de conta da igreja. A igreja só abria terça, quarta e quinta das nove horas ao meio dia. E o padre responsável rezava a missa só aos domingos. Segundo a senhora, a pia batismal, em determinado momento da história, quase dançou. Iam retira-la do seu lugar o que não ocorreu porque descobriram que peça era aquela. A falta de informações sobre monumentos e peças históricos em São Luis não é nenhuma novidade, agora quando a pessoa se defronta com essa desinformação ao vivo e a cores, a consciência desperta com mais força e vê-se que São Luis não tem para onde correr. Não há publicações que tratem da historia da igreja de Santana. A rua de Santana é uma das ruas do centro historico de São Luis cujas casas ou casarões mais padeceram por alterações em seus projetos arquitetônicos originais tendo em vista as suas utilizações para fins comerciais. Em alguns casos, as alterações foram em todo o prédio e em outros, as partes de cima mantem algo que lembra os traços originais. No momento da conversa com a responsável pela igreja de Santana, duas senhoras entraram e rezaram em pé. Elas deveriam ter uma relação de afeto ou de obrigação para com a igreja, assim se entendeu pela conversa que tiveram com a responsável. Moraram nas redondezas ou continuavam morando. Quem mais transita pelas ruas do centro de São Luis não são os seus moradores nativos e sim os moradores de outros bairros que vem de ônibus ou a pé para consumir, passear, mendigar, trabalhar em lojas, vender produtos a ceu aberto (ambulantes) e assaltar. Uma foto do final do século XIX enviada pelo jornalista fotografo Jose Reinaldo Martins flagrou negros em volta de um monumento à praça da Alegria, famosa por ser palco de enforcamentos nas primeiras décadas desse século. O monumento foi retirado da praça que se modificou por demais da conta no século XX. Enfim, eram os negros que saiam as ruas para executar algum trabalho a mando do patrão e que movimentavam boa parte do comercio do centro São luis. Eles compravam para os patrões coisas da casa, mas para si compravam produtos com fins religiosos. O negócio desse tipo de produtos foi e ainda é um negócio de pessoas de origem negra como se pôde depreender numa rápida passagem pela rua Regente Braulio, vizinha do Mercado Central, o que faz pensar em São Luis como uma pequena África.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Quem ordenou a construção do Outeiro da Cruz?

Quem em toda ilha de São Luis sabe que o escritor Sousandrade foi prefeito da capital do Maranhão? Esse e o tipo de informação que para despertar curiosidade do leitor deve estar ligada a um contexto maior porque pode ser vista como uma mera curiosidade. Ainda mais porque poucas pessoas sabem quem foi Sousandrade. O cidadão não se recorda em quem votou na ultima eleição, vai se recordar quem foi Sousandrade, escritor e primeiro prefeito de São Luis pós proclamação da republica? O motivo maior da pesquisa, em que se descobriu essa curiosidade sobre Sousandrade, era descobrir o nome do prefeito no ano de 1901, o qual foi o senhor Nuno Alvares de Pinho que exerceu o cargo de janeiro de 1901 a janeiro de 1905. Afixou-se o Outeiro da Cruz, monumento histórico construído para homenagear os portugueses que derrotaram os holandeses em 1644, no ano de 1901, só que não há informações de quem partiu as ordens para sua construção. Mais interessante do que descobrir o ordenador, é debater as razões que convenceram parte da elite ludovicense a decidir pela construção de um monumento para homenagear combatentes portugueses, indígenas e negros, defensores da fé católica, que expulsaram os holandeses protestantes quase 260 anos depois do fato histórico. O que explica um governo municipal recuperar um evento histórico que dizia pouco para a republica afinal o combate se deu numa época longínqua e entre dois empreendimentos colonialistas? Os portugueses expulsaram os holandeses não porque se considerassem maranhenses, mas sim porque os dois empreendimentos na epoca disputavam os mesmos espaços econômicos (o oceano Atlântico e o Nordeste brasileiro). Mais cedo ou mais tarde, os holandeses desistiriam do Maranhão visto que o seu maior interesse residia em Pernambuco e nas regiões vizinhas. O que talvez explique a decisão pela construção do monumento em 1901 é a vontade dos administradores públicos de dotarem o espaço publico de referencias historicas que tivessem alguma credibilidade perante a elite devota do catolicismo e que trouxessem algum apelo cívico de união das raças, tópico frequente no discurso da recém proclamada republica brasileira.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A praça não é do povo

Gonçalves Dias convidou Ana Amélia, sua musa, para passear pelas ruas e praças lindas e esquecidas do centro de São Luis. A intenção, por detrás do convite, era passar um tempo com ela. Inevitável que alguém de confiança dos pais os seguissem nesse passeio, caso ela aceitasse, porque eles não poderiam ficar a sos nenhum segundo. Ele a conduziria pela rua de Santana e demorar-se-iam por alguns instantes a praça da Alegria, uma praça que fora palco de enforcamentos. Nenhum dos dois vira um enforcamento sequer, porem sabiam que à praça ocorreram vários. O nome praça da Alegria era uma forma de apagar as marcas de violência deixadas na mente das pessoas que moravam à vizinhança e que circulavam por ali. Quase certo que os sentenciados à forca fossem gente de sangue negro e indígena. A população pobre e escrava que por qualquer desobediência sofria maus tratos às mãos de seus donos. Caso Ana se sentisse incomodada pelo ambiente, ele não pensaria duas vezes e a conduziria pela rua Santaninha para aproveitarem um pouco a tranquilidade da praça da Misericordia que ficava à frente do hospital construído no inicio do século XIX. No século XIX, os espaços para passeio em São Luis se restringiam a poucas praças e essas praças despertavam pouco interesse visual aqueles que as percorriam sozinhos ou acompanhados. Castro Alves escreveu “A praça é do povo/como o seu é do condor”. Não é bem assim. O povo só comparece as praças quando é chamado para algum espetáculo/festejo ou algum evento politico social. O Ludovicense, no geral, primava pela introspecção em e pela indiferença aos espaços públicos. Para ele, o ludovicense, tanto fazia quem construira a praça da Alegria ou a praça da Misericordia, com que fim e quem as frequentaram. Gonçalves Dias e Ana Amélia contemplaram muito essas praças e as ruas do centro de São Luis, juntos ou com outras pessoas, sem parar para analisar se as ruas e as praças ainda existiriam anos após eles terem estado lá.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

O caminhante do centro de São Luis

O poeta romântico Gonçalves Dias subia a rua de Santana em algum momento do século XIX. Esse caminhar acentuado, por certo, sucedeu em boa parte desse século já que ele morava em um casarão logo no principio da rua. Ele tinha olhos para os casarões que circundavam a rua em todo o seu trajeto, mas os seus olhos atinavam mais para o casarão de Ana Amelia, sua amada. Os passos levavam longe sua imaginação, em direção a lugares mais abertos e mais verdes. Nesses lugares tão pouco frequentados, a imaginação sai de seu corpo para experimentar o ao redor. Ele não queria se equiparar ao poeta Gonçalves Dias. Pouco lera sua obra. Ao ler “Gonçalves Dias sobe a rua de Santana”, escrito pelo escritor Geraldo Iensen, pensou por que não imaginar uma cena em que simulava o poeta andando pela rua de Santana com os pensamentos voltados para Ana Amelia, cujos pais criavam obstáculos ao relacionamento por conta do sangue mestiço de Gonçalves Dias. Para que essa imaginação toda não caisse no vazio, decidiu sair do Reviver e pegar o beco da Pacotilha, onde se extasiou com a visão de um consertador de ventilador que escutava Roberto Carlos em algum sistema de som que não se via. Seguiu a rua Grande ou o caminho Grande. Por um acaso, topou com uma amiga professora e cozinheira que planejava acompanhar a inauguração da feira da Praia Grande, prometida pelo prefeito para aquele dia. Não disse, mas sentia saudade do caldo de sururu e do caldo de sarnambi que ela vendia em sua banca. Como faria para se esquivar dos raios solares que incidiam fortemente sobre as pessoas à rua de Santana? Naquele momento, fazia muito calor para uma cidade naturalmente calorenta pra diabo. Caso tivesse tempo de sobra, poderia passar alguns minutos à praça da Alegria. As praças, em geral, não são espaços de aglomeração e sim espaços de distanciamento. A partir delas e nelas, o indivíduo pode enxergar o que está a sua volta e o que está dentro de si. Deslumbrantes são as visões da igreja de São Pantaleão e dos telhados dos casarios à rua do Mocambo tendo por base a rua de São Pantaleão. Além de Ana Amélia, o que mais Gonçalves Dias pensava e com o que ele mais se deslumbrava ao caminhar pelas ruas e pelas praças do centro de São Luis?

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Grilagem de terras e lavagem de dinheiro ameaçam comunidade quilombola de Cocalinho

Os caminhões carregados de eucalipto cortavam a cidade de Presidente Dutra no ano de 2019. O destino não estava estampado, mas se presumia que rumavam para a fabrica da Suzano em Imperatriz, região oeste do Maranhão. Quase chegaria a afirmar mesmo sem provas porque podia se inferir a partir da quantidade de caminhões e a partir do volume de eucaliptos visualizados que o seu destino era um grande empreendimento que no caso só podia ser a fábrica da Suzano. Só faltava esclarecer de onde provinham os caminhões e os eucaliptos. Como não se via nenhuma placa indicativa na estrada, a pergunta ficou no ar, pergunta esta que seria respondida meses mais tarde em setembro de 2020, na comunidade quilombola de Cocalinho, município de Parnarama. A comunidade de Cocalinho é uma comunidade quilombola reconhecida pela fundação Palmares. No começo dos anos 80, os quilombolas ocupavam uma área de mais de seis mil hectares de Cerrado e babaçual. Ele foram forçados a deixar parte desse território e migrar para áreas próximas a brejos em razão de grilagem de terras praticadas por políticos da região. Essa grilagem de terras deu origem a três fazendas que cercam o território quilombola de Cocalinho e o território de Guerreiro. A fazenda Crimeia e a fazenda Cana Brava, que plantam soja, e a fazenda Nomasa, que plantava eucalipto. E o eucalipto que passava pelo município de Presidente Dutra era justamente proveniente dessa fazenda que a Suzano Papel e Celulose arrendou e desmatou em 2009. Suspeitava-se que o projeto de plantio de eucalipto para sua fábrica de celulose em Imperatriz contemplava um lado de lavagem de dinheiro e lavagem de terras griladas em todo o Maranhão. O arrendamento da fazenda Nomasa comprovaria essa lavagem porque como justificar um plantio de eucalipto a mais de seiscentos quilômetros de distancia da fabrica (para uma fabrica de celulose ser viável o ideal é que os plantios fiquem a menos de duzentos quilômetros). E por que não comprar a fazenda e sim arrenda-la já que o empreendimento em Imperatriz tinha futuro garantido? Atualmente, os eucaliptos, que antes viajavam para Imperatriz, tem destino mais próximo que são os fornos das olarias da região de Presidente Dutra. Os eucaliptos da fazenda Nomasa, com o tempo, abrirão espaço para o plantio de soja como já acontece nas fazendas Crimeia e Cana Brava, também arrendadas para investidores do sul do Brasil e para investidores paraguaios. Esses empreendimentos não só lavam dinheiro e lavam grilagem de terras; eles também cometem crimes socioambientais como não possuirem reserva legal, iniciarem incêndios que devastam o território quilombola e ameaçar de cercamento áreas de extrativismo dos moradores.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

A máxima beleza da praça João Lisboa

O amigo filosofo-fotografo, sempre apressado, sumira do mapa. Ele saiu sem se despedir. O que havia dito foi que levaria um aparelho de som para o conserto na rua das Cajazeiras. Ficaram de se rever no solar do MST à rua Rio Branco. Esse dia se mostrou extraordinário por reencontrar um outro amigo fotografo, morador de Alcântara, que dificilmente dava as caras em São Luis. A violência o levou a morar nessa cidade histórica cujo único meio de transporte para chegar a capital é o barco. O fotografo morava perto da praça da Matriz no sitio de uma amiga. No momento em que conversavam, o sol castigava o centro de São Luis sem piedade. Eles se despediram porque o fotografo iria se reunir perto de onde estavam conversando. Ele, por seu lado, subiu uma ruazinha que o levaria a praça João Lisboa e a rua Grande. A reforma da praça João Lisboa, executada pela prefeitura, pouco acrescentou a sua beleza porque ela se concentrou em mudar o piso. A reforma se propôs a fazer só isso? Se a reforma pouco acrescentou, ela tampouco atrapalhou a verdadeira beleza que a praça proporciona e que independe de onde se venha. A perspectiva dos prédios á rua do Egito, do casario histórico e da igreja do Carmo é a máxima beleza que o transeunte acessará pelo espaço compreendido pelo conjunto da praça. O painel estruturado à parede do antigo prédio do Banco do Estado do Maranhão à rua do Egito vale um tempo parado para apreender os seus desenhos e suas cores.

sábado, 3 de outubro de 2020

Modernidade e tradição no centro de São Luis

É mais comum as pessoas subirem a rua de Santana do que acontecer o contrário, as pessoas a descerem. A essa conclusão ele chegou pelo fato que a rua, em seus metros iniciais, do encontro dela com a avenida Magalhães de almeida até a igreja de Santana, estreita-se, quase como um corredor, o que induz as pessoas a se aterem as calçadas curtas, que de tão curtas impedem duas pessoas caminharem par e passo. A sensação de aperto persiste nesse trecho da rua e na esquina da igreja ela desaparece; a rua se alarga (o sol é visto) e as pessoas andam lado a lado ou param por alguns minutos sem que isso impeça o fluxo. As ruas do centro de São Luis, onde antes as pessoas habitavam, viram o casario histórico ser ocupado para fins comerciais ou administrativos. Por conta dessa mudança da função social do casario, os transeuntes apinham as ruas e caminham rápido atrás de mercadorias. Eles não querem saber quem morou naquele casarão ou em que ano a igreja foi construída. E nem tem para quem perguntar. Que tal perguntar as razões que levaram a igreja de Santana, construída em 1790, a não ser derrubada nos afãs modernizantes que a cidade de São Luis experimentou em quase dois séculos (uma igreja que passa o tempo todo fechada). A sociedade ludovicense, pelo que se sabe, não morre de amores por sua historia e pelas suas figuras históricas. Não é uma sociedade que demonstre carinho pelo seu patrimônio histórico como fica evidente no estado em que grande parte do casario se encontra. É quase certo que a igreja Santana teve sorte em não ser derrubada para facilitar o alargamento da rua de Santana. Pior sorte teve a igreja Nossa senhora da Conceição dos Mulatos que a Rua Grande abrigava no começo do século XX e cuja construção terminou em 1805. Derrubaram-na porque em alguns momentos o bonde que cruzava a rua Grande resvalava em sua estrutura e pessoas se machucavam nesse choque. Pela logica vigente na época, melhor derrubar a igreja totalmente e abrir caminho para o bonde. No espaço que era a igreja, anos mais tarde, construíram o edifício Caiçara um dos símbolos da modernidade em São Luis.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Um desejo subtendido

Não via problema em escutar as conversas alheias. Ele não ficava alheio ao que o rodeava. As pessoas no terminal de integração de ônibus da Praia Grande em São Luis conversavam entre si como se estivessem em casa ou em uma mesa de bar. A conversa só interessava a elas e se alguém de fora escutasse não dariam a menor importância. Em situações normais, as conversas só interessam a quem as veiculam e a quem elas se destinam. Um transeunte pode parar e escutar por alguns minutos a conversa que o resumo da ópera será relacionamento, desemprego, grana, comida e etc. Um bisbilhoteiro, um pouco agoniado e com um pouco de pressa, desviava dos passageiros que desembarcavam dos ônibus no terminal com os olhos voltados para a saída. As conversas não cessavam de forma alguma. Nem que os vereadores baixassem uma lei que proibisse conversas em espaço publico. Ele evitava o contato físico com os demais passageiros que esperavam o derradeiro ônibus, entretanto o contato auditivo era inevitável. A vendedora negra abria seu coração para outra mulher que não pôde divisar: “ Na hora do almoço, botei um tempero que a comida ficou deliciosa”. Para alguém abrir seu coração a respeito da comida que cozinhou, o ouvinte deve ser de confiança ou pelo menos aparentar confiança. Em determinadas conversas, o sigilo deve prevalecer, ensinou uma professora de português. O vendedor de bolos perguntava meio besta para uma senhora: “ A senhora gosta desse bolo, não gosta? ”. A resposta ficou no ar como um desejo subtendido.