sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A praça não é do povo

Gonçalves Dias convidou Ana Amélia, sua musa, para passear pelas ruas e praças lindas e esquecidas do centro de São Luis. A intenção, por detrás do convite, era passar um tempo com ela. Inevitável que alguém de confiança dos pais os seguissem nesse passeio, caso ela aceitasse, porque eles não poderiam ficar a sos nenhum segundo. Ele a conduziria pela rua de Santana e demorar-se-iam por alguns instantes a praça da Alegria, uma praça que fora palco de enforcamentos. Nenhum dos dois vira um enforcamento sequer, porem sabiam que à praça ocorreram vários. O nome praça da Alegria era uma forma de apagar as marcas de violência deixadas na mente das pessoas que moravam à vizinhança e que circulavam por ali. Quase certo que os sentenciados à forca fossem gente de sangue negro e indígena. A população pobre e escrava que por qualquer desobediência sofria maus tratos às mãos de seus donos. Caso Ana se sentisse incomodada pelo ambiente, ele não pensaria duas vezes e a conduziria pela rua Santaninha para aproveitarem um pouco a tranquilidade da praça da Misericordia que ficava à frente do hospital construído no inicio do século XIX. No século XIX, os espaços para passeio em São Luis se restringiam a poucas praças e essas praças despertavam pouco interesse visual aqueles que as percorriam sozinhos ou acompanhados. Castro Alves escreveu “A praça é do povo/como o seu é do condor”. Não é bem assim. O povo só comparece as praças quando é chamado para algum espetáculo/festejo ou algum evento politico social. O Ludovicense, no geral, primava pela introspecção em e pela indiferença aos espaços públicos. Para ele, o ludovicense, tanto fazia quem construira a praça da Alegria ou a praça da Misericordia, com que fim e quem as frequentaram. Gonçalves Dias e Ana Amélia contemplaram muito essas praças e as ruas do centro de São Luis, juntos ou com outras pessoas, sem parar para analisar se as ruas e as praças ainda existiriam anos após eles terem estado lá.

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