domingo, 27 de dezembro de 2020

Meninos eu vi

“O que aconteceria se pudéssemos lembrar de tudo que vivemos?” ”Não é possível, porque se fosse possível passaríamos a vida toda lembrando, não faríamos mais nada e enlouqueceríamos a nós e aos outros.” Essa conversa serve para entrar no assunto deste texto que é um pouco o ato de lembrar e é muito um bando de outras coisas que não se lembra de imediato ou é melhor fazer de conta que não se lembra. Em 1989, a rede globo transmitiu a novela “Salvador da pátria” cujo elenco era Otávio Augusto, Lima Duarte, Maitê Proença e Lucinha Lins. O enredo contava a trajetória de Sassa Mutema, personagem de Lima Duarte, um boia fria que se elege prefeito de uma cidade do interior do Brasil. Um dos personagens mais interessantes da novela era Juca Pirama, um radialista de direita desejo de chegar ao poder, interpretado por Otavio Augusto, que iniciava seu programa com a seguinte frase: “Meninos, eu vi.” O autor Lauro Cesar Muniz construiu uma historia que antecipou a disputa eleitoral para presidente da republica naquele ano em que a direita e a esquerda disputaram o segundo turno e Fernando Collor de mello, representante da oligarquia alagoana e dos interesses empresarias, elegeu-se com uma margem apertada de votos a frente de Luis Inacio Lula da Silva. Para construir e desenvolver o enredo da novela, Lauro Cesar Muniz se utilizou de vários artifícios do oficio de escritor e um deles foi a citação. Juca Pirama é o personagem principal do poema escrito em 1851 por Gonçalves Dias, poeta maranhense romântico, I Juca Pirama e “Meninos eu vi” é um dos versos desse poema. Poucos devem ter se dado conta dessas citações visto que o propósito da novela é divertir o espectador e não dar aula de literatura. Porém, um determinado espectador pode prestar atenção aos nomes, meses depois ler um trecho do poema no livro da escola, juntar as peças do quebra cabeça e concluir que o autor da novela homenageou um autor romântico da sua terra, o Maranhão.

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