domingo, 6 de dezembro de 2020

As praias

Quem vai pela primeira vez a cidade de Alcantara, acredita que se deslocou no tempo e não no espaço. As pessoas se locomovem internamente mais com os pés e menos em automóveis e motos que são mais utilizados para os que saem fora dos limites da cidade. Eles, após a reunião no STTR de Alcantara, almoçariam galinha caipira no restaurante da Têca; para acharem o restaurante foram perguntando para um e outro. O um não sabia e o outro respondeu pelo um e no final ficou tudo bem. A sensação de um deslocamento temporal não se desfez e intensificou-se nos minutos que se dedicaram as praias de Alcântara. Demora uma hora para chegar a praia de Mamuna de carro. O tempo que se leva para chegar se diferencia do tempo que se leva para permanecer. No carro, conversou-se sobre politica e economia brasileiras. Na praia, conversou-se sobre as praias da região e sobre pesca. A população de Alcãntara se alimenta basicamente de pescado e a região de Mamuna, que o Centro de lançamento Aeroespacial quer ocupar, é a que rende mais peixe no município. A instalação do Centro de Lançamento Aeroespacial nos anos 80 impactou a segurança alimentar de comunidades quilombolas que foram remanejadas de seus territórios a beira da praia. Sem praia, sem peixe e sem historias para contar. Inesperado (?), portanto, que essas historias apagadas pelo progresso tecnologico ressurjam parcialmente em outras historias. Como num passe de mágica, o artista Tom Bezerra, originário do litoral maranhense, reviu pela lente de sua memoria os barcos de pescadores atravessando o mar por fora da costa em direção a São Luis. Uma viagem que levava dias e que por vezes parava nas praias de Mamuna, São João de Corte, Aruoca, Outeiro, pericaua, Porto Rico, Guajerutiua, Mungunça, Caçacueira, Valha-me Deus, Prainha, estandarte, Turiaçu, Cunhã cuema, Ponta grossa, Bate-Vento. Quase tudo nome indígena. O tempo leva e o tempo traz. Assim é a historia.

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