domingo, 20 de dezembro de 2020

A São Luis displicente e rustica

Por vários meses, a praça da Misericordia seguiu fechada para a população de trabalhadores, comerciantes e moradores que a cruzavam ou circulavam por ela todos os dias de suas vidas. Os únicos que adentravam em seu recinto cumpriam deliberações de entreterem-se com seus objetos de trabalho e com as formas obtidas em horas ininterruptas de esforço físico indispensável. A reforma obedecia um cronograma de obras desencadeado pela prefeitura que se estendia por toda a cidade ou parte dela. Com o fechamento da praça, os usuários costumeiros sumiram da praça a não ser claro os moradores das casas ao redor que não podiam sumir nem se quisessem. Sem as casas ao redor, o numero de pessoas que frequentam a praça seria bem menor e com outro perfil um pouco semelhante ao publico que frequenta a praça da Alegria. E se não houvesse o hospital à sua frente, a praça teria um outro nome porque o nome do hospital é da Misericordia e não receberia pessoas que se sentam em seus bancos por alguns minutos solenes como forma de descanso solitário para retornarem aos seus postos ao lado de seus parentes. A praça da Misericordia é um cruzamento mais de pessoas do que de carros e essa percepção/conclusão faz você pensar num bairro de zona rural a quilômetros de distancia do centro de São Luis no qual as famílias passeavam no fim de tarde com os filhos e com os amigos. A zona rural de São Luis a cada dia que passa perde esse charme interiorano para ganhar em troca os benefícios da modernidade. Portanto, essa percepção/conclusão da praça da Misericordia se refere não a atualidade e sim a uma época em que perto do que se convencionou chamar centro as pessoas se comportavam e viviam sob formas mais displicentes e mais rusticas de existencia. Ficar sentado à calçada e beber uma cerveja por um bom tempo como se não tivesse de importante para fazer é uma forma das mais displicentes e das mais rusticas de existencia. A praça da Misericordia, pelo tempo que durou a reforma, ficou sem expor essa e outras formas: o rapaz que vende a laranja cortada de um jeito impraticável para o cidadão comum, o idoso que disputa com o bar a audição dos bebedores de cerveja ao colocar seu som em cima da mesa e o senhor que responde a uma questão mesmo sem fazer parte da conversa.

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