terça-feira, 30 de junho de 2020

Não dá um prego numa barra de sabão

Não dava um prego numa barra de sabão
“Tu sabes o porquê do nome Cavaco?’, perguntou a Silvana. Cavaco era o nome antigo do Bairro de Fátima. “Não sei, mas posso perguntar a minha mãe. Ela veio de mudança nos anos 70 com minha avó. Elas moravam antes em Timon. Pergunto se não teria sido mais fácil ter se mudado para Teresina que é do lado de Timon”. Ele concordou com a suposição da amiga. Tinha em mente as viagens que fez no começo dos anos 80 com a família durante as férias de julho para o município de Eugenio Barros. O ônibus da empresa Timbiras saia bem cedo da rodoviaria de São Luis que ficava no bairro Alemanha e chegava em Eugenio Barros beirando a noite. “Durava dois dias a viagem de mais de quatrocentos quilômetros entre Timon e São Luis nos anos setenta”, ela disse. “Qual é o nome da tua mãe” “Aldenora” “É um nome bonito”, ele economizou no elogio. “Porque tua mãe saiu do Bairro de Fátima e foi para o Coroado? Pelo jeito ela gosta muito de morar no BF tanto que voltou para o seu antigo bairro”. Eles se falavam há quase dez anos e falavam de todos os assuntos em tudo quanto é lugar da cidade onde pudessem beber uma cerveja gelada. Eles beberam e conversaram do lado do mercado do João Paulo numa segunda feira “segunda feira sem lei” com algumas amigas dela. Nesse dia ele parou cedo. Ela e suas amigas foram terminar o dia no bar de uma delas num lugar chamado de fronteira (bairro do Coroado, mas quase Redenção). Portanto, não era esquisito querer saber da mãe dela. A dona Aldenora saiu do Coroado e passara a morar na Redenção porque não queria saber do pai de Silvana que “não dava um prego numa barra de sabão em casa”. Logo, ela compraria um terreno no Coroado às mãos da prefeitura de São Luis onde construiria sua casa e onde moraria com os filhos. Ela descobriria com o tempo que aquele terreno lhe daria um trabalho danado quando chovia muito pois alagava tudo. Os bairros Coroado e Bairro de Fátima cresceram em regiões de alagado (rios, mangues, maré). Segundo consta, os primeiros moradores do Bairro de Fátima foram negros escravizados que fugiam de uma fazenda no Sitio do Físico. Eles vinham nadando pelo rio das Bicas e encontraram no Bairro de Fátima um porto seguro.

Um comentário:

  1. Otimo texto do amigo Mayron. A cada leitura se aprende mais com suas histórias. Que não são somente socioambientais.

    ResponderExcluir