segunda-feira, 29 de junho de 2020

Jogo de cartas


Havia mais de três meses que não se viam. Só se comunicavam pelo zap. Ele enviava suas crônicas e uma delas ela adorou. “Adorei a crônica do mercado do Bairro de Fátima, pois me vi presente”. Ele se movia por ruas e avenidas apinhadas de ausências. A presença de um rapaz negro adornava a entrada de um comércio de frutas e legumes. Um domingo insuspeito que se fechava a cada passo dado. Silvana propôs beberem dentro do mercado do BF para reavivarem a memória. A frente do mercado é daquelas frentes inigualáveis porque por mais que se busque alguma comparação não se encontra. O portão do lado direito estava trancado no cadeado. Um feirante conversava com  outro em um dos boxes e mais nada, nenhum sinal de cerveja ou mais gente. Acreditava que não veria movimento interno. Que nada, alguns passos a frente e deparava com o portão do lado esquerdo escancarado e sons alucinantes vindos de algum protótipo de bar que abrira naquele fim de tarde de um dia de domingo. Ele sentira o movimento e era o suficiente. Ele e Silvana se mudariam pra lá em instantes. Ela bebia uma cerveja num bar de reggae a alguns metros de sua casa. “Você emagreceu. Eu não, fiz foi engordar”, ela lamentou. Ele queria recuperar o dia em que desconfiara de uns caras que entravam e saiam de um salão nos fundos do mercado. A dona da vendinha, onde bebiam, informara que se tratava de um jogo de cartas e que não era permitido gente desconhecida. Ele planejava escrever, quem sabe, um dia, uma historia de um jogo de cartas a dinheiro.  

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