sexta-feira, 25 de setembro de 2020

A Liga da Justiça da literatura universal

As bancas de revista, quase sempre, desobedecem o que se espera de uma banca de revista que seria apenas vender revista. Deveriam escrever um tratado sobre o que norteia a criação das bancas de revistas pela cidade. Uma banca de revista não é simplesmente um local em que se vende revistas. Ela expõe revistas e outros produtos gráficos cujas existências se voltam para o consumidor que comprará aquele produto que lhe interessar mais ou apenas o admirará pelo seu visual e pelo seu conteúdo. As bancas de revistas, em muitos lugares, dispensavam apresentações do tipo a banca de não sei quem na rua não sei aonde. Sabia-se que em algum lugar do bairro elas se faziam presentes porque, sem elas, os bairros ficavam a dever a seus moradores algum tipo de vida social e cultural numa época em que ter vida social era frequentar igreja e as festas de aniversário dos vizinhos. Aqueles consumidores que buscavam revistas com conteúdo diferenciado só as encontravam em bancas do Centro ou de Shopping Centers. As bancas de revista do subúrbio de São luis recebiam apenas as revistas de grande circulação. Para as empresas que distribuíam (e distribuem) revistas, o centro requeria diversidade e o subúrbio requeria homogeneidade. Contudo, a realidade prega peças para aqueles que a assistem como um mero culto religioso. Tantas vezes ele, antes de viajar, curtia a banca de revista da rodoviária de São Luis em todos os seus aspectos pitorescos de vender revistas e...livros. Um desses livros que ele não se cansava de admirar era “O Homem sem qualidades”, livro escrito pelo austrieco Robert Musil, um dos escritores e intelectuais que fugiram da ascensão do nazismo na década de 30. Ele comprou esse livro por um valor baixo e comunicou a conhecidos do ramo da livraria que acharam inacreditável alguém comprar um livro de Robert Musil numa banca de revista da periferia de São Luis. Essa compra de Musil foi um pouco depois que se interessou por Walter Benjamin e Adorno e bem antes que lesse Elias Canetti e outros escritores de língua alemã. Na sua cabeça, os escritores de língua alemã e os escritores que os reverenciavam como os italianos Claudio magris e Roberto Calasso formavam a Liga da Justiça da literatura universal que removeria o entulho autoritário que subjazia na historia cultural da linguagem humana.

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