segunda-feira, 4 de maio de 2015

O BOQUEIRÃO DO AGRONEGÓCIO, DA DESTRUIÇÃO... DO TRABALHO ESCRAVO.


         
          Pensar que o problema dos monocultivos do eucalipto da Suzano e da soja da gauchada em Urbano Santos e muitos outros municípios do Baixo Parnaíba Maranhense são de se refletir que realmente é uma questão complicada para as atuais e futuras gerações, sim, se afirma com veemência. Se não bastasse, as empresas terceirizadas da Suzano que operam o corte do eucalipto para a fabricação de carvão, estas mesmas em muitos os casos constatados vem praticando sistemas de trabalho escravo com seus funcionários que exercem o serviço pesado. Os trabalhadores rurais assalariados, sem opção de vida e sobrevivência para sustentar suas famílias acabam aceitando os ofícios desumanos botando em risco aquilo de mais valia: sua saúde... suas vidas.
          Comunidades do município de Urbano Santos como o Jacú, Mato Grande, Centro Seco e Capãozinho são exemplos claros do processo devastador e sem controle do agronegócio em nossa região. No primeiro povoado citado, as chapadas foram derrubadas, os pequizeiros, bacurizeiros, candeias, faveiras, mangabeiras e tantas outras espécies foram transformadas em carvão vegetal abrindo caminhos para os mares verdes do eucalipto; a população do Mato Grande vive sem ar puro para respirar – pois os aviões pulverizadores ateiam veneno nos campos e ao mesmo tempo estes agrotóxicos atingem outras áreas como cabeceiras de riachos e lagoas. Centro Seco e Capãozinho são incomuns, os fornos produzem fumaça todos os dias e noites com a madeira do eucalipto -, os campos ainda não tinham sido mexidos, apesar de estarem na tabela dos mais antigos. Certo dia viajei passando pelo Capãozinho a destino das Cajazeiras, terra das parteiras tradicionais, tive então que cortar a área de estalação dos fornos de carvão nas proximidades da Lagoa dos Costa, olhei muitos trabalhadores que entravam e saiam dos fornos quentes ainda em brasa, nenhuma proteção e orientação para evitar acidentes no trabalho, os encarregados davam ordens rígidas como se fosse feitores, percebi que não gostaram muito de minha presença e ficaram de olho em minha máquina fotográfica que levava a tiracolo. Parei poucos momentos; senti indignação a respeito de tal situação hedionda. O trabalho escravo infelizmente ainda é muito comum em nosso estado. O Maranhão está entre os primeiros estados da federação na lista desse crime.
          Em 2008, eu participava em Chapadinha de um Seminário sobre a “Via Campesina”. Lá tomei conhecimento de um celebre trabalho de pesquisa que falava sobre as famílias de camponeses que vivem em sistema de trabalho escravo em São Paulo. Muitos trabalhadores rurais inclusive do Baixo Parnaíba, foram a procura de melhorias de vida para as fazendas de cana, laranjas e soja para o sul e sudeste; algumas dessas famílias nunca conseguiram voltar para sua terra natal, para suas comunidades como pretendiam. Segundo a cartilha, alguns desses trabalhadores caíram em dívidas com seus patrões que portanto proíbem eles saírem da fazenda enquanto não quitar as quantias que a cada momento vem aumentando. Isso é trabalho escravo, pois ninguém pode ser forçado a pagar dívidas em forma de atividades forçadas.
          Existe no Baixo Parnaíba situações como estas e até piores, como já citei a realidades das carvoarias – acrescenta-se ainda os ofícios nas fazendas de gaúchos, na roçagem dos campos de eucaliptos, sua derrubada, corte e carregamento das toras jogando em cima de caminhões. Quem faz esse serviço? São os engenheiros florestais? O gerenciamento? Nada disso, quem sofre com todo essa sacrifício são os pobres e desprezados peões que acordam 1:00h da manhã para pegar os rudimentares ônibus que os levam até os locais de trabalho, antes de pegar o trampo são alimentados com uma xícara de café preto e apenas um pão massa-grosa sem manteiga. Três problemas somam-se nessa questão... o primeiro é a política do agronegócio que considera-se sem retorno para as populações tradicionais, atrasando todo um projeto alternativista e  socioeconômico dos camponeses, como a realização de direitos fundiários das terras em processo no INCRA e no ITERMA; o segundo é o legado da destruição total dos ecossistemas (fauna e flora), atingindo sobretudo as áreas de proteção e onde os camponeses exercem o extrativismo; a terceira e ultima é a exploração em regime de trabalho escravo dos assalariados rurais, desacatos esses que merecem mais atenção da justiça, dos órgãos competentes como o Ministério Público e da própria sociedade civil.

                                    José Antonio Basto
                                               Militante em Defesa dos Direitos Humanos e da Vida
                                               Email: bastosandero65@gmail.com

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