quarta-feira, 16 de outubro de 2013

"Se Deus vier que venha armado."



“Se Deus vier que venha armado”.  Em Brejo, município do Baixo Parnaiba maranhense, essas palavras de Guimarães Rosa em “Grande Sertão Veredas” fizeram sentido. A prefeitura de Brejo reformava a estrada de piçarra da sede do município até o assentamento da reforma agrária Santa Cruz. A equipe convergia para o povoado de Vila dos Criolis que pertence ao quilombo de Saco das Almas. Os membros da equipe consultariam alguns moradores a respeito do interesse em implantar kits de irrigação nos terrenos onde plantam suas hortas. P ara um deles, aquele caminho rondava sua memória. Percorrera aqueles baixos anos atrás com o pessoal da SMDH (Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos) para desenvolver um projeto financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente. O projeto capacitava agricultores familiares de todo o Baixo Parnaiba em sistemas agroflorestais. Por conta da burocracia governamental, o projeto não teve prosseguimento. Depois de sete anos, ficou-se sabendo que outros projetos chegaram a comunidade através da Articulação Semi-Árido e pelo governo do Maranhão, este com recursos do Banco Mundial. Com apoio da ASA a comunidade construiu uma cisterna e com apoio do governo do Maranhão começaram o plantio de verduras. Esses projetos não tiveram assessoria técnica que é um item fundamental para que qualquer iniciativa deslanche. Ainda assim, a comunidade de Vila dos Criolis manteve os plantios e utiliza-se da água armazenada na cisterna. As comunidades quilombolas do Maranhão eram invis veis para o Estado. Essa situação mudou da água para o vinho a partir do momento em que organismos nacionais e internacionais aportaram recursos para essas comunidades. Os projetos não previam o acompanhamento depois da implantação dos equipamentos. Quem dê uma volta pelos interiores do Maranhão poderá vislumbrar o completo abandono de inúmeros projetos de casa de farinha. A Associação de Comunidades Remanescentes de Quilombos aprovou um projeto junto a União Europeia que ambiciona mudar essa realidade em que as comunidades quilombolas. A intenção não é só implantar equipamentos como mini-usinas de arroz, agroindústrias de beneficiamento de babaçu entre outras. A intenção é integrar a produção, comercialização e melhoria na qualidade de vida de dezessete comunidades quilombolas dos municípios de Codó, Caxias, Lima Campos, São Luiz Gonzaga, Itapecuru, Icatu, Santa Rita, Brejo e Buriti. Não é uma tarefa fácil. Valderlene Si lva Diretora Executiva no Projeto Ka -Amuba (promoção de tecnologias sustentável de economia solidária em quilombos no Maranhão) do Aconeruq lembra muito bem o quanto foi difícil discutir e conceber o projeto. Uma das comunidades foi a Vila dos Criolis. Ela perguntou se a comunidade gostaria de se inserir no PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) do governo federal, que se tornou um dos resultados esperados do projeto. A comunidade respondeu que não. Horas mais tarde, a senhora que acolheu explicou a negativa. Como se comprometer com aquela demanda se eles não tinham assessoria. Com o projeto da Aconeruq, daqui a alguns anos a Vila dos Criolis dará outra resposta.
Mayron Régis

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