quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Contra Monoculturas de Árvores: Mudar o padrão de consumo é tarefa urgente




FASE – Solidariedade  e Educação
20/09/2012
 Em toda a América Latina, no âmbito da Rede Latino Americana contra Monocultivos de Árvores (Recoma), bem como na África, Ásia e Europa, o dia 21 de Setembro é o Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas de Árvores. Estas que chamamos de ‘desertos verdes’.

 No Brasil, as monoculturas químicas de eucalipto de rápido crescimento foram instaladas a partir dos anos 60. Depois de 50 anos, as plantações ocupam 6,5 milhões de hectares de norte a sul do país e deixam um claro rastro de destruição ambiental e violações de direitos humanos e sociais. Devastaram a Mata Atlântica e expulsaram povos indígenas e quilombolas do Norte do Espírito Santo e do extremo Sul da Bahia. Substituíram enormes áreas de Cerrado e provocaram imensa migração de camponeses e geraiszeiros do Norte de Minas e ao longo do Vale do Jequitinhonha. Invadiram vastas áreas de Mata Atlântica em São Paulo e Paraná, e ocuparam pastagens naturais no Rio Grande do Sul. Expandiram o rastro da insustentabilidade para novas fronteiras sócio-ambientais, na Amazônia, ao Sul do Pará e Noroeste do Maranhão, bem como áreas de transição no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Por onde se instala, a monocultura química provoca crise de abastecimento de água potável e insegurança alimentar e nutricional.

Apesar das constantes denúncias, nos três últimos anos o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou aproximadamente R$ 8 bilhões para financiar do plantio ao processamento industrial de eucalipto e o governo federal irá lançar um plano para mais do que dobrar a área de plantios nos próximos 20 anos. Além dos planos e políticas de financiamento, a expansão atual do modelo se sustenta em avanços tecnológicos com aumento do uso de químicos e experiências com árvores transgênicas; expansão do mercado consumidor em todo o mundo; mercado de Carbono e flexibilização da legislação ambiental, como é o caso do Código Florestal.  Certificações, como o caso do FSC da Aracruz/Fibria/Veracel, realizadas recentemente pelo Imaflora, também estimulam o mercado ao dizer aos consumidores que não há problemas no consumo dos produtos com selos verdes de “sustentabilidade”.

Barrar a expansão das monoculturas de árvores no Sul e o consumo de papel e ferro-gusa por todo o planeta é tarefa urgente para a sobrevivência de povos tradicionais e da sócio-bio-diversidade, bem como para a Justiça Ambiental e Climática. Barrar a expansão do modelo é uma estratégia fundamental da resistência Norte-Sul, e condição de possibilidade de toda e qualquer transição. Os caminhos da transição para novos modelos de produção e consumo são diversos, muitos já vêm sendo experimentados: novas fibras, mercado local e regional, reconversão de áreas de eucalipto para Mata Atlântica e Cerrado, práticas agroecológicas, estudos de equidade ambiental...

A transição da monocultura da produção e consumo é, ela mesma, uma estratégia política de sócio-bio-diversidade. Entretanto, não pode haver transigência com as estratégias da economia verde, que apostam na expansão do modelo desde onde se deseja transitar. Soa como “limpar-se de lama, com mais lama”! Em comunhão com parceiros brasileiros da Rede Alerta contra o Deserto Verde e internacionais, a FASE saúda os povos, movimentos e organizações sociais em resistência contra a expansão desenfreada do modelo de produção e consumo de papel e produtos siderúrgicos.  A articulação das lutas territoriais de resistência no Sul e das lutas por novos modelos de consumo no Norte continua sendo uma chave de transição.
 


*Para saber mais sobre o processo de certificação da FSC para Fibria/Aracruz Celulose, veja a carta pública da Rede Alerta Contra o Deserto Verde. 


Lívia Duarte
Comunicação / FASE
www.fase.org.br 
(21) 2536-7359

Um comentário:

  1. Besteira, balela, picaretagem..

    Parem de consumir que paramos de produzir, se não tivermos pra quem vender, não teremos motivo para produzir..

    Se há produção ou extração de algum produto, decorre de uma demanda instalada..

    Abraços.

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