sábado, 5 de junho de 2021

Os campos inundáveis e as comunidades quilombolas

Eles foram convidados a jantar na casa de uma amiga. Um deles brincou que em Viana, inevitavelmente, você come peixe em qualquer ocasião. E ele acertou. A amiga cozinhou um bagre no leite de coco babaçu. Ela serviu o jantar depois das oito horas porque os rapazes foram antes a beira do lago admirar aquelas águas que balançavam em suas mentes. A amiga assessorava um grupo de organizações da sociedade civil no Maranhão. O jantar transcorreu sereno por mais de uma hora e nesse transcurso ela os informou da existencia de pistolagem e de milícias a serviço de proprietários de terras naquela região. A informação não os surpreendeu afinal a dona Rosário, quilombola e quebradeira de coco do povoado Bom jesus, município de Matinha, revelou a eles um sem numero de ameaças de morte que sofreu assim como sofreram também seus companheiros da comunidade de Bom Jesus e da comunidade de São Caetano. Saber de pistolagem e milícias a beira da mesa não causou mal estar e nem indigestão porque, no fundo no fundo, compreendia-se o que estava em jogo. O jogo da sobrevivência alimentar versus o enriquecimento das elites. As comunidades quilombolas exigem que o acesso aos campos inundáveis seja liberado a fim de que elas possam pescar. A pesca é um aspecto indissociável da historia das comunidades quilombolas. As comunidades quilombolas, em momentos de dificuldades financeiras e ambientais, veem na pesca uma saída para a fome e para a geração de renda. Os fazendeiros, por seu lado, veem nos campos inundáveis apenas um espaço onde podem soltar seus búfalos e suas cabeças de gado. Peixe só rende algum trocado nas feiras como se viu no dia seguinte ao jantar na feira de Viana. Criar gado rende bastante dinheiro para fazendeiros e empresas do agronegócio. Viana é uma cidade onde os moradores comem muito peixe de agua doce nativo em comparação com outras cidades do Maranhão onde se come ou peixe de criatório ou carne.

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