quinta-feira, 3 de junho de 2021

A chuva do dia seguinte

Essa é a história de uma chuva que os moradores de Viana e Matinha esperavam há duas semanas. Chuviscara na comunidade da Graça, município de Matinha, mas tão pouco que nem se levava em conta. O senhor Manoel morador da comunidade e representante do STTR planejava plantar feijão em junho, pensando em aproveitar os últimos resquícios do inverno de 2020/2021. Ele não duvidava que a chuva se faria presente por mais que o inverno desse provas em contrario. Para o agricultor é fundamental que a chuva venha no momento certo e em boa quantidade para encher o arroz cultivar básica da alimentação de um maranhense que se preze. De Miranda a Vitoria do Mearim e de Vitoria do Mearim a Matinha, a monocultura do arroz aprisiona os campos inundáveis uma espécie de ambiente que impedem as águas das chuvas se esvaírem rapidamente para os leitos dos rios que desembocarão no maior deles: o Mearim. Está se falando de rios como o Pindaré e o Maracú os quais sustentam com sua infinidade de peixes um bom numero de famílias dos municípios que nasceram e cresceram as suas margens. Os agricultores familiares não são responsáveis pela transformação dos campos inundáveis em campos agriculturáveis para arroz em larga escala. O arroz é base alimentar da população pobre maranhense a séculos e nunca foi pensado como item de exportação pelas elites bem pensantes do estado do Maranhão só que no atual estágio da economia mundial qualquer coisa pode virar commoditie e ser cotada em dólar o que empata aquela cultura de ser servida com abundancia no almoço do cidadão comum. O seu Manoel conduziria a equipe do Fórum Carajás ao território quilombola do Bom Jesus a nove quilômetros do seu povoado a fim de conversarem com dona Rosário, liderança da comunidade. Bem perto do povoado Bom jesus, enxerga-se os campos inundáveis que fazendeiros cercaram com cerca elétrica. Assim sendo, eles cercam, colocam búfalo e gado e os quilombolas da comunidade de Bom Jesus são impedidos de pescarem nos campos inundáveis. A Dona Rosário se deslocara para a comunidade vizinha São Caetano a fim de participar uma live com o Fundo Socio Ambiental Casa. Eles decidiram por ir ao encontro dela em São Caetano, mas antes andaram até os Campos Inundáveis supervisionados pelo senhor Raimundo, morador da comunidade. Vendo tanta água acumulada, a pessoa pode imaginar que Bom Jesus vive na fartura liquida e na fartura alimentar. Como foi escrito, os quilombolas não podem adentrar um passo além das cercas elétricas sob risco de alguma represália por parte dos fazendeiros. O senhor Raimundo conta com abastecimento regular do poço da comunidade para aguar suas plantas e para as necessidades da casa, só que em outros tempos ele carregava baldes e mais baldes de água dos campos para sua casa. O mundo não sabe a missa metade das dificuldades que as comunidades quilombolas enfrentaram ou enfrentam no seu dia a dia. A equipe do Fórum Carajas e o seu Manoel se sentaram com Dona Rosário e as quebradeiras de coco em São Caetano e uma das perguntas que surgiu foi a respeito da regularização do território todo fatiado por propriedades. A Dona Rosário respondeu que o governador Flavio Dino falta assinar um decreto que regulamentaria a regularização fundiária de todos os territórios tradicionais do Maranhão. Com relação ao processo especifico de Bom Jesus, os fazendeiros aliados aos políticos locais propuseram uma conciliação a SAF (Secretaria de Agricultura Familiar), responsável pela administração dos processos que envolvam terras do estado. A dona Rosario e as demais quebradeiras de coco babaçu responderam que da parte delas não havia menor possibilidade de conciliação com aqueles que por várias vezes as ameaçaram de morte. A equipe do Fórum Carajas sugeriu ao grupo de quebradeiras que se realizasse uma campanha cobrando ao governador a assinatura do decreto um tal de “Assina Dino”. Terminada a discussão, a equipe do Fórum Carajás se despediu e voltou para Viana onde seria a hospedagem, tendo antes deixado seu Manoel em sua residência no povoado Graça. E a chuva que por duas semanas não caiu na manhã do dia seguinte veio com força para alimentar os cursos dos rios e irrigar os plantios dos agricultores familiares e dos quilombolas de Viana, Matinha, Penalva e Cajari.

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