segunda-feira, 28 de junho de 2021

Menos que um: o ensaio e a velhice

A verdade trágica de qualquer sociedade. Abandona-se os velhos. Os livros, os discos, as roupas, os amores, as amizades e etc. A sorte foi lançada e o jogo jogado. Quem ganha e quem perde? Rememorar não é um lance de sorte e nem de azar. Acredite em coincidências, mas que elas não existem, não existem. Sempre duvidou do que viria pela frente. Vivia agarrado. Nada de excepcional. Uma amizade, umas musicas, uns filmes, o que mais? Sentia-se envelhecido com pouca idade. E não sabia o que fazer para sair dessa enrascada. Sonhava filmar um filme pornô, gravar uma musica, escrever um livro de muita responsabilidade, o que mais? Contentar-se-ia em ler muito. Quando desse, escreveria o que lhe aprouvesse. Um dos primeiros livros que abriu foi “Menos que um”, escrito por Joseph Brodsky, escritor russo. Os russos enfatizam muito a sua relação com a mãe Russia e com a cidade de São Petersburgo e Joseph Brodsky, por mais critico que fosse ao regime comunista, morria de amores pelas duas. Claro, a mãe Russia e a cidade de São Petersburgo vieram antes do Comunismo e por elas vale a pena escrever e embelezar a realidade. Por elas e pelo povo, muitos escritores morreram ou foram exilados sem nunca deixarem de externar o amor que sentiam. Os russos, tudo bem. E os outros? Os americanos, os europeus e os brasileiros não economizaram elogios a literatura e a cultura russas. A leitura de “Menos que um”, livro de ensaios de Joseph Brodsky, em 1993, com o tempo, de maneira inconsciente, fez com que ele lesse Anna Akhmatova, poetisa russa, e com mais tempo ainda fez com que lesse Ossip Mandelstam, poeta judeu russo. Fez algo maior: desenvolveu nele o gosto pelo ensaio, não do jeito que o brasileiro escreve que respeita sociologia por demais da conta e engessa o texto. O ensaio em Brodsky e em outros autores que leria mais tarde aguenta o abandono da velhice que tantos temem experimentar.

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