quinta-feira, 27 de maio de 2021

Os gigantes de Jacarezinho

No carro, um deles pensou alto: “Rapaz, basta iniciar um fogo bem aqui nesse ponto que o milharal todo queima”. Eles acabavam de sair da estrada que apontava para São João do Soter e penetrariam numa estrada vicinal que os levaria a comunidade quilombola de Jacarezinho. Ainda próximo a cidade de Caxias, o rapaz apontara várias situações de crimes ambientais e socioambientais, cujos responsáveis não foram punidos e nem seriam. Um fazendeiro pagara policiais militares para agredirem e expulsarem trabalhadores rurais de suas posses com o proposito de encher essas posses de gado. A boiada que pisa duramente o solo do Cerrado tem mais valia que a vida de agricultores familiares cujas produções valem pouco a pena. Ele relacionou outros: a empresa Equatorial concessionaria de energia, que se instalou numa área de proteção municipal e a fábrica da Schincariol que desestabilizou o lençol freático de um famoso riacho. O riacho secou completamente. Quem pratica crimes desse tipo não teme pelas suas consequências e caso a consciência aperte a igreja Católica mantem um santuário em homenagem a São Francisco de Assis em São João do Sóter. A Igreja Católica se constitui na grande aliada das comunidades quilombolas e rurais dos municípios de Caxias e São João do Sóter. Nem uma outra instituição consegue penetrar na zona rural e consegue dar assistência a essas comunidades como essa instituição faz. A igreja católica assiste e assessora a comunidade de Jacarezinho que enfrenta pressões por parte de grileiros para abrir mão do seu território. A assistência e a assessoria da igreja Católica não é o bastante para barrar o avanço do agronegócio sobre os territórios quilombolas. A não regularização do território de Jacarezinho se deve a inercia e a omissão da Fundação Palmares e do Incra que com isso favorecem a grilagem de terras. Quanto mais eles adentravam naquelas terras mais eles viam espécies florestais de indescritível beleza e ambientes de significativa paz. Também presenciavam cenários de destruição e abertura de novas áreas para os plantios de soja e de milho. Uma desses cenários ficara celebre pelo nome Chapada do Boi, território quilombola que as maquinas dos plantadores de soja alucinaram por completo. Dava pena aquele cenário, mas fazer o que. Eles tinham em mente o território de Jacarezinho. Queriam visualizar aqueles negros que mantinham posição firme em resistir aos plantadores de soja. Por acaso, os negros de Jacarezinho descendiam de uma raça de gigantes que se impunham a qualquer um que os ameaçasse? O senhor Edivaldo, presidente da associação de Jacarezinho, é um senhor simples que prefere comer peixe a carne e recebe bem aqueles que não fingem amizade.

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