sábado, 29 de maio de 2021

As ilhas de Anajatuba

Três mulheres e dois homens limpavam a casa familiar rural do povoado São Pedro, município de Anajatuba. A senhora Eliane liderava o grupo que o seu marido também compunha. Ela fora líder sindical numa época que os professores não faziam greve e recebiam corretamente os seus proventos. Passados sete anos, os professores de Anajatuba ganham mais de cinco mil reais. Os colegas de profissão sentem saudades do seu mandato, só que ela esta em outra. Ela se elegeu presidente da associação de comunidades quilombolas de Anajatuba, associação que representa vinte e sete comunidades quilombolas entre certificadas e não certificadas pela fundação Palmares. A fundação Palmares certificou duas comunidades recentemente, um fato inesperado para ela porque o governo federal não prima pela defesa dos direitos das minorias étnicas. Filha de quebradeira de coco, Eliane militou em vários movimentos sociais antes de presidir a associação de comunidades quilombolas de Anajatuba. Compôs o fórum de redes e cidadania e arrancou muita cerca fincada nos campos naturais de Arari que os fazendeiros mandavam seus empregos colocarem como se a terra fosse deles o que impedia os moradores de pescarem e soltarem seus animais. Os campos vivem duas realidades extremas: inverno, os campos ficam debaixo de muita água, e no verão, os campos secam. Em qualquer dessas realidades, os moradores cruzam os campos para pescar, para soltarem seus animais e para chegarem as cidades de Arari, São João Batista, Anajatuba, Santa Rita, São Bento e Bacurituba. Os quilombolas que vivem na ilha do Teso percorrem vinte e quatro quilômetros para chegarem a Anajatuba de barco. A Dorgivania, moradora da ilha, recomendou que quem quiser conhecer as ilhas (inúmeras) vá logo porque assim que o inverno for embora para chegar onde mora só indo a pé o que representa doze quilômetros de muita lama.

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