domingo, 2 de fevereiro de 2020

Safras de bacuri

Raimunda pediu ao Vicente, seu pai, que a acompanhasse pela Chapada do Coruja a fim de catar bacuri na antiga propriedade do Ze Branco que agora pertence ao Andre Introvini, plantador de soja no município de Buriti. A decisão de vender a Chapada ao Andre não partiu do Ze Branco e sim da sua filha que mora no Rio de Janeiro e cujo nome constava em todos os documentos da propriedade. A família Cardoso, família tradicional de proprietários do povoado Carrancas, destinara 100 hectares de suas terras ao Ze Branco por alguma decisão familiar. Ele e sua família, então, construíram uma casa na Chapada em meio aos bacurizeiros. Causava uma boa impressão, a quem quer que fosse, apreciar a Chapada toda cercada de arame farpado (dias e dias de trabalho) e o caminho que se abria como um convite delicado para sair da estrada e conhecer as dependências da casa. Ze Branco, após a venda da terra, mudou-se para Buriti, mas manteve uma pequena porção da Chapada. Quem sabe, passar um dia por lá e relembrar as safras de bacuri que enchiam o chão do terreiro com as cascas partidas ao meio entre os meses de janeiro e março. Nesse ponto, nem ele ou qualquer pessoa da sua família não pode mais empreender a caça aos bacuris recém caídos sobre a Chapada. Não apenas pela venda da terra. Com certeza, Ze Branco não se sente mais pertencente aquele terreno como se sentia antes. A Raimunda e o Vicente ainda se sentem parte daquilo tudo e não abandonam a Chapada do Coruja principalmente na época do bacuri.

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