terça-feira, 13 de junho de 2017

São Raimundo não será invadido



Quantos já foram os problemas enfrentados em São Raimundo, um vilarejo no coração do Baixo Parnaíba! Quantos já foram os entraves em que a Associação travara durante tempos, no contratempo! Quanto lhe custaram viagens, formações, participações em encontros e seminários para aprender defender seus direitos garantidos por lei. Esperam que o INCRA compre a terra do Loeff, mas pra isso esse proprietário tem que sentar para negociação com a instituição do Governo Federal. Ele quer vender a terra a preço de mercado, não vale o valor que pede, vale menos que isso – pede milhões numa área que nem ele mesmo a conhece -, se diz proprietário, mas não tem nada por lá, não tem sítio nem fazenda -, não quer abrir mão do imóvel, que apenas o poder. Quem realmente conhece a chapada do São Raimundo são seus moradores que usufruem e tiram dela parte de sua subsistência alimentar.
Em certa reunião do STTR para renovação da delegacia sindical que acontecera no dia 02 de junho deste, na casa da Francisca, o Zé Banga - atual Presidente da Associação contara ainda assustado de um acontecimento estranho; dizia que alguns poucos dias atrás ele terminava os serviços de sua roça à tardinha, mais ou menos umas cinco horas, descia fiscalizando os variantes (picos do terreno) que divide a área da Associação com outros confrontantes – como sempre ele mesmo diz que constantemente faz esse serviço de fiscalização. Percebeu um barulho esquisito nas nuvens: um helicóptero rondava o céu do São Raimundo, fazia um giro nas extremidades do Rio Preguiças e subia até a chapada - para os lados do Bom Princípio e Boa União. Alguém averiguava algo! Quem deveria ser? Os moradores acostumados numa vida pacata e ouvir somente o som dos pássaros e grilos se perguntavam: “Quem está nos filmando?” – “De onde veio esse bicho”? Em meio a essa dúvida, quem realmente teria interesse em sondar de cima pra baixa num helicóptero a situação do São Raimundo? Depois da matéria da TV Mirante sobre a safra do fruto do bacuri no São Raimundo e a resistência da comunidade na luta pela terra e pela preservação ambiental muitas coisas entraram em jogo: um povoado isolado, há mais de cinquenta quilômetros da cidade, que se transformara em exemplo de consciência e forma do trabalho coletivo para outras comunidades do Território do Baixo Parnaíba, essa comunidade a cada momento cresce seu valor existencial. A terra serve como alicerce da vontade de transformação social – os moradores que aguardam melhorias se mantém na área e usam como resistência as práticas agrícolas e extrativistas. A lei de proibição da “não derrubada do bacuri verde” – reforma o sentimento de liberdade e comunhão que eles oferecem a natureza. Precisam conquistar a posse da terra, pois o projeto continua tramitando no INCRA, as 1.136 hectares de terra deve ser desapropriada para as famílias que lá moram e trabalham. São Raimundo está sendo vistoriado não apenas pelos camponeses, mas pela ganancia do capital no campo representado por personagens que não tem o mínimo de respeito pelos movimentos sociais, pela Associação de Moradores... Por nenhum lavrador. “A terra bacurizada das chapadas do São Raimundo vale ouro”.
O Zé Banga, convicto e zangado afirmava no final de sua denuncia que a Comunidade São Raimundo é livre e não será invadida jamais enquanto os caboclos valentes estiverem vivos, a terra é de todos, será defendida com unhas e dentes e não será invadido nem por grileiros, nem por empresas... Nem por latifundiários. A terra será livre.

José Antonio Basto

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