domingo, 18 de junho de 2017

O vendedor



Entao, o Deuzim passa um papo de vendedor como nenhum outro. Ele devia um frango caipira a um amigo jornalista. Não se apressara em pagar a divida ate porque o via de ano em ano e quando se viam, o jornalista vinha com pressa. Da próxima vez ele leva (ou não leva). A divida não cresceu. Uma promessa não se guarda. Ela se cumpre. Eles se reencontraram no Baixão da Coceira. A Francisca, presidente da associação, convidara-os para a celebração católica que comemoraria a titulação de mais de duas mil hectares por parte do Iterma. A conversa sobre o frango reapareceu. Dessa vez não escapa. Outras conversas surgiram num crescendo. O Deuzim desejava comprar um celular capaz de fotografar e de acessar internet. Sim, as comunidades de Santa Quiteria acessavam internet. Dez anos atrás, as comunidades se deslocavam para a sede do município quando precisavam ligar ou precisavam acessar internet.   Propôs-se comprar o celular em troca de alguns frangos. O que seriam alguns frangos? Três frangos, podendo chegar a quatro. Tudo bem, so que eles ficam enquanto o celular não vem. Não é besta o moço. Ele foi embora cedo. Almoçaria em casa com a esposa e escolheria o frango. As comunidades de Santa Quiteria se responsabilizaram pela defesa da Chapada. Como viveriam as comunidades caso a Suzano Papel e Celulose e os plantadores de soja espalhassem seus plantios pelos mais de dez mil hectares de extensão da Chapada? Elas viveriam sem quintal, sem bacurizeiros e sem criação de pequenos animais. E sem agua porque o lençol freático se rebaixaria graças ao consumo desenfreado das monoculturas.    

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