sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O que enche nossos sonhos de esperanças no chão de luta em que vivemos


     O destino do viajante que coordenara os representantes das comunidades do município de Urbano Santos era a cidade de Brejo. A velha cidade que no tempo de vila se tornara “quartel-general” dos corajosos rebeldes da insurreição dos balaios, ainda em 1839. Mas agora os tempos são outros. A reunião em 07/11/2016 seria uma audiência pública com os representantes do ITERMA – “Instituto de Terras do Maranhão” – em nome do Governo do Estado, com as comunidades que necessitam das regularizações fundiárias na Região do Baixo Parnaíba maranhense. Essas comunidades que já não aguentam mais esperar pelas vontades de quaisquer governos, desde os que passaram, o atual e os que hão de vir. Leonardo Boff, escritor, ativista ambiental e pai da Teologia da Libertação, dizia que “A luta pela Reforma Agrária é uma luta pela vida”. “Quando se trata da luta pela terra, pela água, pela segurança, por uma sociedade justa, igualitária e fraterna, estamos tratando da luta pela vida”, acrescentava Pe. Chagas, Pároco do município de Buriti de Inácia Vaz e coordenador do Fórum em defesa da vida do Baixo Parnaíba.
     A audiência começou com as várias e velhas denúncias dos representantes das comunidades dos municípios de Urbano Santos, Beláguas, São Benedito do Rio Preto, Chapadinha, Brejo, Milagres, Santa Quitéria, São Bernardo e Anapurus. Muitos problemas em todos os aspectos no que diz respeito às terras devolutas do Estado, terras soltas que esperam ser arrecadadas desde décadas passadas, são os trabalhadores e trabalhadoras rurais que moram nelas, por isso merecem respostas concretas do governo. O Território do Baixo Parnaíba, suas chapadas foram engolidas pelo agronegócio da soja e do eucalipto, basta olhar os grandes campos na estrada que liga Chapadinha à Anapurus e Brejo, o que antes era chapada, hoje só se ver deserto, aquelas áreas das comunidades tradicionais foram griladas por gaúchos e por outras empresas. A comunidade São João dos Pilões em Brejo que vive do artesanato do da fabricação de pilões, cumbucas e outros utensílios da madeira de pequi expostos na beira da estrada para a venda, não encontra mais a árvore em suas chapadas, suas áreas foram desmatadas pelos gaúchos, por isso compram troncos de pequi de outras regiões para a demanda dos pilões. O processo burocrático da conquista da terra pelos camponeses não é uma questão fácil, pois a luta não depende somente da vontade e da coragem dos lavradores, o Estado é o responsável pelo processo técnico e pela garantia da segurança e proteção dos homens e mulheres do campo.
     Os antecedentes de nossa história não marcam uma página bonita de se ver na luta pela terra no Estado do Maranhão – principalmente quando se fala dos camponeses pobres das comunidades rurais e quilombolas. Esse sentimento não é coisas de nossos dias atuais. Quando olhava o sertão da janela do carro que nos levou a Brejo, lembrava de quando o grupo do vaqueiro Raimundo Gomes e de Francisco dos Anjos (líderes da Balaiada (1838-1842), já se deslocavam de um lugar para outro combatendo naquela época com os grandes proprietários de terra, coronéis, latifundiários e o governo que oprimia os menos favorecidos e desprovidos de direitos. Os balaios lutavam por respeito, dignidade, pela vida, contra a escravidão... pela liberdade. Desafiaram o Império Regencial, mas como sempre, nosso estado repressor utilizou da força militar para massacrá-los. Restou em nosso meio a história de coragem dos caboclos rebeldes que deram os primeiros passos dessa batalha que se trava até os dias de hoje. A reunião foi proveitosa, no espaço de muitos encontros e eventos organizado pelas entidades de apoio ao movimento social, local esse que me refiro é o “Salão do Centro Diocesano de Brejo” – Seminário Santo Antonio. Em suas paredes estão mensagens de eventos e frases de solidariedade à nossa luta, a que mais me chamou a atenção foi o cartaz da Campanha da Fraternidade 2017, com o tema: “Biomas brasileiros em defesa da vida”. O evento terminava com as frases ecumênicas e românticas do Bispo D. Valdeci, que apelava para a organização dos trabalhadores, dos menos favorecidos, sustentando teses que lia na bíblia e contextualizando nas vivencias do dia-a-dia. Suas palavras e a experiência da coletividade nesta luta renhida travada desde séculos remotos é “O que enche nossos sonhos de esperanças no chão de luta em que vivemos”.  

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