No
 dia 9 de outubro o decreto presidencial 8.852 extinguiu  o programa de 
Desenvolvimento MATOPIBA (Maranhão-Tocantins-Piauí e Bahia). Ontem o 
Ministério da Agricultura enviou um de seus assessores para participar 
da Audiência Pública, realizada no Senado, presidida pela senadora 
Regina Souza (PT-PI). Ele se esmerou em  demonstrar as benesses que esse
 mega projeto no cerrado trará para a população local, o Estado e o 
país.
A
 representante da Comissão Pastoral da Terra-CPT, iniciou seu depoimento
 mostrando as contradições e a  falácia das afirmações de que o projeto 
MATOPIBA estava extinto, conforme informações oficiais. “A explanação do
 sr. Eduardo é um desmentido da falaciosa afirmação de que esse mega  
projeto de expansão da frente agrícola em na maior parte do cerrado, 
está extinto.” Citou várias iniciativas em curso, que provam o 
contrário: ele já vem   efetuando nas últimas décadas e representa da 
continuidade de um projeto de desenvolvimento  predador e nocivo às 
populações tradicionais e comunidades de pequenos agricultores que vivem
 há décadas. 
No
 decorrer das três horas de audiência, com a exposição feita por oito 
representantes das populações atingidas, cientistas e entidades de 
apoio, Ministério Público  e do representante do governo foram sendo 
elencados inúmeros dados sobre o projeto e as consequentes violências e 
violações dos direitos humanos e étnicos das populações atingidas. Ao se
 referir à intensa destruição da natureza, com a política da terra 
arrasada, dos correntões implacáveis e dos piscinões exaurindo os 
lençóis freáticos, poluindo os aquíferos e contaminando as águas,  
secando rios e riachos, com os desmatamentos das nascentes e matas 
ciliares uma das depoentes  assim se referiu a esse quadro de proporções
 dantesca, que irão se agravar com a execução do referido projeto “ a 
natureza não sabe se defender, mas sabe se vingar”.
Foi denunciado a politica colonialista presente em semelhantes projetos, marcada por intensa violência e criminalização. 
Foi
 feito menção ao índice de violência registrado no relatório de 
Violência no campo, elaborado pela CPT que indica o dado gritante e 
perverso de quase  um assassinato por semana, no campo.
Gercilha
 Krahô denunciou os impactos malévolos do agronegócio que está se 
desenvolvendo ao redor das terras de seu povo, envenenando tudo, a 
terra, os rios e a gente. Apesar de todas essas  agressões e violências 
“nós estamos aqui. Nós vivemos e somos a semente e o broto dessa 
terra... querem tirar a nossa terra. Mas nós não vamos virar alma para 
anda no vento. Todos precisamos da mãe terra, para viver em paz e 
tranquilos.
Representantes
 das populações atingidas e seus aliados mostraram que essa lógica 
perversa que está levando a destruição e morte para as populações do 
campo brasileiro e seus habitantes originários e povos  tradicionais, 
vem  se acentuando nas últimas décadas, em especial com a expansão do 
agronegócio nos últimos anos.
Uma
 representante indígena afirmou “O MATOPIBA  não está morto. Está em 
alguma gaveta por aí”. Izabel Xerente iniciou seu desabafo e denúncia 
dizendo “Esse não é o projeto Matopiba, é o projeto  “Matatudo”.
Foi
 denunciado também essa política de venda de terras a estrangeiros, sem 
limite colocando em risco a soberania do país e concentra a terra cada 
vez mais nas mãos do agronegócio e capital nacional e multinacional. 
Enquanto isso as populações tradicionais e povos indígenas continuam 
sendo expulsos ou vendo seus direitos sobre seus territórios negados.
Ninguém foi consultado
O 
 Procurador da República Felício Pontes ressaltou a importância  desse 
projeto estar sendo debatido em nível nacional uma vez que ele é um dos 
expoentes da  política agrícola implantada pelo agronegócio em todo 
país.
Uma
 vez que esse projeto está sendo implantando sem nenhuma consulta às 
populações atingidas, propõem que essa consulta seja realizada antes do 
projeto ser levado adiante. Isso é um direito  internacional e obrigação
 do Governo, conforme consta na Convenção 169 da organização do 
Trabalho, da ONU. Os povos indígenas, quilombolas e comunidades 
tradicionais, vão fazer ao Ministério Público uma solicitação nesse 
sentido.
Felício
 Pontes destacou três consequências da implantação desse projeto: 
degradação ambiental,  violação dos direitos das populações tradicionais
 e aumento dos conflitos e violência na área do projeto.
Tendo
 em vista a rápida e implacável destruição da natureza e do meio 
ambiente em nosso país, em praticamente todos os biomas, foi sugerido 
que , à semelhança da Amazônia e Mata Atlântica, o Cerrado também seja 
reconhecido como Patrimônio da Humanidade.
Na
 avaliação dos povos indígenas participantes e membros do Cimi regional 
GOTO,  que foram os solicitantes da audiência Pública “Foi muito 
positivo, pois possibilitou nossa voz e nossas denúncias desse projeto, 
serem espalhados pelo país e pelo mundo”.
texto: Egon Heck | fotos: Laila/Cimi
Secretariado Nacional do Cimi
Brasilia, 8 de novembro de 2016
texto: Egon Heck | fotos: Laila/Cimi
Secretariado Nacional do Cimi
Brasilia, 8 de novembro de 2016
 
 
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