segunda-feira, 25 de junho de 2012

CONFLITO DO POVOADO BELÉM NOS ANOS 80


Na década de 80, o grupo João Santos assim denominado, possuia muitas terras no município de Buriti, com isso milhares de pessoa viviam nestas terras.
Para conhecer estes movimentos, Maria Santana Silva, afirma que: no povoado Belém 48 famílias nasceram e se criaram na área, sendo que quem não nasceu morava há mais de dez anos, em 1982 um dos moradores vende toda a área ao grupo João Santos, a partir dai as pessoas que lá viviam passaram a ser obrigadas a trabalharem nos engenhos da empresa todos os anos, deixaram para trás mulheres, crianças, idosos. As mulheres nesse período, sobreviviam do extrativismo do coco babaçu, a empresa pagava baixos salários e só libertava-os pelos mês de novembro, quando não era mais possível cuidar das roças.
Em 1984 as pessoas da própria comunidade sentiram a necessidade de se organizarem e nesse momento os trabalhadores se recusaram a trabalhar nos engenhos, a partir de então o gerente passou a pressionar os trabalhadores que se recusavam a trabalhar para eles afirmando que se não fossem cortar cana teriam que desocupar a área.
Nesse mesmo ano os trabalhadores se reuniram e colocaram 102 linhas de roças, em regime de mutirão, a empresa por sua Vez, colocou um grupo de pistoleiros, impedindo-os de proceder aos tratados culturais e à colheitas, paralelamente a este ato de força, a empresa passou a entrar na justiça com ações de manutenção de posse, em 1985 a empresa conseguiu ganho de causa na justiça, os trabalhadores pediram ajuda das autoridades e conseguiram retardar os efeitos dessa vitória judicial da empresa, o grupo insistiu em mover ações possessórias contra os trabalhadores, para expropria-los dos 2.906 há que ocupavam há gerações.
Em 1992 houve o 1º desejo dessas famílias, mas depois de alguns dias elas retornaram e se estabeleceram nesse período os trabalhadores iniciaram uma verdadeira peregrinação por diversos órgãos oficiais em São Luís e Brasília, como: governador do estado, Contag, ao presidente do INCRA e ao presidente do ITERMA sem êxito.
No ano de 1993, sob a alegação de que as famílias tinham voltado para a área a Juíza da Comarca, Edine Bacelar ordena despejo contra o povoado Belém, as famílias tiveram seus bens destruídos, mas foram acolhidos na “Casa de Convivência” e por lá permaneceram um tempo até que tudo se acalmasse. Quando retornam para a casa, o grupo manda para a comunidade um pistoleiro que espalha o medo entre as pessoas e por lá permanece um ano, os trabalhadores cansados, armaram uma emboscada para o tal, depois disso as famílias fugiram para o meio do mato e lá ficaram durante 15 dias debaixo de sol e chuva.
Ao retornar, três trabalhadores são presos, Raimundo da Conceição Mascarenhas, João Batista dos Reis e Raimundo da Conceição Lima, os quais são humilhados, torturados psicologicamente e fisicamente.
Paralelamente a estes acontecimentos o povoado Cacimba do Boi, também do grupo João Santos, houve lutas entre trabalhadores e empregados do grupo, na qual veio falecer um trabalhador em confronto com pistoleiros, depois desse acontecimento a empresa abandonou as terras, pois já se encontravam devastadas devido a derrubada das palmeiras de coco babaçu, que eram cortados e levados para o beneficiamento em Coelho Neto, com o abandono das terras por parte do grupo , as famílias permanecem na terra, mas a comunidade não se desenvolveu devido a falta de conhecimento das pessoas da comunidade, praticamente analfabetos, o que dificultou o seu desenvolvimento.
Mas nem todos os movimentos da região houve sangue derramado, algumas comunidades conseguiram tomar posse da terra com muitas lutas, mesmo assim não foi preciso pegar em armas para consegui-lo, exemplo disso são as seguintes comunidades, Santa Cruz, Pé da Ladeira e Santa Fé, também do município de Buriti, que conseguiram a posse da terra de forma pacifica.
A comunidade do Belém com a ajuda da Secretaria de Agricultura foi contemplado com o PRONAF A que financiou um projeto de um campo de caju, onde toda a produção é comprada por uma cooperativa que a repassa para a merenda escolar do município. Hoje a comunidade conta com uma mini-indústria de processamento da polpa da fruta, conta também com água encanada, energia elétrica, 25 casas de alvenaria em substituição as de taipa ou adobe, das comunidades acima citadas a do Belém foi a que mais se desenvolveu e está bem organizada, devido as suas lutas pela posse definitiva da terra.
Esses movimentos contribuíram para que as comunidades do Belém se desenvolvessem, a partir do momento em que essas pessoas aprenderam a se organizar para buscar melhor e qualidade de vida e essa contribuição reflete na educação das pessoas do Belém que atende alunos do Pré-escolar até os anos finais do Ensino Fundamental, juntamente com a EJA (Educação de Jovens e Adultos) para aqueles alunos que não o fizeram em idade própria e conta também nas turmas multisseriadas com a metodologia da Escola Ativa.
Esse desenvolvimento é percebido no rosto de cada aluno, na sua forma de expressar-se, de organizar.
Hoje filhos de lideres dos trabalhadores que lutaram no conflito são militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) fortalecendo a luta da comunidade pro projeto, mas isso só será possível com o acesso do camponês à educação através das lutas e movimentos।
http://burititudo-magno.blogspot.com/

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