segunda-feira, 29 de novembro de 2021

os desterrados

Sob certo ponto de vista, as comunidades quilombolas cumprem uma pena de prisão em seus próprios territórios, pena determinada pelo Estado que a qualquer hora pode aumentar o numero de anos da pena, nunca diminuir o numero de anos ou abolir a pena. Os negros foram desterrados para o Brasil, vindos da Africa, e o desterramento nunca desapareceu das suas vidas tanto físicas como espirituais. Vide o caso das comunidades quilombolas de Santa Rita, Itapecuru e Anajatuba que vivem á beira dos campos naturais banhados pelo rio Mearim. Numa analogia superficial, os campos naturais seriam como o sertão que Guimarães Rosa escreveu em “Grande Sertão Veredas”: “O Sertão está em toda parte.” Os campos naturais estão por toda parte. Precisa só pegar a estrada e seguir por entre comunidades quilombolas e tradicionais para poder visualizar. À primeira vista, não há nada, nem uma construção, nem um barco navegando, nem um ser vivente, um automóvel. Nada que se possa tocar e ninguém com quem se possa falar. Entretanto, foram nos campos naturais que inúmeras comunidades quilombolas resolveram se desterrar para escapar das perseguições dos fazendeiros e de políticos em outros tempos. Os quilombolas não eram criminosos, mas era como se fossem. E eles foram para bem longe das ameaças achando que nos campos naturais nada poderia ameaça-los. Nem a fome. Recentemente, alguns fatos fizeram com que mudassem essa opinião. A empresa sino portuguesa EDP aterrou vários quilômetros de campos naturais a fim de erguer uma linha de transmissão vinda desde de um complexo eólico no sul do Piaui a fim de distribuir energia para os portos da baia de São Marcos, nove portos para serem construídos ou ampliados. As obras realizadas pelas empresas contratadas pela EDP afugentaram os peixes da beira dos campos naturais e com isso várias comunidades quilombolas e comunidades brancas pobres não pescam mais nenhum peixe em seus açudes. O senhor Raimundo, filho de santo e liderança do quilombo Monge Belo, município de Itapecuru, sinalizou para a importância do peixe para as comunidades quilombolas: “Os peixes nos alimentam e tambem podemos vende-los gerando renda. Por conta do linhão da EDP, as pessoas que antes pescavam 11 quilos não pescam nada.” Dá pra dizer que as comunidades quilombolas foram desterradas em seu próprio território por causa da obra da EDP e com a conivência da Secretaria de Meio ambiente do Estado do Maranhão.

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