segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Dois medrosos e um governo descomprometido

O que contar primeiro? Para cativar o leitor, melhor contar primeiro o caso engraçado porque em seguida vem o susto. Quem lê engraçado vai logo pensar em comédia e quem lê susto pode pensar em um suspense ou uma historia de terror. O leitor entende como bem quiser. Cabe ao escritor escolher as palavras e enquadra-las da melhor forma. A primeira historia não é uma comédia e sim uma mescla de historia de valorização da cultura em que se pode rir. A comunidade quilombola de Ariquipa, município de Bequimão, recebeu uma das etapas do projeto desenvolvido pelo Moqbeq, movimento quilombola de Bequimão, com apoio do Fundo Socio Ambiental Casa. A abertura da atividade seria feita por dona Beatriz, mãe de santo de um terreiro de tambor de crioula. O convite da organização prestigiava dona Beatriz pe4la posição que ocupava dentro da comunidade de Ariquipa e prestigiava as religiões de matriz afro que sofrem discriminações da parte de setores religiosos conservadores. A convivência com o diferente requer sensibilidade e desprendimento, qualidades que faltam em momentos cruciais. Dona Beatriz saudava os participantes do evento como boa anfitriã. Ao finalizar sua saudação, Dona Beatriz incorpora uma entidade. Nada mais natural, afinal ela é uma mãe santa. A entidade se comunicou com a organização através de Dona Beatriz: “Quem são vocês e o que fazem aqui?” Um disse: “Vai la.””Vai tu”. Os dois ficaram empurrando a obrigação um para outro até que uma hora um deles teve coragem e respondeu a entidade. Bem, eles esqueceram de pedir permissão as entidades presentes no terreiro de mãe Beatriz para a realização da atividade e a cobrança veio alto e bom som. Se você responder direito e quem sabe lhes dar algo que seja agradável, elas se aquietam. As entidades desconfiam daqueles que desrespeitam as tradições que a mãe Beatriz é uma das responsáveis por mante. Deve ter sido difícil para os participantes do evento ouvirem a voz da entidade que difere e muito da voz da mãe de santo. Não é só a voz dos espíritos, é a voz da mata, das águas e do ar, ou seja, da natureza que os espíritos lutam para que se preserve. O governo do Maranhão, nos últimos meses, faz um esforço considerável para acordar as entidades que vivem nas matas das comunidades de Ramal de Quindiua, Santa Rita, Mafra e São Sebastião por conta da construção de uma estrada e de uma ponte que facilitarão o tráfego entre Bequimão e Cedral. Do ponto de vista legal, a obra está completamente irregular porque antes do inicio da obra o governo do Maranhão não consultou as comunidades quilombolas cujos territórios foram impactados pelas obras da rodovia. Só depois que os quilombolas impediram o acesso dos trabalhadores aos canteiros de obras foi que o governo do Maranhão, através da secretaria de direitos humanos e da secretaria de igualdade racial, sentou com os quilombolas para ouvir suas reivindicações. E uma dessas reivindicações e a regularização fundiária das comunidades afetadas pela rodovia e pela ponte. O governo se comprometeu com as demandas para atender rapidamente. Os quilombolas aguardaram o máximo que puderam sem que o governo atendesse o acordado. Não tiveram outra escolha: fecharam outra vez o ramal. As secretarias de direitos humanos e de igualdade racial se viram obrigadas a retornarem as conversações com as comunidades quilombolas para que o cronograma das duas obras não atrasasse o maior temor dos políticos. Parece que dessa vez a regularização fundiária das comunidades quilombolas de Ramal de Quindiua, Santa Rita e Mafra se desenroscca porque compõem um pacote anunciado pelo governo de regularizar os territorios de 30 comunidades quilombolas de todo o Maranhão. Será que vai?

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