sábado, 23 de maio de 2020

Saltar no tempo

Em que medida a conversa o inspirara? Ela nem o convidara para o almoço. E nem se convidasse, ele aceitaria. Não por falta de educação ou por ser mal educado. Simplesmente, dispensava camarão. “Adorava camarão. É meu lado tutoiense”, dizeres dela. Vez ou outra, a pessoa vem com esse achado antropológico cultural “ é meu lado...”. Ele nascera em São Luis e em sua mais remota lembrança nunca fora muito de praia. Comer uma pescada frita e beber uma cerveja, resumia o “seu lado praieiro”. O final da conversa o motivou mais: “Eu sou moura.”  Os antepassados dela carregavam  sangue mouro e se converteram ao catolicismo para não serem queimados pela inquisição portuguesa. Sentiu um ímpeto de perguntar: o que levou a família de tua mãe sair de Portugal e morar em Tutoia.  Sabe-se de inúmeras famílias maranhenses que se originaram da união de pessoas provenientes de países periféricos da europa e países do oriente médio com nativos. O que Tutoia, no começo do século XIX, tinha de atraente para uma família de portugueses recém saídos de Portugal? Quis saltar no tempo e no espaço para que pudesse assistir a chegada deles e de outros imigrantes em Tutoia e outras vilas litorâneas acanhadas de parcos recursos do Maranhão.

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