quinta-feira, 28 de maio de 2020

As cronicas literario musicais de Aldir Blanc

A morte de Aldir Blanc fez com que descobrisse o talento dele para escritor de crônicas. Acreditava que o seu talento dependia somente das composições musicais em parceria com João Bosco, Moacyr Luz e tantos outros. Leu duas crônicas (dois contos?) que comprovariam a qualidade da sua arte. Fica a pergunta: por que não se descobriu esse lado de Aldir Blanc antes de sua morte? A capa do disco 50 anos em que ele aparece sentado e onde se vê a perna de Luiza Brunet esticada a sua frente veio a sua memoria por alguma razão que não saberia explicitar. Quis lembrar a revista musical onde leu a critica do disco e onde presenciou a capa esplendida. Quis lembrar muito quem escrevera a critica e a fundamentação dessa critica. Talvez tenha sido a Bizz, a revista mais comercial a cobrir o cenário da musica brasileira. 
Não resta dúvida. Qualquer referencia a Aldir Blanc passa pela musica ( o que veio a ser a musica popular brasileira na década de 70). A literatura esteve presente na sua vida pela via da crônica ou do conto, como se ve em seus livros, mas, primordialmente, o seu apelo literário maior é entregue nas letras musicais. A qualidade inquestionável das suas letras obriga o ouvinte a notar e a compreender os sentidos expressos e os sentidos inquietos (ou quietos) que se revelam no texto. O texto se revela quieto, uma quietude que não se apavora no ato de escrever. A inquietude do texto jorra quando ele rompe o fecho. 
Para muitos, nada mais “ultrapassado” que analisar a realidade social brasileira tendo em mente a obra de Aldir Blanc ou quem quer que seja. As letras musicais (alguém ainda escreve letras musicais?) de Aldir se estruturam na presunção de que o brasileiro se relaciona com a realidade sempre tendo em vista a musica.  É a música que organiza o movimento “eu organizo o movimento, Tropicália, Caetano Veloso”; contudo no caso de Aldir a musica organiza o pensamento que desencadeia o processo literário. O processo criativo de Aldir em termos literários musicais necessita se basear na crônica porque historicamente a musica (o samba) e a crônica nasceram na mesma época (final do século XIX e começo do século XX) e desempenharam papeis semelhantes na historia social do Brasil. Por vários motivos, a musica (o samba) se sobrepôs a crônica como forma de obtenção de conhecimento da realidade por determinados setores. A obra de Aldir Blanc é uma recomposição entre musica(samba) e crônica literária sob o prisma dos anos de chumbo. 

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