domingo, 22 de dezembro de 2019

Soja em Buriti de Inácia Vaz: um divisor de águas



Um conhecido falou do projeto do seu pai em uma conversa casual em meio a tantas conversas casuais. Não restou nenhuma recordação das demais conversas casuais (o conteúdo delas) e não restou nenhuma recordação de como essas conversas se iniciavam e com quem travava esse tipo de conversa propensa ao esquecimento. A conversa do projeto não cairia no esquecimento.  Quem saberia dizer o porquê? Algum dispositivo secreto da memória guardou a por quase dez anos em algum recinto fechado. Ela (a conversa) não representava nada de especial para o conhecido. Ele se achegara ao grupo por transparecer simpatia e por querer ser simpático com uma das moças ou com todas as moças. Uma conversa rolava entre eles antes da sua chegada. De alguma forma, a conversa permitiu a ele que tocasse no nome do seu pai e no seu projeto pessoal. O pai fotografava e planejava publicar um livro que retratasse com fotos a situação atual do município onde nascera e onde erguera parte de sua vida pessoal. Depreendia-se pela conversa que o fotografo corria contra o tempo. Quem sabe, poderia auxilia-lo, afinal necessitava de alguém para escrever o texto que serviria de legenda a cada foto. O município em questão: Buriti de Inácia Vaz. As fotos: capturavam imagens da natureza e da destruição do Cerrado causada pelos plantios de soja. Não pensou duas vezes e pediu o endereço do pai-fotografo. Ele residia no Caiçara, prédio da rua Grande, principal rua comercial do Centro de São Luis.  Mudara-se havia muito tempo para São Luis, justamente num momento de modernização social e econômica da cidade e isso significava destruir o que tivesse pela frente e o que tivesse ficado à distância. Habitua-se com a destruição e com a reconstrução da memória (o passado não pode ser destruído). A fotografia promete ocupar com imagens o vazio deixado pelo processo destrutivo despertado e desencadeado pelo capitalismo.  O fotografo mostrou algumas fotos do município de Buriti naquele momento crucial para a sua cidade, começo dos anos 2000, em que os plantios de soja ocupavam as Chapadas. A soja representaria um divisor de águas para a sociedade buritiense. Dali em diante, nem as Chapadas e nem as águas de Buriti seriam mais as mesmas.   


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