quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

A frente do povoado

Antes ninguém se tomava pelo outro. Poucos sabiam redigir os nomes de lugares tão calmos e tão puros. Os caminhos, quase sempre, carregavam a solidez da solidão. Que horas o povo virá buscar o de comer? Não se envergonhem; abram as panelas, peguem os pratos e colheres e comam sem pena. Todos nesta casa comeram o suficiente para aguentar o dia. A senhorita cozinhou esse de comer tão simples e tão bom que não se quer mais nada. Ela acordara bem cedo para arrumar a casa. Assistiria a partida do pai para a sede do município e assistiria a partida da mãe para a casa do tio. A manhã exigia urgência nos propósitos das pessoas e exigia incerteza no horário da volta.  O pai se mantinha firme a frente da associação de moradores do povoado.  A frente do povoado (vegetação nativa) se mantem como uma barreira natural que protege os moradores do povoado dos impactos causados pelos plantios de soja (agrotóxicos e poeira). A associação do povoado disputa a frente do seu território com grileiros e sojicultores, cerca de 100 hectares os quais foram requeridos para regularização ao órgão fundiário do Estado em nome da associação. Os 100 hectares requeridos pela associação nem se comparam em tamanho às fazendas de soja que ocupam diversos quilômetros quadrados da área do município de Brejo. Os caminhos mantidos pelos sojicultores destoam completamente do caminho mantido pela prefeitura de Brejo e que passa por diversas comunidades da zona rural do município. Os dos sojicultores são corrigidos enquanto o da prefeitura é só pedra. Para se chegar as comunidades de Pacoti e São Raimundo, é preciso percorrer os caminhos abertos pelos sojicultores e perguntar aos motoqueiros apressados a que altura do caminho se deveria trocar de estrada.  Quando visse um cemitério seria o momento de virar a direita. Então, só a visão de um cemitério faria o caminho se endireitar saindo dos plantios de soja para se chegar as comunidades tradicionais e quilombolas de Brejo.
Mayron Régis

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