terça-feira, 12 de dezembro de 2017

cem anos de solidão

Ele não se tocara para o nome Matinha dos Helenos. Nem passou por sua cabeça perguntar o porque do nome ou se os moradores daquela comunidade descendiam da grécia antiga.Só a localização exata molestava a sua curiosidade. Por certo que não se ve pilastras ou estatuas como as vistas em Atenas ou outras cidades gregas. A civilização ocidental no baixo parnaiba maranhense festeja o conhecimento tecnico cientifico que sobrepujou o conhecimento filosofico e artistico das civilizações tradicionais. Uma das formas de festejar é doar quilos de feijão contaminados por agrotoxicos as comunidades que vivem no entorno dos plantios de soja. As comunidades de Anapurus e Brejo provaram desse beneficio doado pelos "gauchos".  O nome Matinha dos Helenos faz uma ligação entre o que se ansiava para as comunidades ( o ideal) e o que se conquistou definitivamente para essas mesmas comunidades ( o real).
Pintou a oportunidade de visitar a Matinha no começo de dezembro de 2017 após o Tomé e sua esposa marcarem um almoço tantas vezes adiado. Confraterniza-se-iam com os familiares que moravam  proximos a eles ( comunidade do Marajá) e vizinhos não tão vizinhos ( povoados de Carrancas e Areias). Sobre a Matinha, sabia-se que ela beirava o riacho Feio; que se criava bode; que os plantios de eucalipto comeram partes das Chapadas; e que ninguem sabia onde era. Numa situação dessas, quem assumiria o papel de guia? O Vicente de Paula, agricultor de Carrancas, viajaria para Parnarama dias antes do almoço e não retornaria a tempo. Arrumar-se-iam, então, com o Ataliba, agricultor das Areias e vizinho do Vicente, que se notabilizou por cortar madeira com presteza em favor dos vizinhos que necessitavam. Ele cortava madeira, carvoejava, criava peixe á beira do rio Preto e , por incrivel que possa parecer, intencionava cultivar uma horta. Não é todo dia que se ouve da boca de um agricultor um proposito desses. O Ataliba venderia os produtos da horta em Buriti, Coelho Neto, Duque Bacelar e etc. Assim planejava. Com relação a Matinha dos Helenos, não tinha certeza do percurso completo. Não era uma vaga ideia e nem uma ideia cheia. Ate a Santa Luzia não restava duvida. Dali em diante, o negocio pegava. Um pouco antes de entrarem no carro, o seu Zeca Barro, presidente da associação das Bicas e consertador de geladeira, parou a sua moto no terreiro do Vicente. O Ataliba disparou: "Nós dois nos complementamos. Eu sou das Areias e ele é das Bicas." O seu Zeca Barro deu algumas informações a respeito da Matinha. Nos primeiros minutos dentro do carro, Ataliba  e dona Rita, mulher do Vicente, falaram de filhos. Ele admitiu que viveu sua juventude querendo mandar seu pai se lascar, mas que agora ve o quanto se enganou nesse tocante. Essa reflexão se deve em parte ao fato de que mora sozinho na Chapada. A sua filha, que ficara cuidando dos avos, mudara-se para a casa dos sogros.
O Ataliba se mostrava um narrador de primeira qualidade pelos caminhos entre as Chapadas. "Bem aqui, nessa baixa (propriedade do senhor Gilson) nasce o riacho Feio."" O Duda vive nesse pedaço de terra a esquerda." A Santa Luzia era o local de morada do Duda e pela qual ele requeria a regularização fundiaria no Iterma o que impediria os "gauchos" de dominarem a área. O ministerio publico de Buriti recebeu documento do Iterma que sustenta a inexistencia de qualquer documento referente a Santa Luzia ou seja é terra publica. 
 Estava muito diferente o trecho depois da Santa Luzia que os levaria a Matinha dos Helenos. Ataliba passeara por ali num tempo de vegetação nativa abundante. Os eucaliptos apagaram esse tempo. Eles captavam a luz do sol  e absorviam a água do lençol freatico. O seu crescimento impressionava pela altura que alcançavam. O carro seguiu a reta. Nos plantios de eucalipto tudo é reta. Para entrar na vegetação nativa do Cerrado, voce se insinua por caminhos nem sempre previsiveis. "Aqui e Matinha dos Helenos ?". "Não aqui é Cafundo". Voltaram.  "A casa do Tomé está longe?"" Voce vai descer uma ladeira, descer outra ladeira e depois subir uma." Não seguiram as orientações e pararam no final da Matinha dos Helenos, mas não a Matinha desejada. A Matinha do Tomé estava mais adiante. A cada casa a beira do caminho procurava-se algum sinal de carne de bode. O temor era que não tivessem esperado para almoçar. Por fim, num beco sem saida, a casa do Tomé, a casa de farinha e o cercado dos bodes no morro foram vislumbrados. A sensação de secura oprimia. O leito do riacho Feio se empanturrara de areia com o fim do inverno.
A esposa do Tomé servia o bode guisado enquanto ele mostrava a propriedade e informava a quantidade de bode que vendera. Recomendou a dona Rita que comprasse um sal em Chapadinha. "Só esse sal alimenta os bodes e as cabras." O  Tome e sua esposa resolveram criar caprinos após o inusitado. A  esposa do Tomé vira uma cabra no morro e pensara que fosse coisa do demo. Custou a acreditar. Trouxe a cabra para a sua casa e esperou aparecer o dono. Aparecia um querendo saber da cabra mas sem ser o dono. Decidiu ficar com a cabra. Foi uma benção de Deus, dise ela. Esses são os Helenos da Matinha. 
mayron régis

             

Nenhum comentário:

Postar um comentário